Carvões de natal em forma de decepções.

340 40 7
                                    

Regras não são para todos.

Capítulo 18.

Relembrar é viver:

“...O natal seria em dois meses. E eu não estava pronta para passá-lo sozinha ou na fraternidade.

O observei desaparecer. Quanto mais o tempo passava mais meu coração se apertava. Ele viria. Eu tinha certeza.

-Misoo? - era ele. A voz melodiosa explodiu meus sentimentos.

-JungKook! - sussurrei quase sem fôlego.

Era ele…”

A passos rápidos ele se aproximou, segurava um papel na mão e lágrimas escorriam de seus olhos.

Seus braços rodearam a minha cintura e eu afundei minha cabeça na curvatura de seu pescoço sentindo seu cheiro.

-Pode me explicar isso? - jogou o papel na minha direção. Eu tentava controlar a explosão de sentimentos que estava dentro de mim.

Abri-o era uma carta de admissão na faculdade pública da Coréia, com meu nome. Franzi as sobrancelhas não entendendo, de onde esse papel havia saído?

-Eu não faço ideia…

-Não me ama mais, é isso? - soluçou, eu sentia meus batimentos nos ouvidos.

-Eu te amo com todas as minhas forças idiota… não sei onde…

“-Misoo, correspondência pra você! - papai gritou lá de baixo. Corri animada esperando que alguma delas fosse de uma faculdade.

Quando desci ele ainda as separava. Peguei as que ele deixou sobre a mesa.

-E essa aí? - questionei vendo-o encarar uma carta fixamente. Appa parecia nervoso.

-É pra mim! - e desapareceu na cozinha.”

-Desgraçado…- praguejei. - como pôde?

-Eu? Misoo você tem ideia do que está falando?

-Não posso ir pra Busan… - sussurrei. O Jeon estava pálido e não entendia nada. - me leve pra casa agora! Tenho que resolver uns assuntos pendentes! - ditei. JungKook sorriu e me abraçou.

Suspirei, tentando me acalmar, eu não conseguia acreditar que meu pai havia feito isso.

Meu garoto pegou as malas e corremos para fora da estação.

As janelas da casa estavam abertas, e uma fumaça saía pela chaminé antiga, parando para olhar nossa casa é bonita e grande, mas realmente antiga.

Assim que entrei, com JungKook no meu encalço, ouvi uma voz aguda. Camila.

Paralisei e Munique também. Ela riu, como se eu fosse uma piada, e talvez eu fosse.

-Pai… acho que você tem visita. - gritou sarcástica, o MEU pai apareceu sorridente. Mas assim que me viu, ficou pálido.

Segurei a carta de admissão e me aproximei.

-Que merda é essa aqui? - apontei para a casa, me referindo a algazarra em que estavam Camila e Munique. - E essa merda aqui? - chacoalhei o papel.

-É… Munique vai refazer o terceiro ano em FoxOrd… o diretor Lee permitiu. E como você vai embora, achei que não tivesse problema. Mas, o que é isso em sua mão? - sorri sarcástica e entreguei a folha. Ele leu e engoliu em seco. - sei que JungKook é um bom rapaz, mas não queria que desistisse de seus sonhos por causa dele, por isso escondi a carta, mas assim que vi o que tinha feito coloquei a carta na gaveta da escrivaninha…

-Foi onde eu achei… - JungKook sussurrou.

-Pai? Como pôde? Queria se livrar de mim, também? - solucei, eu estava acabada e iria chorar. Por que ele estava me magoando mais? Meu pai realmente era assim?

-Você me lembra sua mãe…

-Então por isso é melhor me mandar embora e adotar uma filha e uma mulher nova? - as lágrimas começaram a escorrer.

-Você estava longe, não queria mais conversar, não demonstrava sentimentos, era minha culpa, você era pequena e eu te deixei de lado porque estava com depressão e precisava me cuidar, mas e você, o que eu fiz...

-Eu reencontrei minha mãe. Ela veio atrás de mim no dia da minha formatura, ah, você não estava lá, estava com sua família verdadeira no Brasil. - limpei as lágrimas. Respirei fundo. Talvez eu fosse a errada? Não, meu pai era.

-Misoo, me perdoe. Falhei com você em todos os sentidos. Queria ser um pai melhor, mas não consegui, não sou suficiente para nada, nem sua mãe me quis. Sou inútil! - congelei, ele começou a chorar, a última vez que tinha o visto assim foi há 10 anos.

Corri para fora de casa, eu não ia aguentar ver aquilo.

-Misoo me perdoe. - ele gritou, engasgando com as lágrimas. JungKook me abraçou e eu tapei meus ouvidos.

Vi a noite chegar e desaparecer, JungKook entrar com macarrão instantâneo quentinho e sair com ele frio.

Haviam passado dias, não sei quantos, mas eu realmente estava mal.

Queria entender o porquê de tudo estar sendo assim. Eu fui uma menina má e agora estou recebendo meus carvões de natal em forma de decepção?

Sorri ao lembrar das cinco fases do luto. Estava na hora de relembrá-las?

Fase 1) Negação: eu neguei que tudo isso pudesse estar acontecendo. Meu pai ter me mandado embora, minha mãe ressurgido das cinzas. Eu ser tão irracional a ponto de fugir quando meu pai precisava.

Fase 2) Raiva: eu quis matar meu pai, quis matar minha mãe, quis matar Munique e quis matar JungKook. Conclusão: eu fui racional pela primeira vez e não fiz.

Fase 3) Barganha: quis negociar com os deuses, eu prometi ser uma menina melhor se eles me dessem uma vida melhor, e não funcionou.

Fase 4) Depressão: chorei feito uma desgraçada, eu não tinha mais água no corpo mas chorava. Até que parei, não tinha mais motivos e nem conseguia mais. Era em vão.

Fase 5) Aceitação: ainda não cheguei nessa, novamente. Maldita aceitação, nunca consigo vencê-la.

JungKook entrou no quarto, trazendo um pacote de salgadinho e refrigerante. Talvez fosse a hora de começar a aceitação.

-Kookie, está afim de transar? - questionei sem graça. O Jeon se virou de olhos arregalados.

-Quê? A-agora? - deixou as coisas sobre a cama e tirou rápido a camisa. Coloquei o dedo no queixo, pensativa.

-Não, isso não vai resolver… - suspirei. JungKook riu e franziu as sobrancelhas.

-Okay Misoo o que está acontecendo? - questionou. Me levantei rápido. Tirando a roupa e abrindo o armário.

Peguei um shorts e uma camiseta os colocando rápido. Ocupar a cabeça era a melhor opção. Arrumei meu cabelo e passei um BB cream.

-Como estou? - girei na frente do Jeon. - apresentável?

-Está linda, mas ainda não estou entendendo… - coçou a nuca fazendo aquela carinha de bebê desentendido.

-Ah seu bobinho. Nós vamos fazer as compras de natal! - joguei a camisa pra ele e saí do quarto.


Regras não são para todos. Onde histórias criam vida. Descubra agora