Mamãe abriu a porta do quarto, os gritos altos podiam ser ouvidos do outro lado do quarteirão tranquilamente. Atordoada, abri os olhos. Ela caminhava até a janela, abrindo tudo o que tinha direito para que a claridade entrasse no meu quarto e chegasse até eu. O que aconteceu com essa mulher?
Me sentei na cama, ouvia ela reclamar e balbuciar palavras que eu não prestava atenção - e quando tentava, era tudo desconexo. Mamãe jogou minhas cobertas no chão, ainda reclamando; desta vez era da bagunça do meu quarto, a que ela mesma tinha feito e agora jogava a culpa em cima de mim.
- Lucie Marìe Carpentier Black, você tá me ouvindo?
- Sim, claro - balancei a cabeça, tentando passar mais confiança em cima da minha mentira.
- Já olhou as horas, Lucie?
Franzi o cenho, não era nem seis. Meu relógio não tinha despertado, e isso significa que eu sei que horas são. Ou não. Olhei para o lado. Meu despertador não estava ali. Nãonãonãonão. Puxei o celular do carregador e o liguei, a primeira coisa que apareceu na tela foi as horas. Sete e trinta e três.
Estou atrasada.
- Ótimo, Lucie Marìe. Ótimo! - Mamãe voltou a reclamar. - Segunda semana de aula e você já se atrasa... levanta daí, garota! Se eu voltar aqui e você ainda estiver sentada nessa cama, vai ficar de castigo.
E saiu batendo os pés. Apesar de ela ser uma mãe calmíssima, mamãe nunca pegou leve quando o assunto é estudo - principalmente comigo e meus atrasos.
Levantei rápido e fui pro banheiro me arrumar. Hoje o dia seria mais focado nas audições para a peça de teatro que vai ter no final do ano letivo, iríamos passar o dia todo dentro do auditório. Vesti uma legging preta, com um body e uma botinha da mesma cor. Por cima um casaco e levei a escova pra pentear o cabelo no carro.
Desci correndo as escadas, mamãe estava me esperando no carro já. Quando entrei no veículo, a primeira coisa que eu notei foi a sua cara emburrada.
- Desculpa - falei segurando o riso.
Ela só concordou e arrancou o carro.
Chegamos na escola rápido, mais rápido do que normalmente. Me despedi dela com um beijo na bochecha e um aceno e saí correndo para o auditório.
Eu me sentia o próprio Usain Bolt, correndo uma marota em que o prêmio seria chegar ao auditório sem cair ou ter algum ferimento grave. E eu estava bem, na verdade. Até eu sentir um corpo se chocar com o meu, fazendo-nos cair.
- Desculpa, eu não tinha te visto... Lu?
Olho pra cima e vejo Noah já em pé, a mão direita estendida para que eu pegue e levante. Entrelacei nossas mãos e me levantei, ele fez uma força pequena para me ajudar na ação.
- Noah, oi.
- Desculpa, Lu. Você se machucou? Tá tudo certo? - Ambos olhamos para o meu corpo, procurando algum vestígio de machucado. Não tinha nada.
- Tá tudo bem - sorri -, você tá bem também?
Ele se analisou, da mesma forma que eu tinha feito segundos atrás. Me deixei olhá-lo. O rosto. O abdômen. Os braços. As pernas. As roupas. Tudo. Me permiti analisá-lo da mesma forma que ele fazia, talvez com mais malícia no olhar e mais vontade.
Nossos olhares se cruzaram e eu senti a mesma coisa de quando estávamos no meu quarto. Me sentia queimar lentamente, mas era algo tão bom que eu não queria que acabasse nunca.
- Tô bem. - Começamos a caminhar em direção do auditório. - Atrasada também?
- Sim - rimos. - Indo fazer a audição também?
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Who Would Think of Our Love ~ Noah Urrea
FanficOnde Lucie, uma adolescente normal como qualquer outra de Los Angeles, começa a ter sonhos com um desconhecido, que, eventualmente, viria a ser seu par de física.