{FOURTEEN}

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Vernon segurou minha mão, enquanto eu engolia em seco. Nós quatro nos entreolhávamos, o desespero era palpável naquele corredor. A única coisa audível ali eram nossas respirações, irregulares, pesadas e cheias de medo.

O silêncio ensurdecedor foi quebrado pela presença de passos no início do corredor. O chão e as paredes tremiam, e o enorme lustre de cristais que havia acima de nós despencou, estraçalhando-se à milímetros de Seungkwan, que gritou com o susto. Procurei por Soonyoung, que não estava ali naquele momento.

— Soon? — chamei-o. O medo de tudo aquilo que acontecia era enorme, mas o medo de ficar sem ele era maior ainda. — Soon? — gritei. O menino me assustou, aparecendo atrás de Seungkwan. Os dois deram as mãos, e o Boo juntou-se a mim e Hansol, e ficamos os quatro agarrados, atônitos, desesperados.

À medida que o som se aproximava, a tensão em meu corpo crescia proporcionalmente. Eu olhava para todos os lados, tentando achar a origem daquilo, porém sem sucesso. Parecia vir de inúmeros lugares, mas não vinha de nenhum deles. Meu corpo se arrepiou inteiro quando o som do andar parou.

— Jihoonie — pude ouvir uma risada. Seca, rude e medonha. — Cadê você?

Virei a cabeça lentamente em direção à voz e então eu finalmente a visualizei claramente. Seus longos e ondulados cabelos ruivos, esvoaçavam enquanto ela andava. Sua pele branca como a neve, misturava-se com a escuridão do cômodo de luz fraca. Os olhos, pretos como a noite, faziam aquilo se tornar muito mais sombrio. Quanto mais a olhava, mais arrepios na espinha eu sentia. De algum modo, ela fazia barulho quando andava, mas seus pés eram invisíveis. A cada passo dado pela mulher, meu coração palpitava e a minha respiração ficava cada vez mais forte. E do mesmo jeito que a vi, ela me viu também.

Ela começou a se aproximar rapidamente de nós com um sorriso macabro. Buscando alguma saída dali, virei para a mulher do espelho, ansiando por ajuda. Ela me encarava, inúmeras lágrimas desciam de seus olhos e seu rosto expressava o mais puro desespero, até mais que o meu.

E olha que achei que isso era completamente impossível.

Olhei-a à tempo de ver a mesma sibilar "fuja" enquanto um clarão, branco e ofuscante saía de suas mãos. Posicionou as mesmas na parede, e ela começou a rachar enquanto feixes de luz saíam das rachaduras, indo direção à mulher ruiva, que começou a rir ainda mais. Eu estava surtando, a vontade de tampar meus ouvidos e gritar até ficar sem voz era gigante, mas eu não conseguia fazer uma simples ação. Nada. Eu estava totalmente paralisado, minha mente gritava para eu correr, mas meu corpo não respondia.

— Você por aqui? Patético. Eu sou mais forte que vocês, e nada mudará isso. Nada! — fechou os olhos, e quando abriu-os, estavam vermelhos como sangue. O ar começou a pesar ao passo que uma nuvem negra se formava em volta da figura pálida. O choque passou e agarrei a mão de Vernon com mais força e saí correndo dali. Desci as escadas sentindo meu corpo todo tremer e minha garganta secar.

A aura que se instalava naquela casa me consumia aos poucos, forçando-me a parar de correr e me apoiar na parede. Meu estômago começou a embrulhar, minha garganta fechando e eu mal conseguia respirar. Minha visão foi ficando turva e tudo o que eu conseguia ver, eram diversas almas saindo pelas paredes, tentando nos alcançar. As vozes começavam a surgir, deixando-me ainda mais confuso.

As lágrimas começaram a descer e senti minha perna ser agarrada por uma das almas, que sorriu para mim. A região começou a queimar e com isso, eu gritei. Suas mãos eram quentes como brasa e queimavam minha pele com facilidade, e eu sentia como se fosse pegar fogo a qualquer momento. Porém, como mágica, tudo passou. Minha cabeça ficou em branco.

Eu não sentia mais dor. Não escutava mais vozes. Não via mais almas. Tudo que eu sentia era meu corpo sendo puxado para frente, minhas pernas andando e o vento gélido da madrugada, bater em meu rosto, secando minhas lágrimas. Finalmente conseguia respirar melhor e o desconforto ia passando aos poucos.

Voltei a realidade quando estávamos na esquina da casa de Hansol.

— O que houve? — perguntei confuso. Observei em volta; estávamos sozinhos num beco escuro. Vernon ainda segurava minha mão, enquanto Soonyoung e Seungkwan estavam encostados na parede, recuperando o fôlego.

— Um demônio te agarrou. — Vernon soltou minha mão e passou a mão pelos cabelos. — Kwannie, liga para o Joshua. Ele vai saber o que fazer.

— Por que vocês querem ligar para ele? — estava ainda mais confuso. Minha cabeça parecia que ia explodir de tantas perguntas e a dor na minha perna aparecia gradativamente. Olhei para a área, que ficava mais vermelha e ardida a cada segundo.

— Longa história. Depois explicamos. — encostou na parede e fechou os olhos, respirando fundo. Soonyoung se aproximou de mim e me deu um abraço forte, preocupado.

— 'Tá tudo bem com você? — sussurrou fazendo um carinho singelo em meus cabelos.

— Sim, só a minha perna que está doendo. — abracei-o de volta, com um sorriso pequeno e sôfrego.

— Eu deveria ter te protegido. — senti o Kwon respirar fundo, e ouvi uma pequena fungada. A culpa não havia sido dele. Ninguém teve culpa além daquele demônio.

— A culpa não foi sua, Soon. Eu nem estava perto de você na hora, fica calmo. - sorri de leve. — 'Tá tudo bem. — era uma clara mentira, e todos nós sabíamos, mas preferimos ignorar. Estava morrendo de medo, de dor, minha cabeça latejava e eu sentia vontade de chorar.

Ele me abraçou mais forte, e o aperto que dava no meu coração aumentava a cada segundo. As lágrimas começaram a se formar em meus olhos, e eu engolia o choro a todo custo, enquanto tentava passar uma falsa confiança e tranquilidade para Soonyoung.

Por que eu sempre faço as pessoas se sentirem culpadas?

— Joshua está vindo. — avisou Seungkwan enquanto guardava o celular. — quando ele te explicar, tudo fará sentido. Prometo. — sorriu abertamente.

Respirei fundo, tentando me recompor.

Será uma longa noite.

The Destiny ChildOnde histórias criam vida. Descubra agora