— Tinha uma rachadura… No espelho. — sussurei com o olhar perdido. A sala ficou em silêncio e a atmosfera parecia pesar em cima de mim. Todos me olhavam com pavor nos olhos, menos Joshua que mantinha seus olhos fechados. Minha respiração começou a acelerar, meu corpo tremia e só conseguia pensar em uma única coisa:
A culpa é minha.
A mãe de Vernon havia morrido. E a culpa era minha. Toda minha. Meus olhos ficavam úmidos ao passo que o ar parecia não entrar em meus pulmões. Puxava o oxigênio para dentro com força, porém tudo que sentia, era a ardência em meu peito aumentar. Minha boca secou e minhas mãos trêmulas ficaram molhadas de suor. Meus olhos transbordavam de lágrimas, que deixavam uma sensação fria em minhas bochechas. De repente, a sala começou a rodar e, minhas mãos, a ficarem dormentes, assim como minha boca, que sussurrava palavras desconexas.
— Jihoon? Está tudo bem? — olhei em direção a voz que parecia mais distante a cada segundo. Meus olhos se fechavam, mas eu fazia força para mantê-los abertos. Hansol sentou ao meu lado ao ver meu estado e Seungkwan foi pegar um copo de água, enquanto os outros ainda me olhavam, porém o pavor se transformou em preocupação. Em um ato de desespero, segurei a calça do uniforme e cravei minhas unhas no meu joelho.
— A culpa é minha, é toda minha. — as palavras eram cortadas pelos soluços, enquanto olhava Vernon com desespero. O mesmo segurou em minhas mãos e de repente, tudo desapareceu.
FLASHBACK ON
Estava claro. Muito claro. O som de pássaros e risadas de crianças eram um dos muitos sons daquele lugar. Abri meus olhos e me vi em um parque de diversões. Havia diversas crianças correndo, comendo, brincando. Olhei para os lados e sorri, porém, algo me chamou atenção. Algo não, alguém. Era uma criança, nos auge dos seus 5 anos, que comia um algodão doce, puxando sua mãe para um dos brinquedos. O menininho sorria para tudo e todos, mesmo com a sua falta de dentes frontais, que o deixava ainda mais fofo.
Eu o conheço de algum lugar.
A pequena criança se soltou de sua mãe, correndo em direção à roda gigante.
— Vernon, querido, não corra. — tomei um susto e me virei rapidamente, olhando a mais velha com atenção. Sabia que já havia os visto antes.
Então, estou na mente de Hansol.
Deixando isso de lado, acompanhei os dois pelo parque até o pequeno cansar, sentando-se em um dos bancos, enquanto se lambuzava de sorvete. Sentada ao seu lado, havia uma garotinha que encara o doce com vontade. O tão amado sorvete caiu no chão e logo, Vernon começou a chorar. Sua mãe suspirou e se levantou para comprar mais um, sabendo que o berreiro do filho não terminaria tão cedo.
— Oi, meu nome é Park Seunhee. Qual é seu nome? — a menininha perguntou com seus olhos brilhantes e sorriso igualmente banguela. O mais novo a olhou curioso, parando de chorar aos poucos.
— Hansol. — disse fungando e limpando suas bochechas rosadas. A pequena logo engatou uma conversa animada sobre dinossauros, e Vernon pareceu esquecer rapidamente do falecido sorvete, só parando de falar quando o doce recém comprado chegou. Uma bela amizade nasceu ali, e separar os dois no fim da noite, fora um parto para os pais dos pequenos. Notando a crescente amizade, os pais dos pequenos trocaram números e assim, Hansol e Seunhee viraram melhores amigos
O cenário mudou. Vernon estava mais crescido, assim como Seunhee. Era um dia apático. Os amigos se encontravam escondidos no armário da mãe de Hansol, que no momento, discutia com o pai do garoto.
— Esse muleque é problema. Eu disse que você deveria ter abortado esse lixo. — os dois brigavam em alto bom som. Vernon que escutava tudo, chorava baixinho abraçado com sua amiga, que também tremia de medo.
Um barulho foi ouvido. Um tapa. Sua mãe havia batido no homem.— Nunca mais fale do meu filho assim. — disse entre dentes. Eu estava horrorizado.
Então é por isso que Vernon era tão calado?
Eu e o pequeno Chwe choravámos em sincronia, um por medo, outro por empatia. O mais velho se preparava para revidar o tapa quando Hansol, em um ato de coragem, correu e se colocou na frente de sua mãe. A mulher olhava para o filho com espanto, enquanto o homem, apenas sorriu sádico.
— Se você quiser levar por ela, tudo bem. — proferiu, irônico. Levantou a mão, porém o tapa nunca chegou. E Vernon gritou. Um grito sôfrego, magoado, triste. As veias saltadas, o rosto ainda mais vermelho, as lágrimas ainda descendo.
Os objetos do quarto começaram a levitar e as janelas quebraram, acertando o mais novo e os adultos, causando pequenos cortes. Os olhos de Vernon brilharam e se tornaram brancos, deixando-me curioso. O pai da criança o olhava com repulsa e medo, enquanto sua mãe corria para abraçá-lo. A pequena criança então, parou de gritar, permanecendo abraçada com sua mãe.
— Han-solie? — um sussurro chamou a atenção de todos.
Haviam esquecido da garotinha.
Seunhee estava do lado de fora, com os olhinhos arregalados. Suas mãos seguravam a blusa, bem em cima do seu coração, que havia sido perfurado. Vernon correu para abraçar a amiga que caiu no chão, ainda acordada.
— Tudo bem, esse era seu segredo, então? — a pequena sorriu. Ela sempre soube que o mais novo escondia algo, mas nunca teve coragem de perguntar. Agora, finalmente havia descoberto o “pequeno” segredo do seu melhor amigo.
As lágrimas gélidas do garoto caiam sobre o rosto calmo da amiga, que não se importava em morrer. Seunhee sempre soube como terminaria sua vida, afinal, era sua missão ajudar o pequeno Hansol. Em seus últimos suspiros, tirou uma corrente delicada de seu bolso e colocou nas mãos do amigo.
— Use, v-vai te p-proteger. — agarrado ainda mais a amiga, ouviu-a sussurrar um “eu te amo” fraco. Seus olhos se fecharam, seu coração parou de bater e o sorriso que uma vez adernou os lábios da menina, sumiu, dando lugar à uma expressão calma.
Vernon havia perdido sua irmã.
Alguém que não era do seu sangue, mas morava em seu coração. O garoto olhava em choque para o corpo da amiga, segurando com força a pequena corrente encharcada de sangue. A cor carmesim se espalhava pelo chão e pelas roupas de Hansol, que ainda mantinha a garota agarrada a si. Vi sua mãe se levantar e puxar o garoto para longe, murmurando coisas desconexas. O mesmo apenas se deixou levar pela mais velha, que correu para longe do quarto, arrumando as malas dos dois. O pai do menor já havia fugido em um ato de fraqueza, ao ver a garotinha banhada em sangue, abandonando sua família. Permaneci em choque, olhando para o nada.
— Cuide dele por mim. — A voz de Seunhee ecoou em minha cabeça, ao passo que tudo ficava escuro e meus olhos se fechavam.FLASHBACK OFF
Abri meus olhos, pulando do sofá e olhando ao redor.
Estou de volta.
Soonyoung e Joshua vieram me socorrer, enquanto Seungkwan chacoalhava e chamava por Hansol, que permanecia em pé, estático. As luzes começaram a piscar e todos ficaram em alerta. Os objetos começaram a subir, assim como os olhos do Chwe ficaram brancos.
— Merda. — Joshua sussurrou e correu em direção ao adolescente, pressionando dois dedos em sua testa, apagando o garoto. Vernon caiu no chão em um baque surdo, desacordado. Joshua o ergueu e colocou-o com delicadeza no sofá.
— O que aconteceu, Ji? — Kwon me pergunta passando a mão em minha testa, levantando meus cabelos suados.
— Eu entrei na mente dele. — olhei em seus olhos. — Vi o passado de Hansol. E-ele matou alguém. Soon, o Hansol matou alguém. — disse atraindo a atenção de todos para mim. Seungkwan levou a mão a boca em puro choque, enquanto Joshua apenas me encarava apático. Olhei de relance para o sofá, vendo a mesma corrente em seu pescoço, lembrando das palavras da pequena em minha cabeça.
Eu cuidarei dele, Seunhee. Eu prometo.
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The Destiny Child
FanfictionA maldição que pairava sobre aquele grupo de garotos nunca se fez mais presente. O medo e o terror que crescem no coração de Lee Jihoon entram em conflito com a recém descoberta paixão por seu melhor amigo, Kwon Soonyoung. Os dois acabam descobrindo...