Perigos e amores

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– Calma, garoto...

Fili acariciava o seu pônei - falando em Khuzdûl, já que tais animais foram criados em Erebor e só reconheciam a Língua dos Anões para seus comandos. Estavam tendo uma curta pausa, perto de um córrego, deixando que os animais se refrescassem um pouco. Tinham, realmente, avançado muito em apenas alguns dias; estavam cruzando as Montanhas Nebulosas, seguindo por Isengard. Estavam cada vez mais próximos do seu destino. O anão olhou de relance para o seu irmão que estava sentado próximo ao riacho, com os pés submersos na água fria que advinha do degelo das montanhas. Ele segurava papeis amarelados nas mãos e sorria conforme seus olhos corriam sobre as letras ali escritas; Fili logo concluiu que Kili estava lendo novamente outra carta de Drogo. Seu irmãozinho era tão previsível... Era até fofo vê-lo daquele modo. Uma coisa o herdeiro ao trono de Erebor sabia: seu irmão iria agir tal como um bobo - iria ser um total atrapalhado quando encontrasse com o Drogo em pessoa.

– Tolo... – Murmurou. Não que o moreno pudesse ouvir, já que estava muito imerso nas cartas.

– Será só ele? – Resmungou Glóin, que estava ao lado do príncipe.

– Hã? Do que está falando?

O anão mais velho nada disse: só olhou para ao alto da colina onde o príncipe elfo estava. Fili sentiu suas bochechas corarem, e tentou disfarçar reclamando do calor.

– Estamos no início do inverno... Alteza. – Disse o anão, exibindo um tom irônico.

Fili não soube o que dizer.

– Acho melhor você aproveitar esse momento - digamos que durante a viagem não terá que se preocupar com olhos curiosos os julgando.

– Glóin... Digo... Você sabe sobre a minha relação com o Legolas?

– Ora, por Mahal. Quem não sabe? Vocês não conseguem ser nada discretos.

– E-e-espera... N-nós tentamos - O príncipe estava tendo um surto de nervosismo e medo – Toda a Erebor sabe? M-meu tio sabe?

– Não, seu tio não sabe - ainda. Ele está muito ocupado com seu dever como rei e ainda com Bilbo; Mahal e todos Valar sabem como o nosso segundo rei pode dar trabalho. – Piscou Glóin, arrancando uma risada tímida do mais novo – E Erebor, talvez não, mas será só questão de tempo. Contudo, creio que grande parte da nossa companhia já sabe. Bilbo, com certeza, já sabe.

Fili praguejou. Pensava que ambos estavam sendo discretos. Mas agora revia seus atos; realmente ele e Legolas ficavam trocando olhares quando os elfos vinham a Erebor para as reuniões e conselhos, e às vezes saiam sorrateiros rumo a encontros secretos.

– Mas vocês pretendem manter isso em segredo?

– Bem... Levando-se em conta que nossas raças ainda se odeiam – Resmungou como resposta, afinal aquilo era bastante obvio. Como podiam demonstrar a afeição que tinham entre eles sem levantar um caos em ambos os reinos? O processo de aceitação da aliança entre anões e elfos ainda estava se firmando. Expor a relação entre os dois príncipes e herdeiros aos tronos podia gerar mais confusão do que comemorações. Sem falar que muitos anões ainda não aceitavam o casamento entre Thorin e Bilbo.

– Vocês têm que ser discretos. Mas, um conselho? Não desistam do amor.

– Você não é contra? Digo; você também odeia os elfos? – De fato, Fili não esperava um incentivo por parte do anão guerreiro, afinal já tinha demonstrado sua antipatia com a outra raça em diversas ocasiões.

– Odiar é uma palavra forte. Sei que muitos elfos são arrogantes e tem um nariz empinado, essa característica me enoja e por isso fico irritado. Entretanto, já passei da idade de pensar que todos os membros de uma raça são iguais. Já vi várias guerras, lutei ao lado de várias raças diferentes... Sei que além da sua origem, o que mais vale é o seu caráter. Além disso, digo por experiência própria, com relação ao amor... Apesar dos obstáculos gerados pelo preconceito, não desista.

Os dois Reis sob A MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora