No fim, tudo não passava de um negrume infinito e vazio. Era como se meu corpo navegasse num eterno vai-e-vem, consumida por uma inércia vazia e constante. Não havia dor, até que de repente, um sopro frio varreu meu corpo. Como se algo intenso e remoto preenchesse o estômago, distante demais da minha consciência para distinguir o que poderia ser.
Então, fui surpreendida pela sensação de algo agarrasse a minha alma e jogasse-a com vontade o suficiente para não a deixar fugir. Em um momento, estava partindo, mas no outro, estava sendo arrastada, sugada. Minha alma foi empurrada de volta para o corpo.
A água irrompeu queimando a garganta e as vias respiratórias. Tossi freneticamente, quando ela irrompeu a boca e encharcou meu rosto. Resfoleguei ruidosamente, de súbito, colocando o resto da água, que havia dentro de mim para fora. O meu peito subia e descia arquejando e ansiando por um pouco mais de ar. Muito confusa, abri os olhos e tentei respirar em meio à tosse, sobressaltada, impulsionando o meu corpo com os braços e sentando num pulo sobre a superfície que amparava o meu corpo. Surpreendendo-me ao me deparar com o rosto de Travis a minha frente.
O meu nariz queimava ao respirar, por isso levei a mão à altura do peito, sentindo o pulmão doer conforme tragava ar. O coração era uma espécie de orquestra tão ensurdecedora e desafinada que doía.
A expressão de Travis estava retorcida em uma carranca desaprovadora e preocupada. O peito dele também subia e descia em uma respiração exasperada. A camisa acinzentada colava sobre a pele, encharcada pela água. Os cabelos pendiam pela testa, molhados e algumas gotas escorriam da raiz dos fios para o rosto.
Baixei o olhar, encarando a calça jeans rasgada e o ferimento exposto que sangrava e tomava conta da minha panturrilha e a minha mente foi instantaneamente bombardeada pela explosão e pela agitação do carro capotando. Balancei a cabeça, numa tentativa de afastar aquelas lembranças.
Stayce. — A minha mente berrou, quando o peso da realidade recaiu sobre mim.
Ergui o olhar e encarei Travis.
— Você está bem? — perguntou, mas isso não era o mais importante, então, apenas o ignorei. Estar viva parecia ser suficiente naquele momento.
Tossi antes de me pronunciar.
— Stayce... — Me desesperei com a voz entrecortada. Respirando fundo, tentando levar todo o ar que podia para dentro dos meus pulmões. Precipitei em olhando ao redor, sem encontrar nenhum indício dela. — Travis, cadê a Stayce? — Inquiri imediatamente, ao olhar ao redor e não encontrar nenhum rastro dela.
Para o meu completo sofrimento, Travis enrijeceu a mandíbula e deglutiu, desviando o olhar de mim para a água a nossa volta. Eu não queria ouvir o que ele diria a seguir.
— A garota que estava com você já estava morta. — Informou complacente, pondo-se de pé diante de mim.
A minha visão perdeu o foco. Engoli as palavras dele completamente incrédula.
— O quê? — precisei piscar algumas vezes, com o cérebro incapacitado de enviar qualquer comando para a minha boca.
O choque da notícia foi como um segundo afogamento súbito, uma segunda morte. O meu cérebro tinha congelado e esquecido de como se respirava.
Ergui-me desajeitadamente do chão, cambaleando até firmar o corpo ao sentir o mundo estremecer sob os pés. Cerrei as mãos em punhos, quando a minha garganta se fechou instantaneamente e ergui o olhar assim que a minha visão se tornou sangrenta, encarando-o com fúria e aversão.
— Porque você não a tirou de lá? — interroguei, aproximando-me ferozmente dele e empurrando-o com violência para trás. — Isso tudo é culpa sua, Travis. — Soquei-o dessa vez com mais ira.
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TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]
ActionLIVRO I | série CORAÇÕES CORROMPIDOS. E se você sentisse a morte te abraçar e ela sussurrasse no seu ouvido dizendo que ainda não é a sua hora? Se você perdesse tudo, e todas as suas memórias fossem fragmentadas até não existir absolutamente mais na...