Capítulo 32 | Ponto cego

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Sentia o suor cobrir a minha pele, e uma gota quente de sangue escorrer pela lateral do meu rosto. Narinas dilatadas. Peito subindo e descendo no compasso de uma respiração pesada. Eu estava abaixado, com os joelhos no chão, braços erguidos e mãos a vista. Tudo conforme aquela maldita havia ordenado.

Minha casa tinha sido invadida e praticamente destruída. Havia estilhaços de vidros por toda a sala. Cápsulas de bala espalhadas pela entrada, e como se a situação não pudesse ficar ainda pior, tinha uma mulher mascarada segurando uma arma contra mim.

Ela não sabia onde estava se metendo quando decidiu invadir a minha residência, sequestrar Amy e fazer o meu amigo e a mim de reféns. Foi uma péssima ideia, mas mesmo com todo essa situação caótica, eu realmente estava disposto a relevar. Não fazia a menor ideia de quem estava por trás de toda essa porcaria, mas já tinha problemas demais com a organização do Raymond, e seja lá quem for o responsável pela invasão, poderia ter simplesmente ido embora, mas eles insistiram em ficar. Eles queriam guerra, e eu não costumava fugir de uma.

Ernest ainda se mantinha abrigado atrás do sofá. As balas não passavam pela estrutura de madeira e isso o mantinha a salvo.

— O que você está esperando? — Rosnou a invasora, tentando me intimidar ao pressionar mais o cano da pistola em minha têmpora. — Eu mandei você colocar isso... AGORA! — Com uma mão ela empunhava a pistola, e com a outra, estendia uma algema para mim.

A vadia só podia estar maluca se, sequer passava por sua cabeça fodida, que eu colocaria aquilo e me renderia assim tão facilmente. Tinha que ter um jeito de acabar com essa merda toda sem ser me entregar.

Um ruído seco e continuo ecoou de repente pelo chão de linóleo, e um grunhido gutural sucedeu o silêncio. A invasora sobressaltou-se, agindo por instinto ao virar-se de súbito e apontar a pistola para o outro lado.

Os músculos da minha garganta se contraíram com a brecha que surgira. A roleta da sorte estava girando e não parecia ser ao meu favor.

Mas a ocasião fazia o ladrão. A gente faz o que pode, porque segundos eram valiosos demais nesse tipo de situação.

Eu costumava ser um cara traiçoeiro e oportunista. Um apreciador de jogos de cão e gato. Gostava de deixar o meu oponente pensar que a vantagem estava com ele. Isso o deixava confiante, e nada melhor do que o controle para conhecer a verdadeira face de alguém. Algumas pessoas realmente mereciam sofrer, pelo menos um pouco antes de morrer. Era meio doentio, eu já sabia, mas não me importava porque esse era o meu método.

Nesse ramo, é essencial que você mantenha todos os seus instintos apurados, sempre. Sem descanso, sem distrações. No entanto, naquele momento, a invasora tinha vacilado ao se precipitar. Mas quem, dadas as circunstâncias, não o faria?

Dois contra um, nós éramos grandes e nem um pouco idiotas.

Um belo time; eu diria.

Agarrei a mulher pelas costas, tentando puxar seus braços para cima e atrapalhar sua mira, quando vi de relance Ernest correr em direção à mulher. Ele estava tentando resolver as coisas do pior jeito. O jeito "Ernest" de sempre.

Um idiota impulsivo — eu diria se não o conhecesse. Mas ele conhecia os riscos, estávamos aqui para isso e nós os assumimos como adultos.

"Atacar ou morrer tentando, se entregar nunca foi uma opção. "

Esse era o lado bom de trabalhar com ele. Zero medo; sem ressalvas. Tudo ou nada. A gente só jogava para ganhar e estávamos dispostos a arriscar tudo se fosse preciso. O negócio é que sempre era.

Antes que Ernest pudesse desferir o soco que armara no punho, o primeiro disparou ressoou em um estrondo seco e agonizante, depois outro.

O primeiro projétil perfurou o ombro de Ernest, e o segundo, se perdeu do alvo, abrindo um pequeno buraco na parede, ao lado da janela. Ernest parou, quando o choque brusco da bala lhe perfurou a carne, e ele caiu, resfolegando no chão.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora