Travis abaixou-se do outro do corpo mole de Ryan e levou as pontas dos dedos ao pescoço dele, encarando-me com pesar, incapaz de se pronunciar.
Não precisava pensar muito para entender o que aquilo significava.
Os meus músculos tencionaram e o estômago revirou-se com um sentimento amargo fluindo por mim. Por um momento eu havia me esquecido de como se realizava o ato de respirar. Todos sabiam o que tinha acontecido.
Ryan estava morto e por minha causa. Eu não sabia se conseguiria assumir isso em voz alta, era doloroso demais. Então mordi a parte interna de meu lábio inferior assumindo a raiva como sentimento para abandonar a tristeza. Travis passou as mãos pelo rosto de Ryan, fechando as suas pálpebras para esconder os olhos azuis fúnebres e vazios.
Tudo tinha acabado. Eu não teria paz.
Morto! Todos à minha volta acabavam morrendo e eu sabia lamentavelmente o porquê disso.
Esse era um fardo que eu deveria carregar, mas não estava disposta a enfrentar outra perda. Não mais!
Respirei fundo e me recusei a pensar mais.
— Eu estou cansada disso! — declarei sem vacilar, passando duramente as costas da mão no meu rosto, a fim de enxugar as lágrimas insistentes e afastei a cabeça sem vida de Ryan do meu colo, colocando-a com delicadeza no chão. — Nós precisamos acabar com isso! Precisamos dar um funeral ao Ryan e... Ir atrás de quem fez isso.
— Estamos longe de casa... — observou Ernest, aproximando-se mais. — Um contato vai vir nos remover em breve.
Travis fez a volta pelo SUV e desligou o motor do carro.
— Ele está morto. Todo mundo está morrendo e o que nós vamos fazer enquanto isso? Cruzar os braços e esperar? — Indaguei descontroladamente.
— É. É isso o que você vai fazer! — Ernest exclamou, elevando o tom de voz com autoridade. — Vai abaixar a sua bola, cruzar os braços e esperar como todos nós.
— Ei, cara. — Travis disse. — Acalme-se. Você só a está assustando mais. — Travis intercedeu por mim e Ernest balançou a cabeça.
— Vamos levar o corpo para dentro. — disse Ernest com uma frieza que me incomodou.
Travis agarrou nos tornozelos de Ryan e Ernest segurou nos pulsos, resmungando com a dor no ombro que sucedeu o movimento.
— Eu faço! — ofereci-me para ajudar, percebendo que aquilo seria mais difícil para Travis, devido ao braço lesionado.
— Não! — Travis respondeu rispidamente.
— Eu posso fazer isso! — Insisti com mais firmeza na voz, segurando em um dos tornozelos sem vida de Ryan.
Travis assentiu, soltando um deles e um silêncio mórbido recaiu sobre nós quando começamos a avançar com o corpo para dentro da casa. Eu me sentia num piloto automático, um pouco desligada e anestesiada. Segurei firme no membro e o ajudei a amenizar o peso, suspendendo e seguindo o mesmo caminho. O pescoço dele estava mole então, a cabeça pendia para baixo e precisei puxar mais para cima com a intenção de que a cabeça não arrastasse no chão.
Flashes das minhas memórias com Ryan começaram a perpassar minha mente. Eu me lembrava de como era trabalhar com ele. Éramos amigos e colegas de trabalho antes de tudo acontecer e isso fez com que as minhas entranhas começaram a embolar assim que adentramos ao banheiro do primeiro andar e o colocamos dentro da banheira. O ar se tornou denso e uma tontura começou a me desnortear.
Eu não sabia se era a dor da perda, a culpa ou o luto, ou quem sabe o pânico que me tomara por conta do que imaginava estar por vi, talvez uma mistura dos três. Foi o que pensei quando surgiu uma vontade repentina de correr para fora da casa novamente e a ânsia começou a contrair em minha mandíbula.
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TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]
ActionLIVRO I | série CORAÇÕES CORROMPIDOS. E se você sentisse a morte te abraçar e ela sussurrasse no seu ouvido dizendo que ainda não é a sua hora? Se você perdesse tudo, e todas as suas memórias fossem fragmentadas até não existir absolutamente mais na...