Capítulo 26 | Sigma

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Marshall não ofereceu resistência, porque Ryan foi bastante persuasivo quando apontou a arma nas costas dele, e nós fizemos o caminho contrário.

Era bastante inusitado pensar que as pessoas mudavam de opinião rapidamente, se você as motivassem do jeito certo, e mesmo que isso fosse hediondo, Marshall estava escondendo alguma coisa importante e estava na cara que ele não nos ajudaria sem um empurrãozinho.

Os casacos grossos serviram para camuflar a arma e não chamar muita atenção das poucas pessoas que transitavam pela calçada. Marshall empurrou a grande porta pesada e passou primeiro com Ryan em seu encalço. Eu os segui, passando pelo grande saguão de entrada que ostentava no chão um selo adesivo enorme e redondo. Um brasão elucidava a rosa dos ventos com cabeça de uma a águia branca logo acima. "Central Intelligence Agency" moldurava o esboço em letras maiúsculas.

— Estados Unidos da América — Ryan leu, na parte de baixo do brasão. Sua voz de soou bastante amarga ao reverberar pelo grande espaço — bando de cuzão.

— O que você quer, Russell? — Marshall inquiriu, apertando os olhos. Ele estava tendo um mau pressentimento, eu diria, porque estava começando a parecer assustado. — Diga e vamos acabar logo com isso.

— Eu não estou com pressa, Marshall. — Ryan estalou com uma voz propositalmente macia e depois olhou para mim por cima do ombro. — A minha mãe era cientista, formada no MIT, mas você já deve saber disso. Ela era bem inteligente — acrescentou com orgulho. Eu não entendi a relevância daquilo na ocasião. Possivelmente estava nervoso e simplesmente falava demais nessas horas, mas eu não me importava, porque ele conseguia ser bastante eloquente. — O meu pai trabalhou nas Forças Especiais Americanas. Eu gostava, sabe... Ele era um herói, e eu me espelhei nele quando tomei a minha decisão. Achei que estivesse trabalhando do lado certo e arrisquei muita coisa por isso. Na realidade, eu fui com tudo. O problema é que essa merda é a droga de um desfiladeiro, e a Amy também se jogou — Ryan ergueu a sobrancelha e deixou um sorriso debochado no ar para mim. — Uma pena que ela não consegue se lembrar. Mas uma coisa mudou. Vocês entregaram a porra da missão e a Amy e eu tivemos que pagar por isso.

Marshall deu uma estremecida quando nós começamos a subir os degraus das escadas.

— Eu sinto muito, Russell, mas eu não fiz isso.

— Você pode até não ter entregado a gente. — Ryan empurrou-o para frente com o cano da arma, assim que Marshall relutou em continuar, deixando a raiva dominar suas ações. — Mas foi você quem nos deixou lá para morrer. Alguém apagou os registros da Amy. Os meus pais morreram. Pellignton fez questão de matar a minha namorada — o rosto dele estava vermelho — na minha frente, e sabe a pior parte, Marshall? — o silêncio pairou no ar dramaticamente, permanecendo apenas o eco seco dos nossos passos contra o piso da escada. — Ela tinha acabado de descobrir que estava grávida.

A ideia disso fez o meu estômago embrulhar, e eu diminui o ritmo dos passos, um pouco desestabilizada com a informação. De repente, perder a memória pareceu tão insignificante perto das perdas de Ryan.

— Minha mulher e o meu filho estão mortos porque você nos sacrificou para limpar o nome sua merda de nome. Isso não vai ficar de graça. — Ryan declarou quando alcançamos o patamar desejado.

Grandes divisórias de vidro organizavam e dividiam o enorme espaço em baias. Mesas, cadeiras, computadores e telas de todos os tamanhos, por todos os lados. Ryan avançou, conduzindo o homem pelo corredor de mesas até que chegamos a uma grande sala separada por paredes de vidros.

Uma mulher loira, um pouco mais alta do que eu, de cabelos loiros perolados estava de costas para nós. Ela vestia calça preta e blusa social com a gola pra fora do suéter de lã verde-escuro.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora