Capítulo 37 | Não volte atrás

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Senti a dor irromper como uma linha no pescoço. O movimento brusco tinha resultado em um corte superficial na altura da garganta, e dava para sentir o sangue quente começar a verter do corte, mas a adrenalina me impedia de afundar na dor que aquilo causava.

Então, havia chegado a um nível crítico de desvio de postura. Pois estava prestes a matar alguém e eu não me sentia culpada por isso.

O quão desesperado você tem que ser para tomar atitudes impensadas? Eu diria que o desespero mexe com sua cabeça e não te deixam pensar racionalmente. Assim como a raiva e medo são bons combustíveis para mover o ser humano, o desespero também. A diferença é que eu não estava cega, e isso me fez pensar no que eu estava sentindo agora? Mas, mais do que isso, eu queria saber o que ele, Brandon, estava vendo nos meus olhos agora. Raiva, medo, dor... Fúria. Eu me sentia insana enquanto minha carne queimava; e mesmo que o cansaço recaísse por todos os meus ossos e pesava nos ombros, eu não iria parar.

Eu só queria que essa droga acabasse, e estava claro o que precisava fazer para que tudo isso chegasse ao fim. Brandon precisava morrer!

Com a arma em mãos, o meu peito subia e descia em uma respiração frenética e descompassada. O meu coração parecia uma bomba-relógio, causando-me a sensação de que poderia explodir a qualquer momento.

Já chega de fugir e hesitar.

Tinha que parar de me esconder.

Foi então que uma lembrança perpassou diante dos meus olhos. Meus dedos acionando o gatilho várias vezes, alvejando Brandon, que caiu de joelhos no momento seguinte, diante de mim, a camisa empapuçando-se de sangue à medida que esvaia das perfurações. E ele não parecia estar com medo. Na verdade, Brandon sabia que em algum momento alguém o pegaria.

Não foi a primeira vez... e aqui estávamos outra vez, fadados a isso.

As minhas narinas dilatavam conforme bufava feito um touro na arena. O dedo sobre o gatilho enquanto decidia o que faria em meio ao misto de desespero e rancor.

Inclinando um pouco a cabeça para o lado, analisei com mais cautela a mulher a diante e depois Brandon.

Depois de passar por tanta coisa, acabei aprendendo da pior forma, que para estar sujo você não precisa estar lambuzado. Na verdade, se você estiver com a pontinha do pé na lama, já era! Você já está envolvido o bastante para estar na merda. E bem, eu já tinha fincado os dois pés nessa droga.

Tudo isso não passava de um jogo e eu não dançaria conforme a música. Estava cansada de perder pessoas, de ver gente morrendo sem poder fazer nada. Eu queria acabar com tudo isso e não me importava com o preço que pagaria depois.

Foda-se a autopiedade ou o peso na consciência.

EU SÓ QUERIA VINGANÇA.

Dessa vez eu não precisei fechar os olhos, porque Brandon não era uma vítima. Ele era o causador de tudo. Então, nunca foi tão fácil puxar o gatilho, enquanto encarava meu alvo nos olhos.

Ele não parecia arrependido. E nem eu!

Disparei a arma na altura da perna de Brandon e ele me encarou com uma boa dose de surpresa. A bala enterrada em sua coxa não o levaria a morte, mas lhe causaria uma boa dose de dor, no entanto isso não o parou.

— Isso é o melhor que você pode fazer, querida? — Brandon provocou, abaixando o olhar para encarar o projetil que lhe perfurara a carne. — Eu vou matar você e é isso o melhor que você tem para m... — Vociferou ensandecido.

— Você é melhor do que isso. Vai embora daqui, Amy! — Ryan gritou por cima da voz de Brandon e eu voltei a mim.

Encarei os olhos intensos de Ryan enquanto ele parecia tentar restabelecer o controle da situação e insisti em ficar.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora