Capítulo 33 | Pique-pega, esconde esconde

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Diante do espelho, eu tentava buscar qualquer traço familiar na figura refletida ali. A única coisa que parecia não ter mudado eram meus olhos castanhos, que agora pareciam maiores e mais expressivos com o delineado marcante desenhado. Meus lábios foram tingidos de uma coloração vermelho quase vinho, que pareciam ter mais volume agora; as olheiras foram corrigidas com uma boa camada de maquiagem, e as bochechas já não era mais tão pálidas quanto antes. Mexi nos meus cabelos, que tinham sido cortados e estavam estranhamente curtos, um pouco acima dos ombros e eles caiam, repartidos ao meio, pelas laterais do meu rosto.

Mudar a aparência fazia parte do plano, e eu tinha ciência disso, mas não esperava me parecer tanto com uma mulher fina e elegante como agora.

— O que você achou? — indagou a mulher que tinha me preparado.

Ela acabara de retornar segurando um cabide com o que presumi ser um vestido dentro de uma capa preta.

Virei sobre a cadeira giratória e fitei a capa antes de me pronunciar.

— Eu me sinto... — não soube qual palavra usar. Eu me senti bonita e muito bem produzida, mas ao mesmo tempo não me identificava com essa estranha versão de mim. Costumava fazer jus a praticidade e maquiagens nunca fizeram parte do meu dia a dia. — estranha... — balbuciei, concluindo por fim depois de um tempo, passando a mão pelos cabelos.

A expressão dela se fechou no mesmo instante e foi impossível não notar a frustração, talvez ela estivesse pensando que eu não tinha gostado do trabalho, mas antes mesmo que pudesse abrir a boca para lhe responder algo, a porta foi aberta outra vez e Ryan entrou, invadindo o estúdio.

— Nossa! — Ele balbuciou, assim que pôs os olhos em mim. — Ela está impressionante... você fez um milagre aqui... — Ryan balançou a cabeça em aprovação e colocou a mão no ombro da mulher de meia idade e ela se afastou dele, parecendo desaprovar a atitude evasiva de Ryan.

Ryan também não estava nada mal. Conclui enquanto o analisava.

Ele tinha se esforçado com os cabelos que estavam perfeitamente modelados, penteados para traz e carregavam um aspecto de molhado. Ele vestia um daqueles smokings sem gravata, preto de cima a baixo e que lhe rendia um ar obscuro, perigosamente atraente e ao mesmo tempo sofisticado.

— Eu trouxe o vestido... — a mulher se pronunciou, fazendo-me despertar da minha análise ao mostrar o que segurava.

— Nós não podemos demorar... — Ryan advertiu, e eu assenti em resposta, me dirigindo para um pequeno cômodo reservado dentro do estúdio a fim de que me pudesse dentro do vestido.

Foi difícil não reparar mediante ao grande espelho o quanto eu havia emagrecido e como a cicatriz da perna estava feia. Doris, a vendedora foi cuidadosa quando viu isso e eu me senti deslumbrante dentro do vestido longo de veludo, vermelho rubi. A fenda se abria até a altura da minha cocha, sobre a perna boa, e subia se ajustando perfeitamente ao corpo até o busto. Abaixei o olhar e deslizei a mão pelo tecido que envolvia um braço só. O decote transversal ajustava-se de um ombro só e valorizava todas as curvas de meu corpo.

— Você não acha que está um pouco exagerado ou estranho? — Indaguei a Ryan, quando sai desconfortável do trocador. — Talvez chame atenção demais...

— Claro que não! Você faz parte do plano...

Calcei os sapatos abertos de salto e nos dirigimos para a picape.

O meu estômago se retorceu quando começamos a avançar por um canto remoto de Detroit. As minhas mãos transpiravam enquanto eu sentia um frio aterrador assim que Ryan parou o carro em frente a mansão de aparência histórica que agigantava pelos portões pontiagudos.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora