Capítulo 28 | Estrada pro inferno

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De todas as poucas coisas certas sobre mim, eu tinha certeza absoluta de apenas duas delas, naquele momento. Primeira, eu me arrependia amargamente de ter depositado qualquer resquício de confiança em Ryan. É claro que em algum momento oportuno, ele iria usar isso contra mim, e eu fui uma grande e inquestionável idiota por ter caído nessa. Segundo, eu não era, com toda a fodida certeza, uma moeda de troca para absolutamente nada.

A minha garganta se apertou e o meu estômago se inflamou com a bílis que se espalhou amarga pelo meu sistema.

Eu não seria, de nenhuma forma, o prêmio de alguém. Essa ideia estava fora de cogitação e eu o odiava de todas as formas possíveis, por ter feito isso.

— O que?! — Questionei, tossi inconformada, pulando da cadeira e me pondo de pé, ainda sem acreditar no que estava acontecendo diante de mim. — Eu não acredito que você não fez isso! — A revolta não me fazia pensar racionalmente. Se é que existe um jeito racional de conduzir esta situação.

— O que? Caramba! — Ele rebateu. A sua expressão de desorientação me deixou ainda mais possessa. — Estou tentando dar um jeito na nossa situação...

Eu me revirei por dentro. Será que essa situação poderia ficar pior?

— Me usando como moeda de troca? — ralhei — Você é um grande imbecil, Ryan!

Ele balançou a cabeça, revirando os olhos, inconformado.

— Você sabe que por aqui, eu não me chamo Ryan e nem você é Amy, então faça o favor de usar nossos nomes... — Ele praticamente cochichou. — E outra, eu sei o que estou fazendo, tente pelo menos manter a compostura.

Isso era demais para mim.

— É claro que sabe... — bufei, ironicamente — E sem essa de compostura. Você está me usando como um objeto de troca para uma corja de bêbado metido a motoqueiro, e eu ainda tenho que manter a compostura? — Talvez eu estivesse falando rápido demais, mas foda-se, esse babaca precisava ouvir muitas coisas — Oh! Por favor, o que você espera? Que eu aplauda você? — Indaguei, carregada de ironia, batendo três palmas para ele. — Meus parabéns, você merece um prêmio de grande e absoluto babaca.

Ryan me segurou pelos braços.

— Escuta... Acho bom você parar já com isso! — Ele me interrompeu, segurando os meus ombros, o suficiente para que eu o encarasse. — Eu não vou fazer nada que ponha você ou a sua integridade em risco, Amy. — Ryan suspirou e passou a mão pelo meu rosto. — Já te pedi para confiar em mim, e não torne isso ainda mais complicado. Eu vou jogar e vou ganhar esse maldito jogo. Vou pegar a picape desse idiota e vamos colocar o pé na estrada. Nós já deveríamos estar chegando em Ohio agora e nem sequer saímos da Pensilvânia. Será que é pedir muito um pouco de colaboração? — Ryan parou, me encarando muito sério. — Você pode fazer isso? — Vi a sinceridade relancear em suas íris azuis cor de oceano.

Assenti com a cabeça e tratei de me sentar em algum lugar bem próximo à mesa. Ryan pegou um taco de jogar bilhar e eu me mantive em silêncio durante todo o maldito jogo. Eu não queria assistir ao jogo dessa aposta idiota, até porque, por mais que eu tentasse não odiar Ryan, sabia que era o meu rabo que estava na reta. Mas percebi — e acho que todos perceberam — que o oponente de Ryan estava bêbado demais e que se manter de pé já lhe parecia ser um grande desafio, e isso me deixava menos agoniada, pois dava uma boa vantagem para ele.

O homem estava vermelho, quando percebeu que estava no final da partida e que Ryan estava ganhando.

Certo, eu tinha que assumir que Ryan era muito bom no jogo, mas isso ainda não era uma boa justificativa para o que ele havia feito, me usar como um objeto nessa maldita aposta.

A última bola seguiu, acertado seu rumo, o buraco, quando Ryan depositou o taco sobra à mesa.

— Muito bem, amigo... Hora de pagar o meu prêmio. — Ryan disse, com satisfação.

O motoqueiro arqueou as sobrancelhas e abriu um sorriso sujo.

— Você acha mesmo que eu vou te dar a minha caminhonete como prêmio? — ele gargalhou em resposta, achando muito engaçado.

— Foi o combinado, não foi? — Eu me intrometi pela primeira vez, exaltada pulando da cadeira e seguindo em direção a Ryan.

A expressão de Ryan se fechou e o seu olhar se tornou frio, o que o deixou com um ar bastante ameaçador.

— E você está achando que eu sou idiota? — Foi à vez de Ryan se pronunciar, intimidador, aproximando-se do motoqueiro com veracidade. — Eu sei que foi você, ou a sua gangue que cortou o cabo da bateria do meu carro. — esclareceu, e por incrível que pareça, ele não precisou elevar a voz para se tornar ameaçador, pois a sua calma diante da situação, parecia ser perigosa. — Eu estou tentando ser um cara legal, fazendo isso do jeito fácil, mas eu não me importo, eu realmente não me importo de resolver isso do jeito difícil.

— Ei, O'Brian. — Foi à vez de um homem atrás do balcão se manifestar. — Eu não quero confusão no meu bar. Ninguém mandou você apostar e perder, agora acho bom você cumprir com a droga do combinado, ou então... Fora do meu bar!

O motoqueiro demonstrou resistência no primeiro instante, mas percebeu que a coisa poderia ficar séria e acabou cedendo.

✦✦✦

— Eu ainda não estou acreditando que ele simplesmente entregou as chaves... — Nós estávamos atravessando novamente a porta do bar, rumando para fora.

— Simplesmente não — interpelou — porque ele não teria entregado sem uma pequena pressão psicológica. — rebateu Ryan, andando ao meu lado e agitando as chaves do novo carro na mão.

— Pode ser. — Não insisti, o importante é que não estávamos mais presos nesta cidade repleta de gente maluca. — Mas não me sai da cabeça, o que poderia ter acontecido comigo se você- tivesse perdido essa maldita aposta...

— Não teria acontecido nada! — Exclamou, interrompendo seu passo. — Prometi que não iria acontecer nada com você, lembra? Eu costumo cumprir minhas promessas.

— Deve ser por isso que você não costuma fazer promessas... — Rebati, contrariada — afinal, que jeito poderia dar?

Ele arqueou as sobrancelhas, ressentindo e puxou a barra da camisa, deixando amostra, um pedaço do caminho até seu abdômen, a lateral forte de seu "v", ao exibindo a arma que havia ali.

Ryan esperava realmente que aquilo fosse me tranquilizar?

— E o que ganharia, chamando toda a atenção para nós? — questionei, quando voltamos a andar em direção a picape.

— É ai que mora o perigo... — Ele abaixou a blusa e se apressou em continuar o passo. — Não se pode ter tudo ao mesmo tempo, não é?

— É o que dizem... — rebati, dando de ombros.

Ele se dirigiu para a porta do motorista e eu entrei pela do passageiro.

— Aliás, você deveria confiar mais em mim... — Comentou, enquanto inseria a chave na ignição.

Talvez Ryan estivesse se mostrando um pouco, muito pouco confiável, no entanto seria muito fácil me pedir para confiar nele e na próxima parada que eu precisar, ele simplesmente cair fora, ou então, me enfiar em uma outra enrascada.

Okay, obrigada! Mas eu acho não...

Realmente pensei em lhe dar esta resposta. Estava na ponta da língua, mas talvez fosse à hora de erguer finalmente uma bandeira branca entre nós. Eu estava tentando me dar bem com Ryan e uma resposta como essa não ajudaria em nada, então a engoli e preferi dar de ombros.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora