Capítulo 18 | A volta

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— Você passa tanto tempo procurando respostas, que não consegue enxergar o que está diante de você.

Suas palavras me deixaram revoltada. Possessa, mordi o lábio interno com tanta força ao ponto do gosto ferroso contaminar o meu paladar. Me aproximei bruscamente dele, como um animal selvagem prestes a atacar e apoiei a mão no colchão, afundando um pouco.

Estávamos cara a cara. Meus olhos fincados nos dele. Os meus dentes cerrados pela revolta e mão fechada em punhos.

— Você sabe o que eu estou vendo agora, Travis? — retorqui entre os dentes. O meu sangue fervilhava num frenesi violento. Meus olhos queimavam de puro ódio. Eu estava a fim de machucá-lo, mas não fisicamente, desejava ir além daquilo, pois o cretino aguentaria firme em sua pose de confiança indestrutível, independentemente de qualquer agressão física. — Um bastado criado pelo próprio Governo. Você não passa de um traidor fodido!

Os lábios de Travis se curvaram em um riso debochado, o que me fez ponderar por um instante, encarando os seus olhos inabaláveis.

— Você me enoja. — Declarei, franzido o rosto com a repulsa de ter que lidar com isso. — Vai apodrecer na cadeia junto com a sua corja.

Dizer aquilo, naquele momento, me pareceu tão ofensivo e cruel, mas ainda assim, saboroso e necessário. Travis foi treinado pelo Governo e o mínimo que ele deveria fazer, é ser fiel a bandeira que jurou, mas decidiu mudar de lado, se tornando o oposto disso, o inimigo.

Como ele se explicaria diante dos seus atos. Matar pessoas? Torturá-las e chantageá-las. Mas, o que eu era?

Eu tinha recebido duas opções, e tinha feito a minha escolha. Era tão criminosa e cruel quanto ele. A única diferença entre nós, é que eu era hipócrita o suficiente para apontar o dedo na cara dele e condená-lo pelos mesmos pecados que eu também cometia, mas francamente, naquele momento, aquilo não me incomodava. Travis foi o gatilho para a minha ruina.

— Você acha que está me ofendendo? — ele suspirou antes de continuar. — Acredita mesmo que você é muito diferente de mim?

— Você está certo! — Declarei convicta, encarando-o. — Não faço a menor ideia de como eu era antes de acordar sem memória no hospital, mas eu sei quem sou hoje.

— Se hoje você sabe tudo o que acha que sabe — era possível sentir o desdém em discurso — é porque você voltou para a sua vida de sempre. Se dependesse do mundo em que estava, nunca chegaria perto de ser como antigamente — Articulou e eu me revoltei.

O que ele queria de mim, a final de contas?

— E você espera que eu te agradeça por isso? — rebati retoricamente. — Que eu seja grata por ter minha vida de volta, e de brinde estar no meio desse crime organizado?

Travis se remexeu, tentando se soltar das cordas mais uma vez.

— O que você queria, droga? — Esbravejou em resposta, insistindo em lutar contra as cordas em seus pulsos. — Um terço do que as coisas são?

— E quem é você para decidir isso por mim? — Rosnei. — Eu não te pedi nada! — Esbravejei, saindo do controle.

— Você tem que me desamarra, Amy. Agora! — Ele parecia furioso. Seus olhos estavam vermelhos e as narinas dilatadas.

— Eu-não-vou-te-soltar. — Retorqui entre os dentes, bem devagar para que ele pudesse entender de uma vez por todas — ou você acha que eu teria todo esse trabalho atoa?

— Sua vadia maluca! — Rosnou entre os dentes.

Vince Raymond dissera que o meu pai estava vivo e que eu o salvaria se cumprisse suas ordens. No entanto, aquilo não passava de uma grande mentira suja e descabida para me ter nas mãos. O meu pai estava morto, e eu já sabia o suficiente para desejar não saber mais. Agora, eu só tinha que me preocupar com uma única pessoa.

TOUGH - CONSPIRAÇÃO [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora