Capítulo XXV

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- Ele disse que...

- Eu entendi. - Respondo com mais rispidez do que imaginei. A frase do treinador foi tão óbvia que me irrito por ela achar que não a compreendi.

- Tudo bem, tudo bem. - Carmen levanta as mãos e se afasta um pouco. - Já que virou bilíngue de um momento para o outro, vou deixar você com ele. Eu posso acabar atrapalhando.

Então ela se vira e sai pela porta de vidro. Mas não vai embora, se encosta na janela e continua olhando para nós. Volto a olhar para Juan quando fala comigo, indicando que eu o siga.

Ele me leva até uma pequena área com algumas esteiras, passando por alguns aparelhos estranhos no caminho.

Não demoro muito a entender quando manda que eu suba na esteira. Apoio meus pés no tapete preto e espero que faça alguma coisa.

Assim que ele apoia o dedo na tela do aparelho, o tapete começa a se mexer. Por instinto, começo a levar um pé frente ao outro, para caminhar e não acabar caindo.

O homem não parece satisfeito com a velocidade de caminhada, passando o dedo sob o símbolo de "+". 

Então sei que preciso começar a correr para não acabar beijando o chão. E é o que faço. E a cada passo que dou, sinto meu corpo eletrizado. Uma sensação tão boa que me dá vontade de ir mais rápido.

Sem esperar até que Juan resolva aumentar novamente a potência, ponho o dedo na tela digital do painel e eu mesma o faço.

Então começo a sentir meu coração acelerando. Mas não do jeito ruim, de um jeito... libertador. Sinto a adrenalina sendo liberada em meu corpo, causando aquele frio na barriga empolgante. Reconheço a sensação de quando estou no campo, correndo atrás da bola, só que mais intensa.

Sinto que poderia correr por muito mais tempo sem parar. Por um dia e meio, segundo Carmen. A ideia já não me desagrada tanto.

Não queria que essa experiência acabasse tão cedo, mas percebo que o tapete da esteira vai ficando mais devagar, e mais, até parar por completo. Quando finalmente volto a ficar de pé na esteira, parada, olho para Juan. Ele está com uma daquelas pranchetas na mão e rabisca algo no papel.

- O que foi isso?! - Exclamo. Sinto meu coração desacelerar levemente e o meu sangue começando a esfriar. 

Diferente de como achei que seria, não estou ofegando. Sinto minha respiração alterada, mas não tanto quanto deveria ser.

O homem apenas me olha e indica outro aparelho com a cabeça. Ele fala o mínimo possível comigo, preferindo usar mais gestos que sua fala. Não sei se porque acha que eu não entenderia nada ou se ele não quer se esforçar para falar comigo.

Quando olho de relance para Carmen, percebo que não está mais sozinha. Outras duas mulheres se juntaram e assistem a tudo, curiosas.

Desvio o olhar novamente para o professor, que para diante de um negócio perto da parede. Tem uma tela ligada com alguns desenhos nos cantos, conectada por um fio a uma espécie de almofada rosa.

- O que é? - Mas ele não responde, apenas dá um soco na almofada, para demonstrar.

Então a tela pisca, emite um som agudo e passa a mostrar um número: 1.641 N. Reconheço o símbolo como a unidade de forças, Newtons. Uma máquina que mede força.

Assim que ele aponta para mim, repito seu gesto. A máquina repete seus passos e mostra: 864 N.

- Isso é bom? - Pergunto, virada para ele. Não sei se entendeu a pergunta, mas ele balança a cabeça negativamente.

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