Meu rosto está escondido sob o capuz do casaco quando a porta se abre. Não quero que a pessoa veja meu estado assim que olhar para mim, então cubro minha cabeça e continuo olhando para o chão.
Vejo as sapatilhas vermelhas de uma mulher, mas ela não fala nada. Provavelmente surpresa por encontrar alguém ali. Pessoas que moram em lugares assim não devem ser acostumadas a receber visitas.
- Hola. - Tento usar a saudação em espanhol, minha voz sai trêmula e insegura. Tanto pela ignorância sobre a língua quanto pelo cansaço.
- Eu reconheço este sotaque! - A voz fala em tom de brincadeira.
Eu só posso estar sonhando. Meu coração acelera e sinto que meus olhos estão arregalados. Um misto de surpresa e incredulidade.
Mas não porque a mulher sabe falar português. Porque eu conheço essa voz. Uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar, mesmo sem nunca ter ouvido ela.
- O que uma brasileira faz por aqui?
Meu olhar sobe, passando pelo vestido amarelo florido até chegar no rosto sorridente dela.
Como se não tivesse certeza antes, a visão dos cachos castanhos e dos olhos verdes me dão a confirmação de que não estou ficando louca.
Mas o quê...? Não é possível! Como...
Não termino meu pensamento, meu corpo fraqueja. Me sinto tão cansada, esgotada, que não tenho forças para pensar. Minhas pernas cedem e meus joelhos batem no chão com um estalo seco.
- Você está bem? - Ela se agacha rapidamente e me apoia em si antes de meu corpo cair ao chão.
Quando sinto seus braços em minha volta uma angústia toma conta de mim, fazendo-me chorar.
- Está tudo bem, calma. - Sua mão acaricia meu rosto. - Vai ficar tudo bem.
- ¿Qué pasa aquí? - Ouço outra voz conhecida atrás de mim, dessa vez de um timbre masculino.
- Ela apareceu aqui agora a pouco. Parece exausta...
Então não consigo ouvir mais nada. Sinto meus olhos pesados e o sono me vence.
-- x --
Quando acordo, não reconheço nada. O quarto é diferente, a cama, as paredes, os móveis... A única coisa que me parece familiar é a blusa de frio pendurada na porta do armário do canto. Mas talvez aquele tênis no chão...
Então as lembranças voltam. Os acontecimentos passam pelos meus olhos como se estivessem em uma passarela, mostrando tudo o que têm.
A rapidez com que levanto assusta a mulher sentada ao lado da cama.
Ela é exatamente como nas fotos. Como em minha memória.
- Você acordou! Dormiu por quase um dia. Achamos que estivesse em coma. - Ela comenta, rindo. Então vejo o dono da outra voz no canto do quarto. Ele se aproxima.
Como isso é possível? O acidente aconteceu. Hernando os matou. Então como podem estar bem aqui, na minha frente?
- Está melhor, querida?
Ela pergunta. O jeito carinhoso com que fala quebra mais uma barreira dentro de mim. Sinto uma lágrima escorrer pelo canto do meu olho enquanto assinto, vagarosamente.
- Deve estar com fome. Fiz uma sopa nutriente para você. - Ela põe o prato em minhas mãos, mas não consigo comer. Não consigo tirar os olhos dela. - O que foi?
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Nova Família, Nova Vida
Teen FictionO que você faria se de repente sua vida virasse de cabeça para baixo? Se tivesse que mudar de casa, ganhasse uma família nova e passasse a viver em um mundo totalmente diferente do dia para a noite? ...