3 | Não vai mesmo me falar a verdade?

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O refeitório do ALPHA era muito bem iluminado e, lógico, expansivo. Duas portas de vidro grandes davam entrada para o lugar. Como eu não jantei ontem e nem tomei café hoje, era a primeira vez que eu oficialmente pisava aqui.

Luca e Alessandro estavam comigo.

Dezenas e mais dezenas de bancos, cadeiras e mesas distribuídas ao redor me intimidavam, porque nem que eu juntasse o refeitório da mai­or escola que já estivesse vinte vezes se compararia ao tamanho deste aqui. À direita, onde um grupo de pessoas formava uma pequena fila, estavam os funcionários que serviam o jantar. Pelo que Luca me falou, poderíamos escolher o que quiser — era meio que um self service. Vi que não valeria a pena destacar os diversos alimentos à nossa disposição, mas eu sabia que escolheria frango assado, macarrão, arroz e feijão.

O ambiente trazia aquele toque bem moderno — consequência da arquitetura branca e cheia de vidros esverdeados —, e, no centro do refeitório, na parte superior da parede, estava, em metálico, o símbolo da le­tra grega que dava o nome do colégio dentro de um escudo. A mesma simbologia também estava do lado direito dos nossos ternos.

Ao redor, pelo menos umas cinco TVs de mais ou menos cinquenta polegadas enfeitavam o topo do refeitório, todas transmitindo o mesmo canal de jogos esportivos.

— Os alunos podem comer em seus quartos? — perguntei, pensando se era suficiente a quantidade de cadeiras e bancos para eles.

— Podiam até o ano passado — explicou Alessandro quando chega­mos à fila —, mas muitos alunos não devolviam os pratos porque os deixavam em seus quartos. Aí o colégio acabou proibindo.

— Entendi.

— Ei, pelo que eu vi no seu horário, você terá Educação Física no úl­timo tempo amanhã, além de sexta-feira — comentou Luca, o entusiasmo na voz. — Outra matéria que faremos juntos. Você pratica o quê?

Dei de ombros e coloquei ambas as mãos nos bolsos.

— Vôlei.

— Maneiro. Sua professora é a Juliana. Os meninos se amarram nela.

— É um professor para cada esporte?

— Sim. E você teve sorte de ficar com Juliana — explicou Alessandro com um sorriso largo. — Ela é muito gostosa.

— Cara, ele não curte isso — murmurou Luca.

— Na moral? — Alessandro me encarou. — Que pena, então. Acho que gostaria de ter pegado o professor de natação, então. As meninas pi­ram nele.

— Acho que eu não curtiria muito — comentei, já pegando minha bandeja para me servir. — Sou um gay ativo.

— Ah, entendi. — Alessandro coçou a cabeça. — Então acho que você está em desvantagem aqui.

Dei um riso único.

Demorei acho que um minuto para passar pela sequência grande de merendeiros — se é que recebiam esse termo mesmo em colégios —, e, no geral, os achei muito gentis, pois sorriram timidamente quando eu transitei entre cada um. Acabei pegando mais coisas do que pretendia. Esperei que minha dupla de colegas se servisse também para arrumar um lugar para se sentar.

Dentro mais olhares avaliativos em mim — inclusive da garota que havia falado comigo ontem no corredor dos armários —, procurei por a­quele que tinha um toque acinzentado. Não encontrei, mas preferi acreditar que o nível vasto de alunos contribuiu mais para isso do que considerar o fato de que ele realmente não deu as caras.

Acomodei em uma mesa qualquer com Luca e Alessandro. Constatei que os anos dos dois aqui lhes trouxeram um grande número de amizades — o que era comum —, e duas garotas vieram até nós (até eles, na verdade). Enquanto eu jantava, os assisti conversarem.

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