5 | Peça desculpas, amor, aí eu te libero

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[06 DE MARÇO DE 2020 — SEXTA-FEIRA]

Dei uma averiguada nos arquivos do colégio no Google por curiosidade e abri a ficha de Alec — Alec Garcia de Almeida era o seu nome completo. De fato, as fichas de todos os alunos estavam disponíveis no si­te, mas, antes que eu pudesse tirar muito proveito disso, elas só informavam o básico do básico.

Uma foto 3x4 de qualidade alta mostrava Alec sorrindo (sem exibir os dentes) para mim de um jeito sigiloso, e eu fiquei admirado por saber que, geralmente, as pessoas saíam horrível nelas. Ele não. Seu cabelo estava do mesmo jeito desfiado de sempre, mas suas pupilas surpreendentemente dilatadas eram o diferencial. Ele parecia excitado, extasiado com alguma coisa. Eu poderia até me condenar por usar tal termo, todavia, di­ante das frases que ele mesmo havia dito para mim na nossa não terminada primeira semana de convivência, achei que ela fosse realmente justa.

Além do sobrenome do garoto, descobri também o ano em que ele nasceu (03 de fevereiro de 2004), matéria favorita — Química Orgânica —, nomes dos colégios anteriores, média mensal das notas dos anos pretéritos e média anual do ano passado (9,6/10).

Um nerd com a língua ousada, constatei.

Fiz beicinho.

— Está gamado nele mesmo, hein? — Luca sorriu, saindo do banheiro enquanto enxugava seu peito nu. Usava uma calça preta; eu havia optado por uma jeans azul escura.

Alessandro ainda estava dormindo, o que me fez conferir o horário (9h23). Se por um lado eu dormia muito cedo, por outro eu acordava antes que meus colegas de quarto.

— Tenho um leve fetiche por pessoas misteriosas — confessei, fechando a aba com a ficha estudantil de Alec.

O frio parecia, além de ter sido arrastado de ontem para hoje, consideravelmente mais intenso, e isso me forçou a esfregar os braços à mos­tra ao me colocar de pé. Decidi, após pensar que não ficaria trancado no quarto — mesmo sendo uma opção plausível para me aquecer do frio —, que optaria por uma camisa preta de mangas longas. Abrindo o guarda-roupa, a peguei e vesti por cima da minha atual.

— E ele não é tão fechado assim como você disse — acrescentei, virando-me para Luca. — Alec.

Meu colega de quarto deu um riso e correu para seu guarda-roupa também para pegar uma camisa e jaqueta.

— Eu só te disse o que me falaram — comentou, distraindo-se em escolher sua vestimenta nos inúmeros cabides. — Alguns amigos meus me informaram que ninguém consegue arrancar muita coisa a respeito dele, se é que conseguem arrancar ao menos uma.

Eu queria falar que eu obtive um sucesso considerável perante isso ontem durante meu tour com Alec, mas, além de suspeitar que eu poderia estar soando presunçoso demais, pensei em outra coisa.

— Vai ver ele é reservado. — Cruzei os braços e encostei-me no guarda-roupa, observando Luca. — Ou seus amigos estavam precipitados.

— Pode ser. Vai ver todos os nerds são assim e eu não sei. — Ele virou sua cabeça na minha direção. — Tá curtindo ele?

— Ele? — Meu rosto vincou-se sutilmente. — Ou andar com ele?

— O garoto em si — sorriu. — Eu tenho que admitir: para um garoto que vive estudando, ele tem um corpão.

Não sabia decidir se achava graça ou estranho o comentário vir de Luca. Por que nerds não poderiam ser gostosos?

— Ei, eu não sou nem gay e nem bi, viu? — Virando-se, Luca começou a se vestir, a cara brincalhona. — Só sou bem descontruído o bastante para saber que sei quando devo elogiar um garoto da hora. E Alec é da hora, apesar de eu não saber nada além de seu nome.

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