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[13 DE MARÇO DE 2020 — SEXTA-FEIRA]

Duas meninas estavam me encarando na Educação Física com uma feição tão amável que eu me senti mal por elas. Quando as observei, suas bochechas ficaram rapidamente vermelhas, e ambas cessaram o contato visual, fingindo estar encarando outra região da quadra. Elas jogavam vôlei também, e, agora, esperavam a última partida do dia terminar. Por que, eu não sabia.

Juliana apitou dois minutos depois; com uma conferida da minha parte no placar no meio da arquibancada ao meu lado, vi que perdemos. O resultado ficou 11x13. Quase morto, atirei-me em um dos bancos e abri os braços como sempre fazia ao jogar sem parar.

— Eu ainda acho que você deveria tentar uma vaga no campeonato, Joshua — a professora falou perto de mim num tom gentil e encorajador.

Eu nem conseguia olhar para ela de tão cansado que eu estava.

— Professora, eu fiz meu time... perder.

— Não, na verdade. Você entrou no fim da partida, onde a diferença de pontos era de oito — lembrou-me. — A diferença caiu para dois quando a partida acabou.

Levantei meu rosto para ela e consumi um tempo para respirar melhor. Seus olhos cor-de-âmbar esperavam que eu me rendesse.

— Você ainda ganha uma bolsa de R$ 450,00 para participar dos treinos — incentivou-me. — É uma maneira de compensar seu tempo destinado a eles.

— E quantos dias seriam?

— Apenas um. O sábado inteiro. Das oito às dezenove horas.

— Direto?! — espantei-me.

— Não, há duas pausas. Uma para o almoço e outra para o lanche da tarde. — Ela andou para pegar a bola de vôlei na quadra. — Poderá vi­sitar sua família tranquilamente à noite.

A observei por um tempo enquanto, aos poucos, pensava na possi­bilidade de aceitar. No fim das contas, eu curtia vôlei mesmo e não me im­portava de ficar algumas horas a mais no colégio. A única parte que me fazia torcer o nariz era que eu teria de ficar meio que sozinho — no sentido de não ter amigos —, ninguém conhecido para me fazer companhia.

Valeria a pena?

Pensativo, vaguei meus olhos pela quadra e vi Matthew caminhando no meio da quadra de basquete com sua dupla de amizade escrota. Os três encaravam uma garota bonita do vôlei, e seus olhos sedentos me fizeram sentir pena dela. Quando o olhar de Matthew me pegou, seu traço risonho logo foi-se embora, e ele, não sei se para bancar o imbecil ou porque realmente precisava fazer isso, ajeitou sua rola no short do colégio com a mão num gesto bem desnecessário. Que merda. Eu podia notar sua decepção por me ver firme e forte no ALPHA depois do que aconteceu ontem.

Fiz careta e parei de encará-lo.

— Eu vou pensar — murmurei para Juliana. — Darei minha resposta na semana que vem, tá bom?

Ela sorriu e amarrou seu cabelo loiro.

— Sem problemas.

— Sem problemas

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