6 | Você não é ator pornô, né?

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[07 DE MARÇO DE 2020 — SÁBADO]

O final de semana chegou — um dia ensolarado e com um aumento significativo na temperatura.

Como Alec havia falado ontem, a cena em que os alunos iam de encontro ao carro de seus pais no estacionamento do ALPHA era muito e­nergética, carregada de um fluxo interminável de adolescentes, vozes a­montoadas e sorrisos estampados da forma mais alegre possível. Quem não conhecia o colégio até poderia chegar a pensar que éramos mantidos sob tortura constante cinco dias por semana.

Eu tentei encontrar o rosto de Alec e possivelmente sua família tam­bém vindo buscá-lo, porém, diante de tantos jovens passando na minha frente, ficava difícil realizar meu intento.

Eu estava encostado no corrimão da entrada do colégio — um que se localiza nas escadas para ficar no mesmo nível que o térreo do colégio — esperando meus pais. Deveriam ser umas 10h. Minha mochila vermelha, junto às minhas roupas pessoais e aos uniformes usados, estava descansada em meu ombro. No fim das contas, acabei por usar somente três dos meus cinco uniformes do colégio, então não precisaria lavar os outros dois.

Alguns responsáveis pelo ALPHA — incluindo a diretora — se encontravam perto da entrada, visualizando os alunos deixarem o colégio e par­tirem para o estacionamento. Minha visão estava fixa em Sandra quan­do vi Ana caminhar até mim, o sorriso mais largo do mundo.

— Oi, gato. — Ela me abraçou e esfregou minhas costas; mais uma vez eu sentia o shampoo de morango saindo de seu cabelo cor de fogo. — Vai ficar por aqui ou vai para casa?

— Para casa — respondi ao terminarmos o afeto. — E Estela?

— Já foi embora há uns minutos. Ela tem aula de violino todos os sábados às dez.

— Ah...

Ana correu seus olhos pelo estacionamento gigantesco e sorriu.

— Isso só acontece comigo ou você também, olhando os outros jovens partirem, se sente estranhamente triste ao ter que deixar o colégio nos finais de semana?

Pensei a respeito e dei de ombros. Era estranho pensar que, para ape­nas uma semana de convivência no ALPHA, essa sensação mencionada por Ana fizesse um pouco de sentido.

— Sim. — As linhas da minha expressão de uniram. — E isso porque eu odiava o colégio no primeiro dia.

Ela riu a voltou seu olhar para mim. Eu notei, não sei ao certo se por conta do ângulo em que os feixes de sol incidiam em seu rosto, que o a­zul de suas íris tendia mais para o verde nas manhãs.

— Posso te perguntar uma coisa?

Ana concordou.

— Você... conhece o Alec? — Eu não tinha a mínima ideia de como não soar interessado. — O de óculos?

— Alec Garcia? — Sua visão estava concentrada no chão a alguns metros atrás de mim.

— Isso.

— Eu só... o conheço de vista. — Ela tirou parte de seu cabelo volumoso do rosto, já que o vento o bagunçava. — Sei que ele é bem inteligente. E bem gato — ela riu —, mas infelizmente ele é gay. — Franzindo a testa e fingindo estar chateada, Ana me olhou. — Aliás, porque todos os garotos lindos são gays? Ai, que sacanagem...

Ri diante do comentário inesperado.

— Há garotos héteros bonitos também.

— Exatamente. Bonitos. Não lindos.

ALPHAOnde histórias criam vida. Descubra agora