17 | Os créditos são do Alec

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[19 DE MARÇO DE 2020 — QUINTA-FEIRA]

Betto estava me mostrando algumas fotos de suas drag queens favoritas no café da manhã de quinta-feira. Ele era o único que estava comigo no refeitório — meus colegas de quarto se encontravam em algum lugar aleatório do ALPHA e Alec estava resolvendo uma atividade de seu professor de Biologia com outros alunos.

— Essa é a Lorelay Fox. É brasileira — disse Betto, virando a tela de seu aparelho celular para mim. — Ela tem um canal no YouTube. Os vídeos dela são maravilhosos. Me inspiram.

Lorelay estava de cabelo platinado na foto, e o conjunto todo de sua transformação a deixava incrivelmente fascinante. Supostamente falando, o garoto por trás da maquiagem era bonito — isso me lembrava Betto.

— Linda — elogiei, bebendo o último gole do suco de laranja.

— Eu tenho uma peruca igual a dela. Aquela que eu usei na festa. — Betto deixou seu celular de lado e, corado, me olhou de forma apaixonada. — Drag queens são tão... fantásticas.

Eu sentia sua paixão irradiar, fazendo-me abrir um largo sorriso de admiração.

— É notável que você ama isso — comentei. — Acho que tem que ser muito corajoso em encarar o mundo com esse trabalho de se montar.

— Ser LGBT já é sinônimo de coragem. — Suas bochechas enrubesceram mais. — Fiquei grato pela homofobia ser criminalizada ano passado, mas fico triste também por saber que há uma lei que protege mulheres e, mesmo assim, ela mal funciona. Se é que funciona. Então não me sinto totalmente protegido.

— E o ALPHA já não ajuda também, hein?

— Pois é. — Betto balançou o rosto em reprovação. — Mas eu acho que isso vai mudar. Não sei se você sabe, mas uma parcela muito grande dos estudantes daqui é do vale, e essa parcela aumenta a cada ano. Se o colégio continuar condenando gestos homoafetivos, poderá perder seu status com o tempo. — Ele deu uma conferida no tamanho da fila rapidamente. — Hum... Você se importa se eu pegar mais suco?

— De forma alguma.

Ele pôs-se se pé.

— Que mais? — perguntou.

Estendi meu copo para ele. O suco realmente estava muito bom — forte e doce, do jeito que eu curtia.

— Por favor.

Pegando nossos copos, Betto retornou à fila.

Eu virei meu corpo 180° no banco para ver os demais alunos do colégio no refeitório. Havia o grupo de jogadores de futebol, o dos inteligentes — era o mais fácil de identificar, pois vários cadernos estavam espalhados na mesa enquanto tomavam café —, o das meninas padronizadas e todas iguais... e uma delas, inclusive, estava vindo na minha direção com um sorriso malicioso que eu não entendi. Era loira natural, possuía olhos verdes e, como se já não bastasse toda a sua boa genética de Barbie perfeita, tinha corpo magro, do tipo que outra menina mataria para possuir. Para ser sincero, não achava que ela fosse realmente falar comigo, mas, à medida que a distância entre nós reduzia, vi que eu estava certo.

— Oi. — A única palavra foi dita sensual e lentamente. E não, não chegava nem perto do modo como Alec fazia.

Sem permissão, ela sentou-se no meu colo — no meu colo! —, dando a entender que eu tivesse lhe dado uma permissão antecipada de que poderia fazer uma coisa dessas. Como se já não fosse suficiente tamanha intimidade não convidativa, ela rodeou os braços no meu pescoço, e, uma vez realizado o gesto, afastei meu rosto franzido do seu.

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