[14 DE MARÇO DE 2020 — SÁBADO]
De vez em quando eu via os organizadores da festa passando pelos corredores do colégio, e, nem precisando dar uma conferida na quadra para ver como as coisas andavam, eu sabia que seria uma festa do caralho. Avistei dois globos de discoteca grandes sendo levados por um dos homens e uma sacola com fitas prateadas carregadas por outro. Não ficaria surpreso se o dinheiro arrecadado para hoje pudesse comprar um Camaro zerado.
— Eu adooooro esses sábados — comentou Ana ao atirar seu corpo na mesa do refeitório na hora do café da manhã. Seu cabelo em tom de fogo e volumoso estava solto hoje. — Adoro ficar aqui nos finais de semana.
Como nem todo mundo iria à festa à noite, isso dava um ar mais vazio ao refeitório se comparado aos demais dias. Não era preciso enfrentar uma fila de vinte alunos, por exemplo, para pegar meu bolo de cenoura hoje. Tentei, antes de me sentar, encontrar o rosto de Alec no meio dos alunos espalhados pela região, mas não o vi.
— Para jogar truco, não é? — provoquei, dando uma enorme mordida no meu bolo.
Ana virou sua cabeça para piscar seus olhos azuis esverdeados em choque e colocou sua mão no peito, fingindo-se estar ofendida.
— Aqui em Paris nós desconhecemos a palavra "truco".
Eu ri.
— Quem foi que me dedurou? — Ana quis saber.
— Um passarinho.
— Ai, eu vou matar o Luca. — Ela voltou a encarar o teto, sentando-se no banco, os braços ainda abertos. — É, eu tenho baralho. Todo preto. Os naipes são azuis e brilham no escuro. Uma das minhas mães me deu escondida da outra.
A última frase me deu algo para pensar.
— Posso perguntar uma coisa sobre...
— Eu sei o que você vai perguntar. — Ana pausou um pouco, e sua voz era natural quando continuou. — "Por que elas, que são lésbicas, deixaram você estudar num colégio que é contra afetos homossexuais, já que isso fere quem elas são?", não é?
Concordei em um murmúrio cauteloso, comendo mais bolo.
— Eu que insisti — respondeu. — Eu sempre quis estudar aqui. O ALPHA é... diferente de qualquer outro colégio que já estive. Melhor, sabe? É praticamente uma universidade também.
— É, eu tenho que concordar.
Um assovio vindo da entrada do refeitório, seguido pela chamada do nome de Ana, me fez observar quem era. Luca e Alessandro, claro, que decidiram ficar no colégio ao invés de irem para casa — o baralho em suas mãos era o motivo.
— Ah, finalmente. — Ana deu um salto, saindo da mesa. — O dia vai ficar divertido agora. Não quer vir com a gente?
— Eu não sei jogar. — Antes que ela pudesse insistir, pensei que haveria outra coisa que pudesse me interessar mais que um jogo de cartas. — Eu vou procurar por Alec também. Vou ver onde ele está.
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ALPHA
RomanceDentre tantas coisas negativas que Joshua Rodriguez esperava passar no renomado colégio de elite chamado ALPHA, onde agora ele frequentaria seu último ano do ensino médio, ele sequer imaginou que Alec Garcia, um garoto nerd que conheceu sem querer...