9 | Juro que não foi minha culpa

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[12 DE MARÇO DE 2020 — QUINTA-FEIRA]

Faltando uns quinze minutos para que a aula de quinta começasse, eu decidi pensar a respeito de Alec enquanto estava sentado na minha cama, fitando meu guarda-roupa sem intenção alguma. Luca havia partido faz tempo com sua garota — Carla —, e o único que me fazia companhia era Alessandro, que escovava seu cabelo loiro e encaracolado diante do espelho perto da porta.

Nós dois ficamos em silêncio por um longo período.

— Você tá meio calado hoje — comentou ele distraidamente.

Virei minha cabeça para sua direção, minhas mãos apoiando meu queixo. Isso era consequência de passar a manhã inteira pensando.

— Mas o dia mal começou — o lembrei.

— Ainda assim, você tá muito quieto. — Ele jogou o pente em sua cama e levou seus olhos pretos para mim. — Brigou com Alec?

— Briguei? — repeti, avaliando a palavra. — Não. Não aconteceu nada. Eu só estou... — Devagar, franzi o cenho ao compreender o sentido da pergunta. — Espera, a gente não namora.

E, aliás, como ele sabia disso?

— Eu sei. — Alessandro caminhou para pegar um livro da bolsa ao lado do Mac. — Mas amigos brigam também.

Só agora me dei conta de que me entreguei sem querer. Afinal, por que eu tive de esclarecer justamente que Alec e eu tínhamos alguma relação amorosa?

— Luca te falou? — deduzi.

— Sobre Alec? Tá todo mundo falando.

Enruguei meu semblante.

— Quê?

— O garoto é popular, caso não saiba — ele sorriu para mim. — Pergunte para qualquer pessoa se ela conhece o aluno chamado Alec para ver o que ela vai dizer. Nem precisa mencionar o sobrenome.

Isso me fez sorrir inesperadamente.

— Se todo mundo sabe sobre nós, então por que eu não fui para a direção? — Pela segunda vez?

O rosto de Alessandro ficou cauteloso.

— Porque vocês não estão fazendo nada errado — respondeu, sentando-se na cadeira em frente ao Mac para calçar os tênis. — Ou estão?

— Com certeza não.

Chegava a ser sufocante não ter nenhuma liberdade neste colégio que não ferisse as regras contra afetos de pessoas do mesmo sexo.

— Você curte ele? — perguntou Alessandro.

Suspirei e joguei minhas costas na cama.

— Olha, eu não vou mentir para você, não: eu estou começando a gos­tar dele. — Fitei o teto asséptico do meu quarto e pensei mais a respeito. — Sei lá se é muito cedo para isso, mas... ah, eu sei lá.

— "Sei lá" — repetiu ele, achando graça, e se colocou de pé para pegar o terno do colégio. — Bom, Alec é um garoto bem legal. Ano passado eu pedi ajuda dele em notação científica, pois precisaria no assunto de Física, e ele me ajudou. Ele é inteligente pra porra.

Por algum motivo eu gostava de ouvir alguém o elogiar.

— Gosto muito das roupas dele também — completou. — Ano passado houve uma festa temática sobre as décadas anteriores e os segundos anos haviam ficado com os anos 1970 e 1980. Ele foi o que veio mais bem vestido.

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