12 | Outro dia eu conto tudo a você

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— Danilo — suspirou Alec, nada amistoso. Mesmo assim eu podia detectar um toque de receio em sua voz. — Não te vejo desde o ano passado.

Mas quem é esse rapaz?

— As férias em Paris se prolongaram mais do que eu esperava. — Danilo me olhou rapidamente. Suas palavras eram tão incomuns de serem pronunciadas que eu quase pensei que ele fosse de mentira. Parecia um garoto vindo de uma época medieval, onde o formalismo era absurdo; a­té o jeito em que suas mãos estavam unidas à sua frente me causou tal impressão. — Cheguei hoje pela manhã. Meu pai sugeriu que eu ficasse na mansão e viesse para a aula na segunda, mas eu não podia perder a oportunidade de embarcar nessa festinha.

— Que pena — lamentou-se Alec, para minha surpresa.

Era engraçado e gratificante ficar sobrando no diálogo de ambos.

Os olhos de Danilo brilharam divertidamente na direção do nerd, como se os dois carregassem um segredo que somente eles — mais ninguém na face da Terra — sabiam.

— Vejo que está bem acompanhado. Quem é o cavalheiro?

Que esquisito esse jeito de falar, bicho...

— Joshua. — Alec me observou um instante, voltando a encarar Danilo. — Eu gostaria de apresentá-lo, mas estamos realmente ocupados.

A forma apressada que Garcia usava me deu garantia de que seria muito mais vantajoso que não fôssemos apresentados.

— Eu compreendo. — Danilo me olhou por um segundo e sorriu. — Vou ver o que eles reservaram para o vinho este ano. Com licença.

Alec não respondeu. Seu rosto continuou impassível até mesmo depois que Danilo dirigiu-se a uma das gigantes mesas de comida.

— Ele é seu ex? — perguntei.

Seu rosto vincou-se em desprezo.

— Lady Gaga que me defenda...

— Então... quem ele é?

Alec, meio agoniado, voltou a encarar o garoto que evidentemente ele repudiava.

— Você se lembra de que eu havia dito na quarta-feira retrasada, na hora do café da manhã, lá no refeitório, que você não deveria temer por Matthew? Porque existiam garotos piores que ele?

Eu assenti depois de dar uma vasculhada breve no meu cérebro.

— Então. — O rosto de Alec foi mais enrugado. — Danilo é o tipo de adolescente que você deveria manter distância. Para valer. Ele sim é perigoso.

Eu achava difícil acreditar que existia uma pessoa mais temível que Matthew no colégio, mas, pensando um pouco melhor, Matthew era um babaca metido a machão — e não passava disso. Já me lembrando da feição de Danilo há poucos minutos, despreocupado e aparentemente i­no­fensivo — e com características de gente de elite —, tive o conhecimento de que ele era inteligente demais para se rebaixar ao nível dos escândalos do garoto loiro que eu desprezava. Quer dizer, obviamente Alec não se dava bem com Danilo, porém, mesmo assim, o ruivo não fez nenhuma brincadeira de mau gosto ou usou palavras de ofensa — como Matthew fazia.

— Mas o que exatamente aconteceu?

Sandra, nossa diretora, deu duas batidas no microfone da quadra para chamar a atenção de todos.

— Outro dia — murmurou Alec, colocando-se de pé. — Outro dia eu conto tudo a você.

Assenti de novo, embora sem pensar, e caminhei receosamente com ele para mais perto da diretora, que iniciaria agora suas boas-vindas aos alunos novos — grupo no qual eu me encaixava. Do lado oposto a nós, com um olhar esquisitamente alegre e oculto, Danilo nos assistia andar para o centro da quadra. Foi só depois que eu percebi que o "nos" não era o termo certo.

ALPHAOnde histórias criam vida. Descubra agora