2 | Ele está aqui desde o primeiro ano

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Eu entrei pasmo no meu quarto depois da cena de dois minutos a­trás. Sinceramente, se o outro aluno com quem eu dividiria o quarto não tivesse acenado para mim, seria muito provável que eu fosse ignorá-lo sem querer.

— Ei, novato! — Ele me deu um abraço ligeiro e bagunçou meu cabelo, demonstrando ser tão calórico quanto Luca. Em sua mão, havia uma maçã mordida. — Estava curioso para saber quem era o boy gostosão de quem Luca se referia.

— Não me entrega assim, não, mano! — reclamou uma voz com humor vindo do banheiro, fazendo-me achar graça.

O adolescente à minha frente era loiro (o cabelo encaracolado estava bem curto), tinha olhos pretos, possuía minha altura e usava óculos redondos. Ver o objeto em seu rosto me fez franzir a testa ao interligá-lo àquele aluno que vi ainda a pouco. De corpo, o jovem era forte, mas não do tipo de escultura que se adquiria na academia, e sim porque ele era as­sim mesmo.

— Oi — sorri, deixando minha mochila na minha cama. — Me cha­mo Joshua.

— Sou Alessandro. — Ele mordeu a maçã. — Seus pais vieram aqui entregar sua vestimenta. Os encontrei faz uns dez minutos.

— Meus pais? — Arqueei as sobrancelhas e fui ao meu guarda-rou­pa.

— Gente fina, eles. Parecem muito contigo.

Realmente eles trouxeram minhas roupas, principalmente aquelas que eu exigi: camisas de frio, pois, como se já não bastasse morar na região provavelmente mais gélida do Brasil, as salas possuíam não só uma, mas duas centrais. Vieram também algumas jaquetas, tênis, uma porção de cuecas, roupas leves, toalhas, meu perfume amadeirado, calças, shorts... E o meu fone de ouvido que eu fiz o favor de esquecer.

Ah, que coisa boa...

— Sabe jogar futebol? — perguntou-me Alessandro.

Fechei meu guarda-roupa e voltei minha atenção para ele.

— Não manjo. Gosto de vôlei e pingue-pongue.

— Gosto também. — Ele pegou a sua toalha quando viu que Luca havia saído do banheiro. — A gente vai treinar agora. Tá a fim de ir?

Fiz uma expressão de exaustão. Não sei exatamente como eles conseguiam praticar esportes depois das exaustivas aulas, mas esperava conseguir fazer o mesmo também com o tempo.

— Foi mal, eu estou morto hoje — suspirei, jogando-me na cama, e abri os braços. — Só quero tomar um banho e descansar um pouco. Espero que não se importe.

Ele sorriu.

— Não, tá tudo bem. Eu já volto. — E entrou no banheiro.

Virei minha cabeça na direção de Luca, que secava seu cabelo com a toalha.

— E aí? Como está sua estadia aqui no ALPHA?

Pelo jeito que ele se expressava, duvidei muito de que alguém fosse capaz de fazê-lo se irritar.

— Tirando a aula de Redação que tive — murmurei —, está tudo correndo bem.

— Quem é sua professora?

— Tânia.

Luca fez careta e foi em direção ao espelho em seu guarda-roupa dar os toques finais em sua aparência.

— Os alunos a chamam de Thanos. Tanto o nome quanto a per­so­nalidade dela são muito parecidos com o vilão.

Eu ri.

— Ela só é um pouco impaciente — expliquei.

— Ainda bem que não peguei a matéria dela esse ano. — Luca, uma vez já terminado de se arrumar, virou-se para o computador, caminhando-se até ele. — Alguma coisa a mais?

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