ten

5.1K 441 121
                                    

Preparei um bom café da manhã para tentar levantar o astral de Elizabeth, que dormia pesadamente no sofá. Separei algumas roupas que achei que coubessem nela e deixei em cima da bancada para que ela pudesse se trocar quando acordasse. Talvez fosse melhor que ela ficasse em casa, mas duvido que faria isso sabendo que tem tanta coisa em jogo. Liguei para Chris algumas vezes, mas não obtive resposta, teria que encontrá-lo na empresa.

Abri o computador e pesquisei tudo o que pude sobre Luke: trinta e nove anos, casado com uma modelo, rico o bastante para ter tudo o que desejasse. Típico. Alguma coisa tinha o motivado para, de repente, querer essa aproximação repentina com seus filhos. Elizabeth sabia que não conseguiria lutar com um cara que tinha tanto dinheiro, era assim que funcionava no mundo dos homens. Tudo é sobre posse.

Ouvi um bocejo e fechei o computador, dando de cara com Liz, que se espreguiçava no sofá. Não notei o despertador tocando há alguns minutos, e talvez isso a tivesse tirado de seu sono profundo. Ela olhou para mim, parecendo procurar por algo em meus olhos, e eu apenas me levantei, indo até sua direção e jogando-me ao seu lado no sofá.

-Desculpa por ontem. -Ouvi sua voz vacilante ecoar pela sala.

-Tudo bem, não foi nada. -Ela se sentou, prendendo seu cabelo no alto da cabeça e sorrindo fraco. -Como você se sente?

-Acho que eu precisava pôr tudo para fora, mas agora não há mais tempo para isso. -Assenti, tentando entender sobre o que aquilo se tratava. -Não posso perder meus filhos para um riquinho de merda, eles não significam nada para ele.

Sorri, e encontrei a Elizabeth que eu conhecia de verdade. Talvez ela estivesse certa, precisava se livrar de todo aquele desespero para que pudesse finalmente ter um pouco de determinação.

-Falei com uma velha amiga ontem à noite. -Franzi o cenho, e ela logo se explicou. -Acho que ser amiga de Annalise tem suas vantagens.

-Bom, eu não a conheço, mas se isso vai ajudar eu fico feliz.

O cheio do café pronto se espalhou por toda a sala, e vi a carinha esfomeada de Elizabeth se contrair. Ela olhou para o relógio da sala e respirou fundo, voltando sua atenção para mim.

-As crianças provavelmente já estão de pé, preciso ir para a casa, meu irmão não pode cuidar delas por muito tempo. -Ela se levantou, buscando seus sapatos pelo chão.

-Separei uma roupa para você, vou embalar um pouco de comida para você tomar café da manhã com eles.

-Amelia Ducain, você é um anjo! -Sorri, indo até a cozinha para separar algo para ela.

                                      ***

Corri até o escritório, seria um dia tão cheio que eu mal teria tempo para descansar uns minutinhos. Alguns investidores chegariam de Tóquio para uma tarde cheia de reuniões, e muito dinheiro estaria em jogo. A Hemsworth Company ficava mais rica a cada dia, e era um crescimento tão acelerado que nem os próprios administradores conseguiam acompanhar. E eu era um deles.

Cheguei ao meu escritório alguns minutos atrasada, e Liz ainda não havia chegado. Talvez tivesse tirado um dia de folga para resolver os problemas com o Luke. Minha mesa estava uma bagunça: documentos, planilhas, projetos e cheques espalhados por todo lugar. Eu teria que ter muita paciência para arrumar tudo isso e ainda organizar minha apresentação. Tudo tinha que estar perfeito até o fim da tarde, e eu não teria ajuda para isso.

Deixei meu projeto separado num canto da sala e comecei a organizar a mesa, separando o que era importante e o que eu poderia passar adiante. Era um trabalho árduo, ter que ler tudo aquilo novamente para não cometer erros, porque se algo importante fosse para o lixo me geraria mais problemas mais tarde.

Ouvi gritos vindo do corredor, e não demorei até notar a voz do homem que viera até minha sala um dia atrás. Luke Hemsworth escandalizava ao lado de fora da sala de Chris, agindo como um louco berrante. Todos o encaravam assustados, e Chris tentava acalma-lo, sem querer chamar mais atenção.

-Você sempre foi perfeito, não é, Christopher? -Luke gritava em alto e bom som.

Vi Chris olhar para mim do outro lado do corredor, e não soube o que fazer. Assisti ao "espetáculo", temendo que algo pior pudesse acontecer.

-Inteligente, engraçado, gentil, um garanhão romântico que conquista todos. -Chris estava sem paciência, e tentava arrastar seu irmão para sua sala novamente, o qual se negava a colaborar. -Mamãe e papai amam te pôr num pedestal! Mas Luke? Não... Luke é um babaca, um mimadinho que não tem nada.

-Luke, já chega!

-Acha que eu não canso de viver na sua sombra? -Ele continuou, ignorando os pedidos de Chris para que parasse com seu pequeno show.

Num milésimo de segundo, vi Luke estender seu braço. Foi quase imperceptível. Ele socou Chris no rosto, que revidou na mesma moeda. Luke tentava ir para cima, mas Chris era muito bom de briga, e se afastava, tentando evitar algo pior. Os seguranças apareceram depois de alguns minutos, e Luke foi carregado para fora dali. Os funcionários não queriam parecer intrometidos, mas era impossível não prestar atenção. Chris olhou para mim uma última vez e foi em direção ao banheiro. Todos voltaram a trabalhar, mas falariam disso pelo resto da semana, sem dúvidas.

Voltei para minha sala, tentando terminar de organizar o que eu havia começado, mas não pude me concentrar por muito tempo. Quando menos esperava, já estava indo à procura de Chris, para tentar amenizar o que tinha acontecido anteriormente.

Abri a porta do banheiro em que ele se encontrava, e o vi lavar o machucado de um jeito desengonçado. Talvez estivesse doendo mais do que parecia. Seus olhos encontraram os meus através do espelho, e ele apenas continuou o que estava fazendo.

-Banheiro masculino. -Sorri fraco.

-Idiota.

Fui até a pia, sentando-me, assim como Liz sempre fazia quando queria contar alguma fofoca ou pagar de psicóloga para cima de mim. Ele terminou de limpar o sangue que estava escorrendo de seus lábios e olhou para mim.

-Quer falar sobre isso? -Perguntei, e ele só deu de ombros.

-Ele só está interessado nas crianças por puro egoísmo, não vai ser difícil ganhar dele no tribunal.

-Puro egoísmo?

-Acho que ser pai te garante uma imagem de bom moço. -Ele deu de ombros novamente, estava muito distante daqui.

Chris lavou as mãos, depois as secou, checou o machucado novamente, e depois olhou para mim, procurando por algo. Acho que ele estava emocionalmente mal, mas não queria tocar no assunto.

-Bem, preciso me preparar para a reunião de hoje, vou indo. -Desci da pia e toquei em seu ombro, tentando transmitir um pouco de gentileza no gesto. Ele sorriu e retribuiu o gesto acariciando minha mão.

-Amelia? -Ele me chamou quando eu estava quase saindo, e quando virei-me para ver, senti seus lábios pressionados contra os meus. Retribui o beijo, encostando minhas mãos em seu rosto.

-Preciso ir. -Disse quando nos separamos, e segui para minha sala, deixando-o no banheiro.

the proposal • chris hemsworthOnde histórias criam vida. Descubra agora