twenty four

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Os dias passaram correndo, talvez por eu ter tantos compromissos que mal tinha tempo para pensar, por mais que existissem um turbilhão de coisas rondando minha mente durante toda a semana.  Depois do desentendimento com Chris, voltei ao meu escritório e fiz o que ele pediu, enviando todos os relatórios que eu tinha em meu computador, recebendo apenas um "Obrigado" como resposta. Não recebi notícias suas depois daquilo, por mais que já fosse quinta-feira, e meu voo para Melbourne estivesse agendado para amanhã de madrugada.

Um dia atrás, recebi a visita do advogado chefe da Silla's Corporation, e minha ocupação no cargo parecia cada vez mais real, deixando minha mente cheia de ideias que eu não tinha certeza de que podiam realmente acontecer, já que não dependia apenas de mim. Quando eu voltasse de viagem, teria de ir para a reunião decisiva com Viola, assinando o contrato que me tornaria oficialmente a presidente da empresa a qual eu ingressaria.

Era noite, e Liz estava jogada na minha cama enquanto eu arrumava minha mala, ainda relutante sobre se eu deveria ir ou não ao jantar. Ela me ajudava a escolher as roupas que eu deveria levar, julgando-as como sexy ou não. Tudo o que eu conseguia fazer era rir, por mais que a preocupação martelasse em minha cabeça por todo o tempo.

-Vinte horas de viagem? -Elizabeth pesquisou a duração do voo a pedido meu, e me joguei na cama ao seu lado só de pensar em passar tanto tempo num avião novamente. -Forças, guerreira.

-Vai ser tão estranho. -Levei minhas mãos ao rosto, e senti Elizabeth balançar meu corpo para tentar me animar.

-Não se preocupe, vocês vão se acertar, é muito tempo presa num avião com alguém, e é a segunda vez que vocês ficam assim. -Ela acariciou meu cabelo por alguns minutos, e depois se levantou, indo em direção ao meu armário, segui seus passos com o olhar, e a vi retirar o vestido que Chris me dera para o baile e me encarar. -Onde e quando vocês vão se encontrar?

-Uma da manhã no aeroporto. -Respondi.

Ela ajeitou o vestido contra seu corpo e se olhou no espelho, balançando o tecido enquanto me encarava risonha. Gargalhei de seu ato, e ela pôs o vestido na mala.

-Não vou levar, Chris não disse nada sobre o evento ser chique. -Elizabeth me encarou, parecendo que eu era um ser de outro mundo enquanto o fazia.

-Amelia, um jantar de aniversário de casamento da família Hemsworth sempre vai ser chique, não seja boba.

Ouvi batidas na porta da frente, e corri para ver quem era, e acabei esbarrando num móvel da sala, gritando de dor. Elizabeth passou por mim enquanto ria, e me sentei no banquinho ao lado do sofá enquanto esfregava meu dedo mindinho para aliviar a sensação agonizante que aquela batida provocou. Ouvi minha amiga abrir a porta enquanto eu ainda me lamentava, e sua voz de felicidade ecoou por todo o recinto, me fazendo querer saber quem era.

Quando olhei para Chris na entrada de minha casa, ele pareceu tímido, com uma pontada de nervosismo o consumindo. Eu estava do mesmo jeito, e um tanto surpresa, não podia negar. Não marcamos de nos encontrar ali, mas lá estava ele, e vi seu semblante procurar uma reação melhor que a que eu estava fazendo quando me encarou.

-Oi? -Eu disse, me levantando lentamente graças ao machucado, ele olhou para os meus pés, e sorriu fraco ao perceber o que tinha acontecido.

-Ela é desastrada. -Elizabeth cortou o silêncio, voltando para o quarto, enquanto Chris e eu apenas continuávamos nos encarando. Alguns segundos depois, a vi passar novamente pela sala carregando sua bolsa, e me dando um beijo rápido na bochecha, andando até Chris para fazer o mesmo. -Acho que aqui é minha deixa, tenham juízo, crianças, e aproveitem a viagem.

-Hey. -Chris finalmente falou ao ver que Elizabeth havia se retirado, e engoli o seco, nervosa com sua presença.

-Como foi sua viagem? -Perguntei, desviando de seu olhar e voltando para o quarto, a fim de fechar minha mala, que parecia pronta.

Ele me seguiu, e sentou na minha cama, onde Elizabeth estava anteriormente, parecendo procurar palavras para responder à minha pergunta. Seus olhos seguiam meus passos, e eu não sabia como controlar a sensação estranha que tomava conta de mim naquele momento.

-Pensei que íamos nos encontrar no aeroporto, caso ainda quisesse que eu fosse. -Falei novamente, sem esperar que ele me respondesse, e o vi se deitar em minha cama para encarar o teto. Calado demais, pensei.

-É claro que quero que você vá. -Ele olhou para mim, e eu suspirei, indo até ele para me deitar ao seu lado, encarando-o.

-Acha que podemos esquecer a baboseira que aconteceu depois da audiência e voltarmos a ser, sabe, seja lá o que somos.

-Sócios. -Ele falou baixinho, enquanto suas mãos colocavam uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. -Senti sua falta.

-Bem, o mundo é muito silencioso sem você tagarelando perto de mim. -Ele sorriu, e senti seus lábios se aproximarem dos meus para um beijo breve, vendo-o se levantar segundos depois para pegar minha mala.

-Precisamos ir.

*****

Quando chegamos ao avião, Chris não demorou a pegar no sono em sua poltrona, que estava em frente à minha. No carro, ele havia me contado que tinha acabado de voltar de Atlanta, então presumi que estivesse bastante cansado, já que ninguém é de ferro para passar tanto tempo em viagens aéreas sem capotar. Passei algum tempo acordada, vendo-o descansar plenamente, antes de também me render ao sono que tomava conta de mim.

Quando acordei, Chris já estava "de pé", lendo um livro que não pude identificar a capa, já que estava apoiado sobre uma pilha de travesseiro em seu colo. Ele me encarou ao me ver acordada, e sorri fraco para ele, que retribuiu o gesto, largando seu livro ao lado da poltrona.

-Como foi sua semana? -Ele perguntou, puxando meus pés para seu colo.

-Não descansei por um segundo sequer. E a sua?

-Foi entediante. -Ele encostou sua cabeça na poltrona, encarando o teto do avião. Algo parecia incomoda-lo, e temi que outro desentendimento pudesse acontecer caso eu perguntasse, mas minha curiosidade sempre fala mais alto.

Levantei meu pé, passando meus dedos pelo o seu rosto, e o vi rir por alguns segundos com o meu ato.

-Quem é o nojento agora? -Brincou, e o vi massagear o pé que eu acabara de usar para encrencar com ele.

-Chris. -Chamei sua atenção, e seus olhos encontraram os meus num gesto de dúvida. -Vai me dizer o que você tem?

-Isso é conversa para outra hora. -Ele mordeu meu dedo, e ri forçadamente com seu ato, sabendo que ele usara aquilo para me distrair do assunto.

Depois daquilo, conversamos sobre o que cada um fez nos dias em que ficamos longe. Chris frequentou diversas reuniões, ele não estava brincando quando disse que fora uma viagem entediante. Ele ficou feliz ao me ver contado sobre a reunião com o advogado da empresa que eu me tornaria presidente, e não pude sorrir ao ver seu olhar orgulhoso me encarar.

O resto da viagem fora apenas conversa jogada fora, e às vezes apenas nos distanciávamos sem perceber, ficando calados por longos minutos. Ele estava estranho, e meu coração doía por não saber o que o incomodava, tudo o que eu queria era poder ajudá-lo e ter o velho e irritante Chris de volta. Não ousei perguntar de novo, apenas dando espaço para que ele pudesse pensar em paz, todos tinham momentos assim, era parte da vida.

Quando chegamos em Melbourne, o relógio já apontava às nove horas, e seus pais já não se encontravam mais acordados, deixando recado para que o mordomo nos avisasse que eles tiveram um dia cheio, e que se desculpavam pela falta de educação. De qualquer jeito, estávamos cansados demais para sermos recepcionados de forma calorosa, era certeza que eles tentariam conversar pelo resto da noite, e eu não estava pronta para isso, já que a única coisa que meu corpo desejava era desabar na cama.

Chris me mostrou o quarto de hóspedes, e não houve provocações ou propostas indecentes naquela noite, era apenas um gesto educado, e isso impediu que eu dormisse assim que deitasse minha cabeça no travesseiro, fazendo com que a única coisa que minha mente pudesse pensar era de seus atos desde que voltou.

the proposal • chris hemsworthOnde histórias criam vida. Descubra agora