"A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação". II Co 7.10
Fernanda havia acabado de escutar toda a história sobre o passado de Victor. Sabia que fora arriscado sair sozinha de casa, ainda mais sendo noite, mas precisava saber quem ele era de verdade. Sua história era muito triste, tudo o que vivera no passado a deixou com o coração na mão. Era como se compreendesse a sua dor e tudo o que desejava era que ele nunca tivesse passado por aquilo.
Não sabia o que estava fazendo, mas ficou parada ao lado da porta com os olhos perdidos. Sua mente pedia para fugir, mas seu coração queria continuar ali. Quando Victor trancou a porta da sala seus olhos se encontraram. Ele não soube o que falar, e Fernanda apenas o encarava diferente das outras vezes. O psicólogo contemplou o seu olhar e pela primeira vez rendeu-se. Sabia que os olhos revelavam muitas coisas e deixou ser guiado pelo olhar profundo da sua parceira.
_ Victor! – sussurrou e se aproximou sem tirar os olhos dele _ Sinto muito por você ter passado por tudo isso. Não merecia!
Ele continuou a encarar em silêncio. Fernanda estudava os seus traços, principalmente o seu olhar. Sabia que ele era uma incógnita, mas a vida que teve não fora fácil. Isso não apagava o passado, mas sabia como isso influenciava no futuro.
_ Tudo bem! – escutou a voz baixa dele. Não tinha certeza, mas parecia ter sentido um tremor em sua voz.
_ Ninguém nunca lhe disse isso?
Percebeu o suspiro pesado que dera involuntariamente. Desviou os seus olhos e manteve seu corpo longe dela, pronto para dar o primeiro passo rumo à saída da escola.
_ Ei... Está tudo bem, Victor! – ela segurou a sua mão o fazendo parar _ As pessoas não sabem o que fazem.
_ Me solta! – escutou a voz forte dele.
Fernanda sabia o que havia falado para si mesma, que o manteria longe, que ele iria conhecê-la de verdade, mas estava pensando no sentindo oposto e não na pessoa calma que estava se transformando ao ouvir a sua história.
_ Victor... Olha pra mim! – pediu gentilmente apertando a sua mão.
_ Fernanda, sou um monstro, é melhor me soltar... Estou avisando – a voz tornou um tom diferente, mas ao final percebeu o desespero que ele mesmo tentava dissipar.
_ Não irei te soltar, Victor! Não importa o que você fez, estou aqui... Te esperando.
Ele não disse mais nada, apenas respirou profundamente. Sentiu a maneira forte que começara a apertar a sua mão. Não era para machucá-la, parecia tentar encontrar forças de algum lugar para o que estava sentindo.
Com passos delicados, e ignorando o rompante do seu coração ela se aproximou ficando de frente para ele. Seus olhos estavam vermelhos e o maxilar duro, tentava se conter a todo tempo. Ela não aguentou vê-lo daquele estado. Já não sabia quando seus sentimentos por ele começaram a mudar, mas não importava. Precisava fazer algo.
Gentilmente tocou o seu rosto, e beijou sua bochecha demoradamente, um ato de carinho, de amor genuíno. Ela sentiu o seu arfar com o toque. Da mesma maneira beijou o outro lado da bochecha, e depois pousou seus lábios sobre a sua testa. Em cada beijou ele arfava, mas no sentido mais puro e doloroso que já ouvira. A necessidade do toque, da cura sendo exalada daquela maneira a deixou emocionada. E pela primeira vez, percebeu o seu papel naquela história.
_ Realmente, sinto muito – sussurrou as palavras e beijou as suas mãos.
Ele abriu os olhos naquele instante e deixou que uma lágrima caísse. Fernanda pousou a mão sobre a lágrima e a pegou para si. Victor não precisava mais sofrer. Ele já provara o suficiente de que havia mudado. Não havia mentira alguma naqueles gestos.
Ele tentara fugir deles, fora o mais sensato dos dois, mas talvez não fosse isso que Deus quisesse. Em meio a todo o conflito em suas emoções uma luz se apoderou dela, tão clara e brilhante que ela não tinha dúvidas. Nada acontecia por acaso, nem um fio de cabelo caía da cabeça sem que Deus permitisse. Ele havia criado aquele dia, o momento, e para tudo havia um propósito, mesmo que ainda não compreendesse perfeitamente.
O silêncio se aproximou. Pela primeira vez não era algo incômodo, mas a quietude que ambos precisavam naquele instante. Há momentos em que as palavras não saem da boca, apenas sensações de que o momento por si só já fora significante. E a passos lentos e confidentes caminharam rumo a casa. Não houve mais toque, mas a distância necessária para a cura que ele precisava.
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Incondicional
RomanceFernanda era uma mulher bem sucedida profissionalmente. Com seus 26 anos tinha uma vida estável, mas ainda não se apaixonara. Apesar de ser uma mulher cheia de atitude, carregava algo que a impedia de amar. No entanto, o destino a fez conhecer Victo...