Capítulo 35

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Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu".  Eclesiastes 3.1

O sol descia lentamente desaparecendo entre as montanhas. O frio já conhecido começou a surgiu deixando Fernanda arrepiada nos braços. Levantou-se do chão de barro onde estivera sentada nas últimas horas e começou a caminhar de volta para a casa de Valéria.

Não sabia o que estava acontecendo, ela não estava bem. Sentia as mãos tremerem e um frio constante em seu estômago. Nada parecia tirá-la daquele estado. Temia se perder naquela tristeza. Não queria cair em depressão, mas não encontrava forças para sair do buraco negro que seus dias se tornaram. Nada mais a satisfazia, não encontrava a alegria de antes. Sua única oração a Deus naqueles dias era que Ele não a deixasse se afundar ainda mais.

A noite chegava rapidamente. Ela envolveu seu corpo com os braços numa tentativa de se aquecer. Fechou os olhos ao lembrar de Victor e a forma tão intensa e carinhosa que ele a enlaçava. Chutou os pensamentos para longe e fixou em seus passos.

Seus pés travaram ao reconhecer um carro vermelho estacionado na frente da casa da irmã. Soltou um suspiro e sentiu novamente o frio no estômago. As mãos voltaram a tremer e por um momento pensou que cairia ali mesma.

_ Nunca mais desligue o telefone na minha cara, dona Fernanda! – com a voz forte e zangada Vanessa se aproximou da amiga que continuava parada ao lado do portãozinho _ E nem pense em fugir!

_ Não estou em condições para isso – sussurrou e com passos lentos passou por ela, entrando na casa.

_ Você está bem? – Valéria indagou seriamente ao notar sua palidez.

_ Só preciso me deitar um pouco – continuou andando em direção ao quarto quando Vanessa se aproximou.

_ Pegue isso e descanse! – colocou um envelope entre as mãos da amiga, a forçando a pegar. Fernanda sentiu que as lágrimas desceriam ali mesma se não tomasse uma atitude. Sem disser uma palavra, pegou a carta e fechou a porta do seu quarto.

Deitou sobre a cama com a carta em mãos. Fechou os olhos imaginando poder tocá-lo através daquele simples objeto. Victor esteve com ela em mãos. Sua letra estava naquelas linhas, suas palavras ressoavam em cada partícula daquela carta, podia sentir o seu perfume apenas ao segurá-la.

Estaria ficando louca? Não sabia! A saudade a consumia a cada dia, mas lembrar de como tudo terminou a deixava irritada. Levantou-se pronta para rasgar aquele envelope em pedaços, quando sentiu algo agitar em seu estômago. Não era nenhuma das sensações que vinha sentindo, era algo novo. Ficou indecisa do que fazer.

Deixou o envelope ao seu lado e respirou fundo algumas vezes. Precisava parar de ser tão intensa. Não iria conseguir dormir sem resolver aquele assunto, e novamente algo dentro de si a fez tomar uma decisão. Sem mais esperar, ajeitou-se na cama e lentamente abriu o envelope. Soltou um suspiro ao reconhecer aquela letra. Passou a mão sobre ela com saudades do que viveram.

Fernanda!

Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes. Se pudesse, mudaria todo o meu passado, mas se isso acontecesse, não conheceria você. Quero te agradecer por ter estado ao meu lado. Você continua sendo a minha âncora! Mas, preciso ser honesto, por isso decidi enviar essa carta.

Tivemos dias incríveis juntos e realmente amei você. No entanto, passarei cinco anos na prisão, sua família me odeia... O certo é não ficarmos juntos, foi por isso que devolvi o anel. Não fomos espertos, sabíamos que seria arriscado. Contra isso não há o que contestar. Lutamos contra, mas deixamos nos levar e agora precisamos aprender a passar uma borracha no que vivemos e seguir a nossa vida, cada um em seu canto com seus novos desafios.

Apesar de tudo, obrigada por me amar, mesmo não merecendo!

Victor

Ele realmente desistira! Talvez tivesse razão. Nos últimos dias xingou-se por ter permitido amá-lo. Deveria sentir raiva, no entanto, ela sorriu com aquela carta. Limpou as lágrimas insistentes e leu-a de novo.

Ele poderia falar o que quiser, mas ainda a amava. O que viveram foi inesquecível demais para acabar daquela forma. As palavras de Valéria vieram fortemente em seu coração. Ela precisava ocupar o seu lugar naquela história. Lembrou-se do sentimento forte de que Deus havia a escolhido para ajudá-lo. Talvez tudo estivesse um pouco embaralhado em sua mente. Ainda era cedo para seus familiares entenderem, mas apesar de tudo, uma certeza começou a invadir a sua alma. Victor precisava dela, mais do que nunca!

Com uma força que vinha dos Céus, levantou-se, enxugou as lágrimas de alegria e foi tomar banho sem falar uma palavra com ninguém. Precisava se acalmar para fazer as coisas com sabedoria. Ainda era noite, talvez o dia seguinte não fosse a hora certa. Mas pela primeira vez sentiu-se em paz com o que precisava ser feito. 

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