Capítulo 45

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"Confie no Senhor de todo o seu coração
e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor
em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas". Provérbios  3.5-6

Um ano havia se passado desde que Victor entrara na prisão. Era difícil se acostumar com aquela vida. Não havia alternativas, ele obrigou-se a usar o seu conhecimento e tentar tirar proveito. Apesar de viver em uma cela melhor pelos seus estudos, não diminuiu o fato de que estava preso, em todos os sentidos, mas o que mais o afligia era a escuridão que encontrava em seu coração.

O passado o reencontrava a cada segundo. E não havia um dia que não passasse sem pensar em como deixou o ódio e a falta de amor o consumir. Antes de Suzane não conhecia o amor, com ela pensava que o amor era tomar posse, possuir o corpo, alma e coração. Não havia aprendido nada sobre aquele sentimento até conhecer Fernanda.

Seus dias se tornaram tristes e vazios sem a presença da assistente social. Havia a magoado e dificultado a sua vida. Todos os dias se lembrava de como a conheceu, e como lutara contra aquele sentimento. Não deveria ter permitido a sua aproximação. Apesar de tudo, ela correu ao seu encontro, disposta a tudo pelo sentimento intenso que habitava dentro deles.

Quando finalmente pode entender e viver o que era o amor, foi obrigado a deixá-lo. Fora a decisão mais difícil da sua vida. Ele não merecia viver aquele sentimento. Não havia mais o que fazer, apenas tentar sobreviver na maldita prisão.

Pelo resultado do bom comportamento, Victor fora transferido para outro estado onde trabalharia como psicólogo ajudando a diminuir a sua pena na prisão. Não poderia negar que a ideia de voltar a trabalhar em sua área o animou. Não sentia-se merecedor de nada, nem da comida precária que recebia na prisão, muito menos das visitas familiares, mas não se importava. Precisava pagar pelos erros, e ajudar as pessoas era algo que estava disposto a fazer.

Os últimos dias haviam sido difíceis. As lembranças de Suzane começaram a invadir novamente a sua mente. Parecia um déjà vu, apesar de nunca ter visto aquelas cenas em sua vida. Estranhamente naqueles sonhos ela sorria para Victor e carregava um pequeno bebê em seu colo. Não havia som, ruído algum, apenas a imagem dela feliz. Ele tentava alcançá-la, mas não conseguia. Quanto mais se aproximava, mais distante parecia. Ficou aborrecido e tentou correr, em vão. Nada do que pudesse fazer poderia trazê-la de volta. E então, quando menos esperava, ela se aproximou e sem tocá-lo colocou a pequena criança em seu colo.

Ficara estarrecido com a cena. Encarou aquele pequeno ser indefeso em seus braços não sabendo como agir. Como poderia cuidar? Seria sua pequena Vitória? A encarou sentindo o coração aquecer, emocionado. Nunca tivera o prazer de ter a sua pequenina em seu colo.

Algo começou a acontecer dentro dele. Não sabia decifrar aquele sentimento, apenas que faria tudo por sua filha. Ela tornara sua estrela guia, como se houvesse uma luz que irradiasse todo o seu ser. Estava confuso, mas não iria largá-la por nada desse mundo. Sorriu enquanto algumas lágrimas se tornaram testemunhas daquele momento.

De repente, viu um raio clarear tudo em sua volta. Observou o céu se tornar novamente em uma escuridão. Uma tempestade estava para chegar. Precisava proteger a sua menina. Encarou-a novamente e arqueou a sobrancelha. Algo havia acontecido. Olhou atentamente e percebeu que o bebê em seus braços não era a sua Vitória, mas um menino. Arregalou os olhos assustado. Alguém deveria tê-la pego nos segundos que olhou para os céus. Olhou para os lados desesperado, e quando chamou por Suzane, encarou o nada em sua frente. Ela havia desaparecido.

Estava assustado! Quem era aquela criança? Onde estava a sua menina? Não! Ele não poderia cuidar daquele menino. Não saberia como fazer e muito menos como agir. E o mais angustiante, Vitória havia desaparecido dos seus braços como se nunca a tivesse pertencido.

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