Capítulo 38

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"Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio". Romanos 7.15

A vida em Rancho Queimado poderia ser monótona para alguns moradores acostumados com a agitação da capital, e para Fernanda estava se tornando cada vez mais insuportável. Não poderia reclamar de nada, Adriel, Valéria e Guilherme se tornaram seu porto seguro, mesmo que na maioria do tempo ficasse enclausurada em seu quarto.

Acordava cedo todos os dias e ajudava a irmã com os afazeres domésticos e a preparar as encomendas de biscoitos. Ao menos por esse motivo, ela não se sentia um fardo para a irmã. Mas, estava ficando com dívidas e precisava urgentemente de um emprego, nem que fosse de faxineira.

Apenas um mês havia se passado desde o dia que vira Victor na prisão. Seus pensamentos ainda se voltavam para ele quando menos esperava. E nessas horas ficava revoltada com a sua atitude. Então, indignada por todos os seus erros cometidos ela ficava em seu quarto e o celular se tornara novamente o seu vício. Ela detestava aquilo, mas era como se tivesse permissão para agir daquela maneira depois do fora que ele lhe dera.

Era tudo inútil, sabia. As vezes se perdia entre a vontade, a necessidade ou apenas o costume que estava tendo com aquele ato. Se repudiava constantemente, mas era como se colocasse toda a sua raiva em atitudes que ela mesmo desprezava.

O que estava fazendo com a sua vida? Afundando-se em amargura, deixando para trás todo o esforço de recuperar aquilo que mais ansiava, a pureza em seu coração e na mente. Não importava o que o mundo dizia, apesar de estar lutando contra a correnteza, sabia que precisava parar com aquilo, mas não conseguia. A solidão, a saudades, a lembrança dos beijos maravilhosos que trocaram, o desejo que sentia por ele, tudo aflorava ainda mais o seu interior de uma maneira que ela não queria. Estava completamente sem forças para lutar...

Era uma quinta-feira de manhã. Valéria estranhou por Fernanda ainda não ter levantado. Preocupada foi verificar se estava tudo bem. Abriu a porta do quarto lentamente. Arqueou as sobrancelhas ao escutar um som estranho. Fitou a irmã que a encarou completamente assustada. Abriu a boca abismada e agradeceu por Guilherme não dividir mais o quarto com ela. Encarou a irmã em choque. Fernanda largou o celular pelo chão como se o objeto não a pertencesse. Abaixou a cabeça morrendo de vergonha por ter sido pega em flagrante.

Meu Deus, o que estou fazendo? As lágrimas se tornaram insuportáveis. Jamais imaginou que um dia a pegariam em flagrante. Tomava todo o cuidado! Ela não sabia mais o que pensar. Estava revoltada consigo mesma. Não tinha coragem de encarar a porta para ver se a irmã continuava no local. Os minutos se passaram e parecia parar no tempo, mal conseguia respirar pela vergonha e humilhação que sentia. Não queria fazer aquilo, mas fazia quando menos esperava. Precisava arrancar tudo de impuro que havia em sua mente. Se sentia suja de todas as maneiras.

_ Tudo bem! – a voz da irmã encheu o quarto como um raio, mas logo escutou um suspiro e ela sentou no pé da cama _ Isso é compreensível... – outro suspiro e Valéria ficou perdida em suas próprias palavras. Como conversaria sobre isso com sua irmã? Logo ela, a caçula e até onde sabia, virgem _ Nosso corpo é cheio de... Hormônios! – outro suspiro _ Confesso que já tive meus momentos. Ficamos loucas, não sabemos como agir... Eu não sou exemplo algum, não casei virgem, você sabe. Minha primeira vez não foi com meu marido, mas aquele namorado playboy que tive e confesso que foi horrível. E depois quis experimentar sozinha, sabe... Então, agi como você – seu rosto estava vermelho de vergonha assim como Fernanda.

A caçula levantou a cabeça timidamente enquanto encarava a irmã surpresa. Queria perguntar, falar, se explicar, mas por um momento perdeu a voz. Então, Valéria a olhou com compaixão.

_ Não sei o que a levou a isso, se é apenas a necessidade ou o quê, mas preciso te falar que isso não é legal, para você! A luta é grande, em todos os aspectos da nossa vida, e o inimigo nos tenta de todas as maneiras. Mas, se não estivermos ligados com o Pai diariamente isso acaba se tornando brecha, minha irmã, e isso é algo que não precisamos.

_ Eu sei – concordou, rendendo-se _ É a minha luta! – confessou encarando a irmã pela primeira vez _ Me sinto como o Victor, um monstro. Não me sinto digna de nada e...

_ Tudo bem, Nanda! Cada um tem seu espinho na carne, aquele que lutamos constantemente em nossas vidas. Só precisamos aprender a nos livrar dele, um dia de cada vez.

Fernanda a fitou seriamente. Ela tinha razão, mas não queria usar isso como desculpas para continuar fazendo aquilo, aliás, seu desejo era nunca mais fazer nada ou ver nada que lembrasse a pornografia. Aquilo era um monstro que levava a pessoa cada vez mais para o abismo espiritual, onde os gestos antes tão puros, inocentes se tornavam obscuros, lascivos e nojentos. Se perdia completamente o equilíbrio.

Fernanda sabia disso, se deixasse que aquilo virasse um vício as coisas se tornariam mais obscenas. Não estava sabendo lhe dar com toda a situação com Victor, e simplesmente deixou ser levada por aquilo, como se preenchesse o vazio que ele causou. Estava errada, completamente errada e fora dos caminhos de Deus. Como havia deixado isso acontecer? Aquele espaço pertencia apenas a Ele. Só assim poderia encontrar o equilíbrio da sua vida.

_ Não precisa me contar seus dilemas! Respeito isso, assim como esse assunto morre aqui. Vou pedir apenas uma coisa. Eu amo você minha irmã, mas a partir de hoje você vai levantar da cama cedo, seu celular será confiscado e quero que vá a igreja todos os dias. Não importa o que fará lá, mas faça isso, por você! Já passei momentos muitos tensos e sei como estar em completo silêncio nos ajuda!

A Fernanda de antes ficaria uma fera com aquele pedido, mas ela não era mais a mesma. Desde que Victor entrara em sua vida a transformando em um furacão estava aprendendo que precisava se humilhar e reconhecer que nem sempre tinha todas as respostas, nem sempre o seu julgamento estava correto e muitas vezes ela errava. Não era diferente de ninguém e essa constatação a fez chorar novamente. Queria ser mais forte, mas sua irmã tinha razão. Precisava reagir e pensar o que faria em sua vida. Não poderia desistir de seus sonhos depois de ter estudado tanto e ter se esforçado para chegar até ali. Precisava de um plano, uma solução, e no momento, apenas algo puro para ocupar a sua mente.


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