Capítulo 41

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"Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e mais Ele o fará". Salmos 37.5

As semanas seguintes foram silenciosas naquela família. Sem brigas ou discussões, mas também não houve visitas ou telefonemas. Era como se tivessem permitido levantar a bandeira branca, um pedido de paz externo. No entanto, apesar da aparente quietude, não era exatamente o que acontecia dentro de cada um. A paz ainda não reinava sobre alguns lares, apenas uma falsa sensação de calmaria. Infelizmente, nem sempre o silêncio era a resposta, não naquela situação.

Érique havia diminuído as horas extras e decidido passar mais tempo com a família, especialmente com Vitória, que apesar de seus oito anos estava revoltada. Ele a compreendia. Jamais deveria ter se afastado deles, as crianças foram as que mais perceberam o clima estranho dos últimos meses em sua casa. Lamentava-se profundamente por toda aquela triste história ter respingado em seus filhos. Mas, andava tão cego de ódio e rancor que não enxergava nada na sua frente, a não ser a sua própria dor.

Respirou fundo ao perceber a esposa dentro de casa. Ela continuava em silêncio como nos últimos dias. Mal conseguiam trocar uma palavra. Seus olhos antes tão gentis e brilhantes pareciam sombrios, com uma tristeza que ele nunca imaginara ver. Queria poder arrancar aquilo de dentro dela, mas não podia. Havia a magoada de todas as maneiras possíveis. Poderia pedir perdão, no entanto, não sabia se isso iria concertar as coisas entre eles. Era como se estivessem em um nível difícil de voltar trás.

Ainda tinha ódio de Victor. Apesar da decisão da Fernanda em se afastar do canalha que matou a sua irmã, ainda se sentia ameaçado. Ele poderia estar em uma prisão cercado de guardas, mas era como se a qualquer momento fosse aparecer para levar a sua Vitória. Tentava resolver aquilo em sua cabeça, porém, estava difícil.

Não havia o que temer. Eram pais perante a lei e ninguém poderia tirar Vitória de suas mãos. E Victor, mesmo sendo o pai biológico, não estava em condições alguma de tentar uma guarda. Apertou as mãos, furioso. Por que não conseguia ficar um pouco tranquilo?

Fernanda não parava de olhar para a tela do celular. Há dias ficava perambulando pela casa sem saber o que fazer com a sua vida. Havia vindo para Jaraguá decidida a arrumar emprego e mostrar para Victor o que era o verdadeiro amor, mas não conseguira ir adiante. Falhara com o seu plano.

Durante dias orou com fervor para que Deus revela-se para Victor o seu amor e agisse em toda aquela confusão, mas não era forte o suficiente para ir adiante. Não valeria a pena continuar o plano vendo a família de Melissa se dissipar. Érique jamais a perdoaria, assim como sua irmã, mesmo que ela tivesse dado carta branca para viver aquele amor. Os amava demais para ser a pedra de tropeço e destruição da família.

Por mais que os pais tentassem animá-la não havia muito o quê fazer. Ficar naquela cidade não tinha mais sentido, e não tinha para onde ir. Fazia algumas horas que havia recebido um e-mail inesperado. No meio de todo o tumulto que ficou a sua vida desde que descobrira a verdade sobre Victor, algo bom finalmente estava para acontecer.

O projeto que lutara por anos havia dado resultado, mesmo que tivesse sido obrigada a se afastar do cargo de assistência social. Alguém estava sendo misericordioso e fechando os olhos para o que os jornais diziam sobre o caso de Victor e ela ser sua namorada. Haviam decidido dar uma chance. Não importava a distância, ela simplesmente não poderia abrir mão daquela oportunidade. Talvez fosse a hora de sumir daquela situação e deixar para que Deus cuidasse do resto.

Ela continuaria orando para que Érique conseguisse perdoar Victor, para que esse conhecesse o amor de uma maneira que nunca pôde, e para que Melissa tivesse o seu casamento restaurado. Ela continuaria tendo fé, continuaria acreditando que por mais que ela não visse solução, Deus estava no controle. Fechou os olhos e suspirou profundamente sentindo uma paz incrível no meio de toda a tempestade em sua vida.

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