Capítulo 37

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"Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora". Eclesiastes 3.6

O dia havia amanhecido ensolarado, fazendo o coração de Fernanda se alegrar ainda mais. Ela não tomou café com a família, ficou em seu antigo quarto, sozinha, tentando colocar os pensamentos em ordem. Mais do que nunca precisava do silêncio, da quietude que só encontrava quando decidia largar mão de tudo e conversar com Deus. Reunida de força e coragem, terminou de se arrumar pedindo mais uma vez que Ele abençoasse aquele encontro. Não sabia o que veria, precisava estar preparada para tudo, mas jamais poderia desistir daquela missão.

Adriel e Valéria foram juntos até a prisão onde Victor estava. Em poucos minutos chegaram ao local. Nunca haviam entrado em um lugar como aquele. A curiosidade e o medo era algo normal. O cunhado fora na frente como se pudesse protegê-la do perigo, mesmo que tivesse guardas preparados para protege-los.

O horário de visita acabara de ser liberado e Fernanda sentiu um medo paralisar seus passos. O guarda a encarou repetindo a pergunta pela terceira vez. Ela o fitou sem graça. Após verificarem se não havia nada ilegal, liberaram-na para a visita.

Os minutos se passaram lentamente. A morena olhava para os lados, apreensiva. Nenhum sinal de Victor. O guarda havia saído para chamá-lo há cinco minutos. Não compreendia aquela demora ou talvez estivesse ansiosa demais para aguentar a espera.

_ Fernanda? – o som da voz grave fez seu coração quase saltar do peito. Reconheceria aquele timbre em qualquer lugar do mundo. Como sentia saudades!

_ Victor! – ela sussurrou abrindo um sorriso ao vê-lo. Os dois permaneceram imóveis por alguns segundos. Ela observava cada traço seu, sentindo a emoção invadir a sua alma.

Ele não estava indiferente. Abriu um sorriso voluntário, emocionado. Jamais imaginou que um dia ela estaria ali. Não depois da carta que mandara dando um ponto final naquele relacionamento.

_ O que faz aqui? – desfez o sorriso, desviou o olhar quebrando todo o encanto do momento.

_ Estava com saudades! – sussurrou sentindo o peso da sua voz. Seu semblante havia mudado. Ele a encarava furiosamente. Parecia indignado com alguma coisa _ Acha que deixaria as coisas assim? Você fez uma promessa, Victor! Estaria sempre comigo, me protegendo! E eu disse que estaria sempre ao seu lado, lembra?

_ Isso foi no passado, Fernanda! Não percebe onde estou? Quer que te proteja? É exatamente isso que estou fazendo, te protegendo, e a melhor decisão para isso é você ficar longe. Ou acha que estará protegida comigo, um presidiário?

_ Eu sei que está fazendo isso só para me proteger, mas eu não quero isso. Vou te esperar, vou te visitar sempre que puder. Eu te amo! Não importa o que diga.

_ Fernanda! – aumentou o seu tom de voz chamando a atenção dos guardas. Ela manteve-se no mesmo lugar. Victor estava ficando vermelho. O nervosismo estava estampado na sua face. Em nenhum momento ele chegou a encará-la como sempre fazia. Havia olheiras e um semblante abatido _ Eu. Não. Quero. Mais. Te. Ver! Acabou! E estou cumprindo a minha promessa você querendo ou não. Só há relacionamento quando duas pessoas querem e eu não quero! Seja feliz, mas longe de mim! – em seguida virou o rosto chamando os guardas que em segundos o levaram dali.

Fernanda o observou se afastar. Nunca o vira falar daquela maneira. Ele estava completamente diferente do Victor que conhecera. Tinha certeza que ele estava fazendo aquilo pelo seu bem, mas não poderia aceitar, não queria. Sentiu as lágrimas invadirem o seu rosto, mas espantou-as.

Saiu rapidamente daquele local. Nunca havia passado por tanta humilhação. Ela não levara apenas um fora, foi muito mais que isso e pela primeira vez sentiu o cansaço daquela relação. Talvez Victor estivesse certo, eles não deveriam ficar juntos. Fora maravilhoso o que tiveram, mas nem todos são destinados a viver um grande amor, ou estaria errada?

O que deveria fazer? Como se sentir? Indagações sem respostas. Precisava ficar o mais longe possível daquela prisão. Talvez fosse a hora de colocar em prática a viagem que Melissa desejava fazer. Ficar alguns dias na praia do Ervino, apenas elas. Isso seria possível? 

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