VIII - Como dois Amantes

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A noite caía com rapidez em todo o reino. Já passavam das meia-noite e por uma coincidência, os dois gêmeos se encontravam acordados. Len rolava de um lado para o outro em sua cama – cujo o colchão rangia por ser antigo – sem conseguir ao menos pregar seus olhos. Naquele mesmo dia, ele havia beijado sua irmã, e isso o deixava inquieto. Pois estava feliz por ter o feito, e isso era o mais errado de tudo. Além de serem irmãos, ela já era praticamente noiva. Eram dois pecados cometidos, ao mesmo tempo, ele com certeza não sairia impune disso.
Toda vez que fechava seus olhos, ele revivia aquele mesmo momento. Era como um veneno impregnado em sua mente – mas era apenas amor.

Os dois se fitavam em silêncio. Como se procurassem algo entre o olhar um do outro.

- Desculpe. – Disse Len. – Não deveria ter feito isso.

- O que está dizendo? – Pergunta Rin, na qual ele acabara de beijar.

- Além de ser minha irmã, você está noiva. – Ele dá um leve sorriso, com um olhar triste. E encosta sua testa com a de Rin.

- Não pense que pode simplesmente me beijar e depois esquecer! – Ela se irrita. – Você acabou de me prometer que não deixaria ninguém...

- Beijar você.

- Se disser que foi apenas impulso, eu mato você aqui mesmo. – Len ri.

- Não, não foi. É que – Ele dá uma pausa. – Eu realmente não quero que mais ninguém a beije.

- Então não deixe que alguém me beije. Simples.

- Não, não é tão simples assim.

- Eu te amo, Len! – Rin dá impulso, e o beija de surpresa.

- Também te amo, Rin. – Diz ele, entre o beijo.

Yuya bate na porta do vestiário, os chamando, e os dois se afastam. Porém, saindo do vestiário de mãos dadas.

Len abre seus olhos novamente, despertando do que seria um sonho sobre o final do dia anterior. Em que ele havia aceitado, de certa forma, seus sentimentos – junto aos pecados – que teria de carregar até o fim de sua vida.
O céu já estava claro, o que o fez se levantar e se preparar para mais um dia de aula.
- Len-kun! – Len dá de cara com Hayato, ao descer os velhos degraus da escada, nos quais faziam um rangido insuportável. – Olhe, olhe! – Ele levantou um pedaço de madeira, talhado.
- Isso é... – Len observa bem, e percebe que havia uma curva. – Um arco?
- Bom... Eu diria que será um arco.
- Isso é incrível, Hayato-san!
- Hehehe – Ele fica sem jeito. – Bom, quando terminar, te farei flechas. E se quiser, posso te ajudar a praticar.
- Hm? Você sabe atirar de arco e flecha? – Disse Len, empolgado. Enquanto fingia usar a madeira como um arco de verdade.
- Sim. Aprendi quando morava no – Ele dá uma pausa. – Bom... Aprendi com minha antiga família, eu diria.
- Antiga família? – Len fica curioso.
- Ah! Esqueça isso! – Ele bagunça todo o cabelo de Len, com apenas uma mão. – São águas passadas. Nada que importe agora. – Ele desvia o olhar para Mikoto. Que saía da cozinha com um bandeja coberta por biscoitos. Os dois sorriem um para o outro.
- O café da manhã está na mesa rapazes. – Ela sorri. E os dois seguem suas palavras.
Depois de uma caminhada até a escola, ele encontra Rin ainda saindo da carruagem real.
- Não chegou antes de mim? Que milagre. – Ele sorri, se aproximando. E acena para Makita, que estava dando a mochila para Rin.
- Maki-chan demorou para me acordar. – Resmunga ela. Em alguns segundos o olhar dos dois se encontra, e com vergonha do beijo que deram no dia anterior, eles desviam seus olhares, com seus rostos corados. – T-Teve alguns problemas no reino vizinho. E papai teve de sair as pressas. – Diz Rin, tentando quebrar o clima estranho. – Por isso ela demorou pra me acordar.
- Entendo. – Ele suspira. – Vamos. – E acaricia a cabeça de Rin, na qual puxa sua mão, segurando-a.
- As pessoas vão ver. – Ele cora.
- Eles não sabem que somos irmãos. – Diz Rin, em um baixo tom de voz.
- E seria um problema se descobrissem. – Diz Len, entrelaçando seus dedos aos de Rin. – Mas não quero me importar com isso agora. – Diz ele, em um sussurro. E Rin fica com seu rosto vermelho.
Ambos caminham até a sala de aula, e passam todo o primeiro tempo normalmente.
- Hey, Len-kun. – Aki se aproxima da mesa de Len. Com o rosto avermelhado. – Gostaria de saber se... Talvez você quisesse... A-Almoçar c-comigo hoje. – Ela abaixa a cabeça por estar nervosa.
- Ah, me desculpe, Aki-chan. Eu sempre almoço com Rin-sama. – Ele arruma seus óculos, e sorri.
- Você e Rin-sama são amigos faz quanto tempo? – Pergunta Aki, curiosa.
- B-Bom... Nos conhecemos faz pouco tempo.
- Eh? Sempre que pergunto algo de um para o outro, vocês agem como se fossem amigos a bastante tempo. – Ela faz uma pausa, enquanto observava Rin. – Eu diria que são amigos de infância... Ou algo do tipo.
- Isso seria estranho... – Diz Len. Sendo péssimo em mentir, pois na verdade eles eram irmãos. Nervoso, sem querer esbarra levemente em seus óculos, fazendo-os cair um pouco de seu rosto. Len rapidamente os arruma de volta, com medo de Aki vê-lo sem eles.
- Na verdade, vocês são parecidos... – Aki se debruça na mesa de Len, aproximando seu rosto ao dele. – Bastante, na verdade.
- Eu discordo... – Sentindo-se sem ter o que falar, ele vira levemente seu rosto, o que o permite ver Rin do outro lado da sala. Que no caso, estava ardendo em ciúmes.
Len, se sentindo sufocado por ela estar em cima dele e principalmente pelas perguntas, ele olha ao seu redor, procurando alguma forma de escapar das garras de Aki. Quando uma ideia surge em sua mente.
- Ah! – Diz Len, em um tom de voz alto. O que surpreende toda a turma. – Uma barata! – Ele aponta pra qualquer lugar do chão. Pois na verdade, não havia nada lá. No mesmo segundo, metade da turma começa a gritar – A maioria, era garota –, e Aki voa para o mais longe possível de onde Len havia apontado.
- Hm, ela sumiu... – Resmunga Len.
- A gritaria deve ter espantado ela. – Diz um garoto que se sentava em uma das cadeiras da frente. E aos poucos, todos voltam ao normal. E Aki se desculpa pelos seus modos, voltando para sua carteira.
- O que você viu nele? – Pergunta Rin, para sua amiga Aki. Que parecia ser apaixonada por Len.
- Ele é fofo! – Diz ela. Pondo as mãos no rosto. – E meigo, e charmoso!
- Você deveria usar um óculos.
- Não me diga que não acha ele nem bonitinho? – Aki olha para Len, e Rin faz o mesmo.
- Hm... – Ela fica vermelha, enquanto observava seu irmão lendo um livro. – Talvez. – Len nota que está sendo observado, e desvia seu olhar para Rin. Na qual fica vermelha, e esconde seu rosto atrás de seu caderno.
- Você gosta dele? – Pergunta Aki, ao perceber como agiu. Ela olha para Len, e nota um sorriso em seu rosto, ao ver Rin com vergonha. – Não se preocupe, eu sempre sou rejeitada por ele... Todas nós, na verdade.
- “Todas” ? – Pergunta Rin.
- Não sabia? Ele é popular. – Aki ri.
Alguns minutos se passam, e o sino do colégio bate. Liberando os alunos para o almoço.
- Rin-sama. Me desculpe... Eu esqueci meu obentou. – Diz Aki, se levantando rapidamente. – Vou na frente para não pegar fila, depois nos falamos! – Ela sai correndo de sala.
- O que foi aquilo? – Pergunta Rin. Ao notar a presença do irmão.
- “Aquilo” ?
- Sim. A Aki quase subindo em você! Idiota.
- Ela estava me perguntando sobre nós dois. – Diz Len, um pouco preocupado. – E disse que nos acha parecidos.
- Parecidos... Você diz, na aparência?
- Sim. Isso me preocupou um pouco... Mas acho que por agora, não teremos problema algum. – Ele sorri.
- Hm... – Ela dá uma pausa, e seu rosto cora. – I-Isso não é motivo!
- Hm? Motivo?
- De deixar qualquer garota subir em cima de você, idiota!
- Ela não subiu em cima de mim... Apenas se debruçou na mesa.
- Então você a beijaria também? – Disse Rin, sem perceber que sua conversa não estava tendo sentido algum. 
Os dois continuaram na sala, onde não tinha mais ninguém. Pois todos haviam saído para almoçar.
- Devia ter imaginado... – Ela suspira, estando irritada com o silêncio de Len. 
Rin ameaça dar um passo.
- Não. – Ele responde sem pensar, pondo seu braço esquerdo contra a parede, o que bloqueou o caminho de Rin. – Nunca faria algo assim, boba.
- Então diga. Idiota. – Ela vira seu rosto, com as bochechas vermelhas.
- É incrível como você ama me chamar assim. – Ele ri, e Rin faz bico. – Nunca beijarei ninguém além de você, Rin-sama. – Para disfarçar sua timidez, Len dá um leve peteleco no nariz de Rin.
- Ai! Isso não é jeito d-
Aproveitando por estar distraída, Len a rouba um beijo, fazendo suas línguas se encontrarem mais uma vez. Sendo esse um pouco mais longo, os dois se lembram que ainda estão na sala de aula, e separam seus lábios. Com um sorriso em seu rosto, Len a abraça fortemente.
- Que matar aula hoje? – Pergunta Len, ainda com Rin em seus braços.
- Matar aula? Podemos?
- Claro, só pularmos o muro.
- E pra onde iríamos? – Rin se anima.
- Passear. – Ele sorri. – Vem!
Eles pegam suas mochilas e correm para trás do prédio da escola. Que no caso, era a área que não tinha guardas.
- Tem certeza que ninguém vai nos ver? – Pergunta Rin, enquanto escalava o muro.
- Eu fiz isso semana passada – Diz Len, já pulando para o outro lado. - Com o Yuya-kun.
- Hm... Não consigo pular, é alto demais. – Resmunga Rin, ao chegar no topo do muro, tendo que pular. Assim como seu irmão fez.
- Venha logo, eu te pego. – Ele abre os braços, chamando-a para pular. E Rin nega com a cabeça, por ter medo de altura. – Vamos... Não te deixarei cair.
Ela fecha os olhos, e pula em sua direção. Len a segura, envolvendo-a em seus braços.
- Te peguei. – Ele sorri.
- Se não pegasse, estaria morto.
- É, que bom que aguentei você. – Brinca Len, ainda com sua irmã em seu colo. Conseguindo carregá-la sem muito esforço.
- Faça alguma piada, e eu juro que bato em você. – Ele ri, e finge quase derrubá-la no chão. O que a faz dar um soco na cabeça de Len, no qual não sentiu nada. Pela falta de força da irmã. – Me põe no chão, idiota! – Resmunga Rin.
- Sim, senhorita. – Ele se abaixa, soltando Rin. – Vamos andando. – E sorri.
Ela dá um passo mais longo, para alcançar Len. Segurando sua mão, e novamente entrelaçando seus dedos. Como dois amantes, eles vão caminhando, e Rin não deixa de demostrar estar totalmente animada com tudo. A forma em que ela podia ver tantas carruagens e carros andando devagar pelas ruas, e tantas pessoas diferentes andando pra todas as direções, era encantador pra ela.
- Hey, Len-kun! – Hayato, que estava trabalhando perto de onde andavam, os chama. – Rin-sama! Que honra te ver aqui. – Ele faz uma breve reverência. E Rin o cumprimenta de volta, com outra.
- Hayato-san. Como estão as coisas? – Len sorri.
- Ótimas. Pelo menos até agora! Hahaha Trazê-la pra cá não trará nenhum problema aos dois? – Diz ele, fingindo não perceber que suas mãos estavam atadas.
- Hmm, espero que não. Hehe
- Hayato-san, o que é isso? – Pergunta Rin, ao ver diversas madeiras.
- Hm? Ah, esse é meu trabalho! – Diz ele, orgulhoso. – Eu faço móveis de madeira, Rin-sama. Farei algo especial, para seu aniversário, quer?
- Sim! – Ela se anima.
- Vai passar em casa? Mikoto gostará de ver esta pequena.
- Já que mencionou, passarei sim. Mais tarde. – Ele puxa levemente a mão de Rin, chamando-a para voltar a caminhar. – Vamos indo. Tchau, tio!
Hayato acena para os dois, nos quais continuam a caminhar de mãos dadas. Logo ele põe de volta seu capacete com óculos por cima de seus cabelos negros, e volta ao trabalho.
- Onde estamos indo? – Perguntou Rin.
- Tenho a menor ideia. – Ele ri. – Ah, quer andar de barco?
Len passa pela casa de Yuya, e pega o barco de seu pai emprestado – sem pedir –, e ambos seguem ao lago.
Os dois sobem no barco a remo, e Len o controla. Pois já estava acostumado a remar, quando saía para pescar com Hayato – Quando mais jovem.
- É tão bonito. – Diz Rin, olhando para um arco-íris de três cores formado no céu.
- Sim. – Ele confirma. Logo percebendo que sua irmã estava distraída, ele levanta um pouco um dos remos. Jogando água em Rin.
- Ah! Você molhou meu uniforme! – Obviamente, ela se irrita. E bate a mão no lago, espirrando água em Len.
- Ei, eu não joguei no seu rosto! – Ele prende os remos no barco, e espirra água em Rin de volta. Na qual ri, dando início a uma brincadeira que deixa os dois cobertos de água.
- Makki-chan irá me matar. – Diz Rin, quando nota que seu uniforme estava totalmente molhado.
- É melhor irmos pra casa, e então você poderá trocar de roupa. Ou poderá pegar um resfriado. – Diz Len, ao perceber que estava começando a ventar, e o céu estava coberto por nuvens.
- Quando começar a escurecer vamos... Uma roupa da Mikoto não me serviria?
- Você realmente não quer ir pra casa. – Ele ri. – Bom, podemos ver. – Diz ele. Controlando o barco de volta.
- Minha nossa! Você está ensopado! – Diz Mikoto, ao ver Len. – Seja bem-vinda Rin-sama!
- Acabamos nos molhando um pouco ao andarmos de barco. – Disse Len, enquanto passava a chave na porta, fechando-a.
- A senhora teria alguma roupa para me emprestar, Mikoto-san? – Pergunta Rin, com um sorriso.
- Ora... Acho que sim. Venha! – Mikoto chama Rin para seu quarto. E ela o segue, dando uma espiada em Len. Cujo estava subindo as escadas.
- Irei tomar um banho. – Diz ele. E Rin assente com a cabeça, indo atrás de Mikoto.
Len toma rapidamente seu banho, trocando suas vestes molhadas. E se senta no sofá, ainda esperando Rin. Na qual sai do quarto – Já de banho tomado – com Mikoto poucos segundos depois.
- Sei que não é como as roupas que veste no castelo. Mas ficou bonito em você. – Diz Mikoto, enquanto fechava a porta do quarto.
- Eu amei! – Diz Rin, dando uma olhada no vestido amarelo-claro que estava usando. Cujo ia até um pouco acima dos joelhos, e tinha mangas compridas.
- Pode ficar com ele se quiser... É antigo, embora eu tenha usado apenas uma vez. – Rin assente, feliz. E se senta ao lado de Len.
- Está gostando de ser plebeia por um dia? – Ele brinca.
- Sim. – Ela sorri. – Quando eu sair do castelo, quero morar em uma casa perto de um lago.
- Sair? Você diz, se mudar? Isso seria um pouco difícil.
- Não se for comigo. – Seu rosto cora.
- Falando assim, parece estar planejando uma fuga. – Diz ele, fitando Rin.
- Hm. – Tentando negar que essa ideia passava em sua cabeça, Rin deita no ombro de Len. No qual suspira, mexendo em seus cabelos que estavam ainda úmidos do banho.  
- Ah, está começando a escurecer. Vem! – Len se levanta, e puxa Rin. A carregando até seu quarto, que ficava no segundo andar. Logo ele abre a janela, que dava para o telhado e a pula, ajudando Rin a fazer o mesmo. – Não é bonito? – Diz ele, apontando para o pôr-do-sol que dava pra ser visto perfeitamente dali. Junto ao castelo.
- Sim, é! – Diz ela, ao poder ver uma linda paisagem sem muros limitando sua visão. Os dois ficam em silêncio por alguns minutos, apenas observando o sol repousar.
- Eu sempre gostei de ficar aqui. – Diz ele, cortando o silêncio. – As vezes passava uma noite inteira aqui fora, olhando para o castelo... Me perguntando se você estava bem. – Rin cora. E ao notar que suas bochechas estavam avermelhadas, Len levanta a mão direita... E puxa sua bochecha.
- A-i. Por que fez isso? – Diz ela, com a mão na bochecha.
- É legal. – Ele ri, e se vira. Deitando no colo de Rin. Na qual fica com vergonha, mas logo se relaxa, mexendo nos loiros cabelos de Len.

Far From Reality. [Vocaloid - LenxRin - Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora