IX - Longe da Realidade

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Nuvens negras tomavam conta de todo o céu, e sons de trovão não paravam. Naquela tarde cinzenta, em que todos vestiam roupas negras e elegantes mas em seus rostos, permaneciam tons cobertos por tristeza. Rin e Len caminhavam naquele gramado, com suas mãos dadas. Enquanto lágrimas caíam de seus olhos, se misturando com as gotas da garoa.
Todos seguiam para o norte do local, onde já havia uma cova preparada. Andando logo atrás dos quatro cavalheiros reais, cujo seguravam um grande caixão de madeira – coberto por coroas de rosas amarelas. Estavam os gêmeos e logo atrás deles, sua mãe. Cujo não parecia estar muito triste com a morte de seu marido, pois não havia derramado uma única lágrima sequer. Atrás dos três, seguiam outros familiares do rei Hirashi, cujo seu corpo estava dentro do caixão.
Todos param, ao finalmente chegar no local onde este seria enterrado. Depois de por volta de cinco minutos para se despedir, e fazer orações. O caixão foi posto sete palmos abaixo do chão, sendo enterrado pelos trabalhadores.
- Papa... – Sussurrou Rin, pra si mesma. Enquanto chorava nos braços de seu irmão, que a consolava. Sentindo as finas gotas de chuva em seus ombros.
- Vamos. – Diz Len, ao perceber que todos já estavam abandonando o local, após o caixão ser totalmente coberto por terra. Rin assente com a cabeça, tentando controlar seu choro, e os dois seguem sua mãe.
Ao sair dos terrenos do cemitério, encontram uma carruagem real. Onde Makita os aguardavam. Ao os ver chegando, ela levanta a cabeça limpando seu rosto, o que deu o entender de que estava chorando.
- Se quiser passar um tempo no castelo hoje, não terá problema. Len-Len. – Diz Mari, a mãe dos gêmeos, ao entrar na carruagem enquanto se abanava com um leque.
- Sim, senhora. – Disse Len. Engolindo a seco, pois estava cansado de ver sua mãe agir como se nada tivesse acontecido.
Os três embarcam na carruagem e seguem ao castelo.
- Makki! Prepare um chá! Len é nosso convidado mesmo também! – Diz Mari, ao entrar, e seguir rapidamente para dentro do castelo. – Ah! Mais tarde teremos visitas, irei me preparar. – Logo ela sobe as escadas e some de vista.
- Isso me dá azia... – Disse Len, enquanto retirava o paletó do terno que vestia. Logo Makita se aproxima e o ajuda a retirá-lo.
- A forma que ela age? – Pergunta Makita.
- Sim... Ela age como se hoje fosse um dia normal. Como se não tivesse acabado de perder seu marido. – Len suspira.
- Makki-chan. – Rin se aproxima, ainda com soluços por culpa de seu choro. – Agora só ela está no comando do reino... E de mim.
- Ficará tudo bem. – Len acaricia a cabeça de sua irmã, e ela sorri.
- Ah! Queria eu ter um irmão assim...
- E-Ele é só um idiota! – Rin fica vermelha. Len e Makita riem.
- Farei um chá, como minha mestra pediu. – Diz Makita, se dirigindo até a cozinha. – Fique a vontade, Len-sama.
Rin e Len se sentam nas duas poltronas que estavam de frente para a lareira. E logo Makita vem, trazendo um bule com duas xícaras de chá, deixando-os na mesinha de centro. E logo volta para a cozinha.
- Quer jogar algo? – Pergunta Len, ao ver que sua irmã estava triste.
- Nah. – Respondeu ela. Enquanto segurava sua xícara, a envolvendo com as duas mãos. – Só queria que nada disso tivesse acontecido.
- Humph. – Len se levanta, pegando sua irmã. E logo se senta em sua poltrona, a pondo sentada em seu colo. – Você está mais fria que eu, precisa se aquecer ou pegará um resfriado.
- Pretende me aquecer com calor humano? – Pergunta Rin, com seu rosto vermelho. Porém fica quieta ao notar os olhos vermelhos de seu irmão, percebendo que este estava fingindo não chorar todo o tempo. Para poder consolá-la. – Idiota... – Resmunga, o abraçando.
- E-Ei, Ri-- – O rosto de Len fica totalmente corado, por ter sido pressionado contra seus seios.
- Apenas fique quieto! – Disse ela, o apertando ainda mais e o sufocando.
- Irá m- ma-tar sem a-r!
- Se ficar quieto, não farei isso! – Depois de quase matá-lo, ela se afasta um pouco e nota que seu irmão estava rindo, embora seu rosto estivesse totalmente corado. O que a faz sorrir e o abraçar novamente. Porém, com menos violência. – Idiota.
Ele a abraça, sentindo-se confortável ao sentir o calor de sua irmã. Os dois ficam assim durante um tempo.
- Ah! Já está escurecendo! Com este céu cheio de nuvens mal dá para notar o tempo passar! – A mãe dos gêmeos desce as escadas, com uma roupa deslumbrante. E seu cabelo dourado preso em um alto coque. – Makki! Já preparou o jantar?
- Quem virá, mama? – Pergunta Len. Ainda com Rin em seu colo.
- Rin já não está grandinha demais para ficar em seu colo? – Pergunta Mari, deixando Rin com seu rosto corado.
- D-Desculpe mama. – Ela se levanta, porém Len a puxa novamente. – Está louco? – Sussura Rin, e Len ri.
- Rin estava chorando demais, por isso está no meu colo. – Retrucou Len, a fitando. – E você, mãe. Como está?
- Humph. É claro que não estou feliz com o ocorrido... Mas temos que seguir em frente.
- Quem virá hoje?
- Você parece seu pai... Repugnante, sempre querendo dar ordens. – Len respira fundo. – Um reino vizinho irá vir... Iremos tratar de negócios.
- Fico feliz em saber que pareço meu pai. – Ele sorri. – O mesmo reino que ele havia visitado?
- Sim. – Ela responde seriamente. E ambos ficam em silêncio, apenas sem piscar seus olhos. Quando o som de uma alta campainha ressoa por todo o salão. – Ah! Eles chegaram! Len, meu querido... Pode ficar no quarto enquanto eles estão aqui? E Rin, vá se vestir!
Mari manda Makita atendê-los, enquanto dá uma checada no visual. E Rin e Len sobem para o quarto.
- Pensei que não viria aqui nem tão cedo. – Brincou Len, ao entrar no quarto.
- O-O que eu faço? – Diz Rin, e Len a olha com uma interrogação. – Preciso me vestir... E minha mãe sempre pede demais de Makki-chan.
- Ela nem deveria ser obrigada a obedecer as ordens da mãe. – Len suspira. – . . . Por que isso sempre sobra pra MIM?
- F-Farei sozinha! – Rin cora e se vira, seguindo até seu guarda-roupa. Abrindo-o. – Hmph
- Gosto deste. – Len estende o braço direito, e puxa um de seus vestidos. Este cobria até acima de seus joelhos. Era azul com detalhes amarelos, coberto por lindos babados. – Combina com você, e é quentinho. – Ele sorri.
- S-Sim... Obrigada. – Ela pega o vestido e continua parada de frente para Len.
- Pode por uma venda em meus olhos? – Rin cora, e desamarra um laço que estava amarrado em seu pulso direito. E o põe tampando os olhos de Len, amarrando as duas pontas. – Obrigado. – Ele sorri.
Assim como no dia em que ele teve de ajudá-la a por seu uniforme, Rin pega suas mãos e as guia até os botões de seu vestido preto bordado. Depois de tirar os três botões, ela solta suas mãos, e Len segue as bordas da roupa até as mangas. Descendo o vestido.
- A-A partir daqui, eu sei... S-Só não sabia tirar os botões. – Diz Rin, com a voz trêmula. Logo segurando suas mãos, como quem o pedisse para parar.
- Está com medo de mim? – Len acaricia seu rosto. – Sou seu cavaleiro, não farei nada. – Diz ele, logo encostando seus lábios rapidamente, dando um selinho em Rin.  
Ela solta seu vestido, deixando-o cair por conta própria. Empurrando este com os pés, e preparando para por o outro. Len vai para trás de Rin, e sobe o vestido por todo seu corpo.
Sentindo sua pele se arrepiar, Rin nota que sua respiração está ofegante, e tenta disfarçar o máximo possível. Também fingindo não estar nervoso, Len a ajuda a esticar as mangas compridas do vestido em seus braços, e o sobe em seus ombros. Fechando-o, em suas costas.
- Posso tirar as vendas para atar o laço? – Diz Len, com sua voz em um tom baixo. Bem próximo ao rosto de Rin, tanto que podia sentir sua respiração em seu pescoço. O que a fez sentir um forte arrepio percorrer toda sua espinha, resultando em um pequeno salto.
- Pode... – Respondeu Rin, com um suspiro. Logo Len levanta a mão direita, e abaixa a faixa. Deixando-a caída em seu pescoço. Agora podendo ver, ele puxa as duas pontas da fita em sua cintura. – N-Não aperta forte!
- Desculpe, me empolguei. – Len ri levemente. Como quem já estivesse se acostumado a vesti-la. – Assim está bom? – Perguntou Len, ao terminar de amarrar.
- Sim, está. – Diz Rin. Se olhando em seu imenso espelho.
- Está linda. – Len sorri, vendo o reflexo de Rin do lado direito do espelho. Esta que fica corada com o elogio do irmão.
- O-Obrigada. – Diz Rin, se virando para seu irmão.
Len suspira. E rapidamente surpreende Rin com um intenso beijo, enquanto a puxa pela cintura. Deixando claro que estava segurando sua vontade de beijá-la todo o tempo que estavam ali. Com o calor que passavam de um para o outro, Len desce até o pescoço de Rin. Beijando-o.
- L-Len! – Resmunga Rin, estando com vergonha. Porém este não dá ouvidos a ela, a deitando na cama e beijando-a mais e mais. – A-Alguém pode aparecer... – Rin cogitou, porém continuando a abraça-lo, não o deixando sair de cima dela nem se quisesse.
- Então você me deixaria agarrá-la facilmente... – Diz Len, finalmente soltando seus lábios da pele de Rin. – Bom saber. – Ele sorri.
- Não me diga que estava apenas brincando comigo... – Len ri.
- Sim, estava. – Ele ri mais e sai de cima de Rin, deitando ao seu lado.
- Idiota! - Rin sobe em cima de Len, e pega um travesseiro. – Idiota! Idiota! Idiota! – A cada “idiota” era uma “travesseirada” na cara de Len.
- Ai-Ai-Ai! – Diz ele, conforme apanhava de Rin. Mas não parava de rir.
- Vou matar você! – Ela para o travesseiro em seu rosto.
- C-Calma! – Len faz força contra Rin, impedindo-a de matá-lo sufocado com o travesseiro. – Não era pra ficar com tanta raiva assim. – Ele continua rindo.
- Não brinque com meus sentimentos, idiota! – Ela faz mais força, porém não consegue ganhar de Len. No qual se levanta e tira o travesseiro de suas mãos.
- Queria que eu a agarrasse de verdade? – Disse ele, segurando seu rosto com a mão esquerda.
- N-n-n-não!
- Seus olhos me dizem o contrário. – Len a fita.
- Eu só... – Seu rosto cora, e logo desvia o olhar. – Esqueça.
- Não. – Ele sorri. - Não esquecerei. – Len segura sua cintura, e a beija novamente. Tendo Rin em seu colo.
- Rin, Len? Estão aí? – Diz Makita, ao bater na porta. Depois de alguns segundos em silêncio, ela decide abri-la. Vendo Rin sentada na penteadeira, com Len amarrando o laço branco em sua cabeça. – Ah, que alívio. Pensei que ainda teria que vesti-la. Sua mãe já está na mesa a aguardando, ela quer te apresentar a família de seu noivo.
Rin assente com a cabeça e respira fundo. Logo Len termina de arrumar seu cabelo, e Rin se levanta da cadeira.
- Ficará tudo bem. – Ele sorri para ela, ao notar seu nervosismo e medo pregados em seu olhar.
- Sim, ficará. – Rin sorri e beija a bochecha de Len. Logo correndo para fora do quarto, o deixando com o rosto vermelho sem saber como reagir.
Makita ri, e sai do quarto acompanhando Rin.
Len suspira e permanece no mesmo aposento, andando de um canto para o outro. Enquanto tentava obedecer as ordens de sua mãe, de permanecer escondido.
Já aflito, ele abre a porta do quarto lentamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Logo caminha rapidamente pelo corredor, e percebe que vinham vozes da sala de jantar. Ainda nos corredores do terceiro andar, ele caminha até o aposento que dava para a sala de jantar. Cujo tinha uma pequena “sacada” que levava até as escadas. Dali, dava pra ver toda a mesa. Os convidados. Sua mãe. E Rin. Que parecia totalmente nervosa, enquanto disfarçava seu medo picando um guardanapo com as mãos. Ele se abaixa, dentre as grades, apenas para ouvir toda a conversa.
- Estávamos tão ansiosos para conhecê-la. – Diz uma mulher de cabelos negros até os ombros. Sua voz era bem aguda. – Jin está muito mais. É claro. Afinal a família Kagamine é famosa pelas lindas garotas, não é mesmo?
- Ora, é claro! Minha Rin-Rin também está muito ansiosa para conhecer seu filho. – Ela olha para Rin. Na qual fica em silêncio. – Não é mesmo, Rin?
- S-Sim! É claro que estou! – Ela dá um sorriso forçado.
- Ele irá ficar encantado com seus olhos. – Diz um homem, cujo seria o pai. Ele era alto, e seus cabelos também eram negros. – Jin sempre disse que sonhava com uma garota de olhos azuis.
- Ela a trata como uma mercadoria... – Resmunga Len.
- Mas então, o que acham? – Diz Mari. Se referindo a própria filha.
Acordo fechado. – O homem se levanta e aperta a mão de Mari.
- “Acordo”? – Cogita Len.
Mais alguns minutos se passam, até toda a comida da mesa de esgotar. O que faz o casal se despedir e ir embora.
- Eu não quero. – Diz Rin.
- Não perguntei se queria. – Afirmou ela. E logo quando ia subir as escadas, avista Len que a fitava com um olhar de desprezo.
Mari continua parada, e ele apenas desce os degraus. Passando ao lado dela, e indo até Rin.
- Já não está tarde? Melhor ir para sua casa, rapaz. – Diz ela, subindo as escadas.
- Enquanto eu possuir o sangue real, tenho meu direito de ficar aqui. – Disse Len, sem ao mesmo olhar para ela.
- As pessoas não sabem sobre isso...
- E nem sobre você.
- Tenha mais respeito! Sou SUA mãe! – Ela grita, e sobe as escadas. Logo sumindo de vista.
Len se aproxima de Rin, e a abraça por trás.
- Acho que daqui a pouco não poderei mais entrar aqui. – Disse ele. E Rin permaneceu em silêncio. Soltando apenas alguns sons, como quem estivesse tentando prender seu choro
- Se quer chorar, chore. – Diz ele, levantando seu queixo. Fazendo-a o fitar.
- Tenho que ser forte... Como você.
- Eu não sou forte. – Diz ele, beijando a testa de Rin. – Pois minha fraqueza sempre será você. – Ele Sussurra. E Rin solta seu choro nos braços de seu irmão, que a manteve fortemente envolvida por seus braços. – Não deixarei ninguém tocá-la. Não se preocupe.
Eles haviam aceitado os obstáculos de viver um amor tão complicado, desde o dia em que nasceram com seus dedos mindinhos conectados por um fio vermelho. Mesmo este podendo ser dito como um amor longe da realidade, ambos aceitaram seguir suas vidas com este fardo em suas costas. 
Desejando apenas a felicidade.
E caminhando até ela de mãos dadas.

Far From Reality. [Vocaloid - LenxRin - Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora