XIV - Segredos revelados

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O movimento em todas as ruas do reino, havia de fato, aumentado de forma extrema, devido as preparações para o baile real que aconteceria dentro de poucos dias. E também, havia aumentado a quantidade de inquilinos procurando qualquer pequena brecha, para roubar algum objeto. Não importando qual fosse.
- BASTARDO! – Gritou Hayato, correndo atrás de um homem que usava capuz. Este que já era esperto o bastante para jogar tudo o que encontrava em sua frente, ao chão; na expectativa de atrasar o grande homem que o seguia. – VOLTE AQUI! – Gritou, chamando-o. Ao notar que este estava prestes a sumir de sua vista.
 
No momento em que o ladrão começou a escalar um alto muro, uma flecha foi atirada, acertando a borda de sua camisa, fazendo-o ser pendurado por sua roupa.
- Isso foi incrível garoto! – Hayato pareceu orgulhoso, ao notar que Len havia atirado a flecha no bandido.
 
- Não foi nada. – Disse ele, como quem se gabasse, enquanto confortava seu arco em suas costas.
 
Logo os dois se aproximaram do capanga, vasculhando o que este havia roubado, e apanhando uma bolsa em sua mão. Esta que pertencia a uma senhora.
- Obrigada, obrigada! Ah, vocês caíram do céu... – Disse ela, se aproximando dele para apanhar a bolsa de volta. – Desde o falecimento do rei, as ruas ficaram ainda mais perigosas... Ainda bem que temos pessoas de tão bom coração como vocês. – Disse, de forma calorosamente bondosa.
 
- Não foi nada, minha senhora. – Respondeu Hayato, sentindo-se um tanto acanhado por suas palavras. – Tenha mais cuidado!
Então, a senhora de idade acenou aos dois, e se retirou do beco onde estavam, voltando a seguir seu caminho. Agora, com sua bolsa em segurança.
- Vamos. Temos que levar essas colheitas para Makoto fazer o jantar. – Afirmou o homem, e logo os dois se retiraram.
 
- EI! ME TIREM DAQUI! – Gritou o ladrão, que ainda estava preso no muro, flutuando.
Len e Hayato deram de ombros, continuando seus caminhos até suas casas.
 
- Hey, tio. – Começou Len, enquanto caminhavam. – O Senhor sabe se existe algum tipo de planta do castelo?
 
- Sim, é claro! Eu mesmo tenho uma! – Respondeu de forma animada, como sempre, sem imaginar o que Len tinha em mente.
 
- Tem? – Perguntou o loiro, fitando seu tio como quem suspeitasse dele.
 
- A-Ah, sim, eu acho. – Respondeu ele, como quem tentasse esconder algo. – Bom, por que pergunta algo assim?
 
- Curiosidade.
 
- Não está tramando algo perigoso, está? – O homem parou de andar, como quem já soubesse o que corria na mente do garoto.
 
- Não, não estou. – Len se virou para o homem, com um falso sorriso no rosto. – Vamos logo, minha tia nos matará pela demora!
Ele sabia o qual louco estava, pensando em fugir com sua irmã. Mas não conseguia aceitar o injusto destino que Deus os concedeu.
Por que ambos se amavam sendo irmãos?
Por que ele tinha que aceitar ver a mulher de sua vida, se casando com outro homem?
Ele nunca saberia a resposta para tais perguntas. Mas tudo que Len guardava em seu peito, querendo nunca esquecer, eram as promessas que ambos fizeram um para o outro. Na última noite que passaram antes de serem separados por cinco anos.
 
 “Eu te prometo, serei apenas seu pelo resto da minha vida.”
As palavras que foram ditas para Rin, em forma de promessa, ecoam por sua cabeça.
 
“E-Eu prometo... Ser apenas sua pelo resto da minha vida”
Agora, a doce voz da loira tomava conta de seus pensamentos, fazendo-o fitar o anel que ficava sempre em seu pescoço, pendurado por um cordão.
 
- “E será” – Pensou ele. Tentando se assegurar de que tudo daria certo.
 
Ao chegarem na casa da jovem plebéia, os dois entram nesta, esperando por um sermão pela demora.
- Ora, vocês chegaram! – Pelo contrário do que imaginavam, Makoto os recebeu de forma extremamente amável.
 
- Ué. – Hayato pareceu surpreso. – Onde está minha mulher, e quem é você que se parece tanto com minha preciosa Makoto?
 
- Sou eu. – Respondeu, com tamanha seriedade. – Deixe de ser criança. – Brincou.
Len soltou um leve riso, por gostar de sempre ver seus tios se darem tão bem. Talvez por se conhecerem a muitos anos... Na verdade, os dois nunca haviam falado sobre como se conheceram ou algo do tipo, apenas agem como se fossem extremamente íntimos. Amigos de infância, quem sabe? Pensava o loiro.
- Hey, nunca perguntei isso, mas – Começou Len. – Vocês se conheceram com quantos anos?
 
- Hehe – Hayato riu de forma desajeitada, e Makoto apenas sorriu timidamente, logo apanhando os legumes e verduras fresquinhos que seu marido havia levado. – Isso é uma longa história.
 
- Tenho tempo de sobra.
 
- Mas é muito longa.
 
- Não pretendo mais sair de casa por hoje.
 
- Mas é muito longa, realmen-
 
- Pare de enrolar. – Makoto os interrompeu, com uma voz docemente amigável como sempre foi. – Nos conhecemos há muitos, muitos anos.
 
- Nascemos quase juntos. – O homem completou as palavras de sua mulher, ambos com sorrisos em seus rostos.
 
- Eeh, que legal. – Len sorriu.
 
- Sim. Hehehe
Len parecia querer ouvir mais detalhadamente, porém Hayato agia como quem tivesse receio de contar a história dos dois por detalhes. O que fez o loiro deixar para perguntar novamente depois. Uma hora ele conseguiria a história completa, assegurou-se.
Cerca de meia hora depois, o jantar foi servido, e todos desfrutaram de mais uma refeição juntos.
Sendo aquela uma das noites mais frias, Len se deita em sua cama que rangia a cada movimento seu – por ser antiga e já bem gasta – e se agasalha bem, podendo observar uma silhueta das torres do castelo pela janela.
 
Makita fechava as cortinas do quarto de Rin, para evitar que o vento frio – que quase congelava sua pele – Adentrasse mais no imenso e aconchegante quarto da loira. Esta que naquele instante, se observava no imenso espelho que ali tinha.
- Acho que mais alguns ajustes, e estará perfeito. – Disse sua mãe, enquanto observava atentamente o deslumbrante vestido branco que Rin usava.
Este que teria de usar em seu casamento com Jin.
- Gostou? – Perguntou a mulher.
 
- Tanto faz. – Rin Retrucou, fechando as mãos com força, não se importando com a dor que isso causava a ela, devido aos machucados que carregava nas palmas de suas duas mãos. Ela já parecia acostumada com eles. – Qualquer coisa está bom.
 
- Seja mais agradecida! – A mulher a olhou com desdém. – Muitas garotas por aí dariam qualquer coisa para estar em seu lugar!
Ela estava certa. Afinal, as garotas de seu colégio deixavam bem claro que amariam se casar com um homem bonito e banhado em ouro. Sem se importar com quem fosse ele.
Mas Rin não era daquela forma, ela não aceitava ter de se casar com um homem que nem conhecia.
 
- EU NÃO QUERO! – Gritou a loira, agarrando as pontas de seu vestido com força, como quem estivesse prestes a rasgá-lo ao meio.
 
- Não se atreva a fazer isso, garota. – Disse a mulher, fitando-a com um olhar ameaçador, notando o que ela estava prestes a fazer. – Ou se arrependerá de ter mãos.
 
- Suas ameaças não me atingem mais.
 
- E se eu ameaçar fazer algo com ele? – Tais palavras fizeram Rin a encarar com um olhar de ódio através do espelho. – Um dos servos encontraram um cachecol vermelho nas redondezas do castelo... E os soldados disseram terem visto alguém no mesmo lugar em que o encontraram. Se você e ele estiverem planejando algo...
 
- Eu não sei de nada. – Disse ela, interrompendo sua mãe. – Nunca mais vi meu irmão, desde o dia em que me prendeu aqui de novo.
 
- Irmão? – A mulher sorriu maleficamente, escondendo-o por detrás de um leque. – Você não tem um.
 
- O-O que? – Espontaneamente, Rin solta seu vestido. Sentindo um forte aperto em seu peito.
 
- Boa garota. – A mulher sorriu, sentindo-se vitoriosa. – Agora, vá se trocar, já está na hora de dormir. Makita! Guarde o vestido pra mim, por favor?
 
- Sim, majestade. – Respondeu a jovem serva, enquanto tentava esconder sua angustia por ter ouvido as palavras da mulher.
 
- É incrível como agora você tem tempo para vir aqui. – Disse Rin, enquanto tentava segurar seu choro. – Quando éramos pequenos, era raro ao menos ouvir sua voz. Tudo que quer é dinheiro, não é, mama? – Logo a mulher para, ouvindo atentamente as palavras de sua filha. – Eu ouvi sua conversa com um homem hoje mais cedo.
 
- Como ousa-
 
- Você está me usando para conseguir roubar o dinheiro do reino de Jin.
 
- Cale a boca, sua – Logo a mãe de Rin estende sua mão, como quem fosse estapear o frágil rosto da loira. Porém para, como quem mudasse de idéia. – Se repetir estas palavras para alguém, irei fazer com o que aquele cachecol pertença a Len. E o prenderei por se infiltrar nas terras do castelo sem permissão. Estamos entendidas? – Rin se mantém em silêncio. – Como esperado.
Em seguida, a alta mulher sai do quarto de Rin, fechando a porta com força. Ao deixar de ouvir seus passos pelo corredor, Rin solta seus sentimentos, e cai no chão de joelhos. Se derramando em lágrimas.
- Onii-chan... – Chamou, em um sussurro.
 
- Rin-sama... – Makita se aproxima rapidamente da loira, abraçando-a fortemente. – Desculpe por não poder fazer nada.
Rin, sem conseguir evitar sentir tantas dores ao mesmo tempo, abraça sua serva – e amiga – podendo chorar em seu ombro.
- Obrigada, Makki-chan. – Disse, enquanto soluçava repetidamente.
 
- Vamos, deve se trocar. – Após passarem alguns minutos, o choro de Rin diminuiu. – Consegue tirar esse vestido sozinha?
 
- Acho que não. – Respondeu, enquanto sentia seu nariz e toda a garganta arderem depois de tanto chorar.
Logo Makita a ajudou a se trocar, como não fazia já tinha um tempo. E então a pôs em sua cama, por fim indo apagar as luzes do aposento.
 
- Hey, Makki-chan. – Chamou, fazendo a jovem mulher parar sua mão, antes que alcançasse o pequeno interruptor.
 
- Sim, minha senhora?
 
Logo Rin a fitou, como quem tentasse criar coragem para dizer algo.
- Você me ajudaria a fugir daqui?
 
- F-Fugir? – A mestiça pareceu surpresa.
 
Enquanto Rin estava em seu quarto, sentindo toda a confusão de sentimentos que era capaz; Len não parava de girar de um lado para o outro, como quem tentasse encontrar uma posição confortável. Mas não era esse tipo de desconforto que o impedia de dormir, e sim o de ser capaz de sentir as mesmas emoções que sua gêmea sentia naquele instante. Estas que pareciam extremamente intensas. O que não o permitia ao menos fechar os olhos.
 
- Len-kun! Está acordado? – A voz de Hayato ressoou de fora de seu quarto, enquanto este dava uma forte (Para ele, era leve.) batida na porta feita de carvalho puro.
 
- S-Sim. – Respondeu, de forma como quem suspeitasse da estranha visita do homem.
Então logo, seu tio abriu a porta e adentrou em no pequeno quarto.
 
- Às vezes me pergunto se Rin viverá bem como uma plebéia. – Começou ele, fazendo a espinha de Len se arrepiar.
Do que ele saberia?
- Ela é da família real, e continuará sendo – Respondeu, fingindo não se importar com isso, e logo continuou. – Pois se casará com um príncipe.
 
- E não se importa com isso? – Sua voz soava se forma irônica, e cada palavra deixava a cabeça de Len mais revirada.  – Seja sincero comigo. Você sempre será um filho pra mim, Len.
 
- Sim... – Respirou fundo, se questionando sobre o que ele sabia, ou até onde.
 
- Peguei a lamparina quente, durante uma manhã. – Hayato o fitou com os olhos entreabertos. – Onde andou estas madrugadas, mocinho?
 
- E-Eu não fiz nada! Digo, não que tenha sido eu... A acender a lamparina. – Ele se enrolou. – Espera, como a pegou quente, se minha lamparina fica em meu quarto?
 
- Era um blefe. – O homem riu, e o rosto de Len corou por completo. – Andou indo vê-la, não foi?
Um completo silêncio o fez suspirar e se sentar na beira da cama de Len. Que o fitava com um olhar triste.
- É perigoso, garoto. Você pode ser pego, e se isso acontecer não será só você a ser punido. Maria é uma mulher muito má, e sempre será. – Disse Hayato, e o loiro se sentiu estranho por não receber nenhum sermão. – Não irei te julgar por amá-la, se era o que esperava de mim.
 
- Não disse nada! – Com total vergonha, Len esconde seu rosto debaixo de sua coberta.
 
- Sabe aquele livro que você sempre leu para Rin-sama? – o loiro assente com a cabeça, sem conseguir dizer uma única palavra. – Eu também já o li. Sim, isso mesmo, eu já vivi naquele imenso lugar.
 
- Ah, você sempre disse ser um parente distante de meu pai...
 
- Eu menti. Não era tão distante assim. Na verdade, éramos irmãos.
 
- E-EH? Então – Logo todas as informações que ele tinha de sua família, se ligaram. – Vocês são meus tios de verdade. – Sorriu.
 
- Sim, Len-Len. – Riu, bagunçando os cabelos dourados do garoto, de forma acidentalmente brusca. – Então, será que agora você tem tempo para ouvir uma longa história?

Far From Reality. [Vocaloid - LenxRin - Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora