Gustavo estava saindo mais cedo da Rey Café por ter combinado de ir jantar com a Cecília em casa. Faltava pouco mais de um mês para o casamento deles e ele estava ficando ansioso para o dia. Não via a hora de formar a tão sonhada família com ela, dando uma segunda oportunidade a Dulce Maria de ter uma mãe que a amasse, depois da Teresa. Ele demorou muito para superar a sua perda e, agora, estava feliz por ter encontrado seu segundo amor. Nada mais poderia atrapalhar que eles pudessem ser felizes juntos. Até aquele momento.
– Gustavo?
Ao escutar alguém o chamando, Gustavo parou em suas trilhas, no meio da calçada da Rey Café. Ele se virou para encontrar uma moça idêntica a Teresa e seu coração bateu em disparado. Ele permaneceu em choque por alguns segundos sem conseguir responder.
– Quem é você?
– Teresa. – A moça respondeu tranquila e Gustavo se surpreendeu.
– Impossível! Teresa morreu. Que brincadeira é essa?
Ele olhou de um lado para outro achando que estava numa pegadinha. Só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto.
– Gustavo...
A moça tentou falar novamente e Gustavo fechou os olhos ouvindo aquela voz carregada de um sotaque estrangeiro que ele amava tanto ouvir.
– Não! Quem é você e o que você quer? – Ele a interrompeu tenso.
– Quero falar com você. Explicar o que aconteceu.
Gustavo a encarou por um momento e Teresa deu um passo em sua direção. Por instinto, ele deu um passo para trás. Ela sabia que iria ser difícil fazê-lo entender.
– Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas você não pode ser a Teresa. Ela morreu há três anos. – Ele disse se virando para ir embora.
– Como você pode não acreditar que sou eu?
Teresa continuou parada no mesmo lugar com sua voz tremendo e lágrimas embaçando seus olhos, traindo seu esforço de controlar-se na frente dele.
– Porque a minha Teresa, a Teresa doce, bondosa e carinhosa que eu conheci, jamais magoaria quem ela amava desse jeito e se você fosse ela, eu iria te odiar por ter sumido por tanto tempo sem explicação.
Gustavo respondeu duro se virando bruscamente de volta para ela. Teresa sentiu como se tivesse sido socada no peito. Ela abriu a bolsa e pegou duas pastas com seus arquivos hospitalares que ela tinha conseguido juntar ao descobrir sua verdadeira identidade.
– Eu estive em coma por dois anos e fiquei sem memória por mais um. Talvez seja por isso que eu não tenha mandado uma carta de lembrança pra você!
Ela jogou rudemente as pastas no chão em frente à Gustavo. Elas deslizaram até os pés dele e Teresa se virou para ir embora. Gustavo olhou o símbolo do hospital de Doce Horizonte e observou Teresa se afastar. Ele sentiu seu coração apertar vendo-a ir embora e suspirou enquanto se abaixava para pegar as pastas.
– Espera!
Gustavo disse apressado e seguiu seus passos. Teresa continuou caminhando com ele logo atrás dela até que ele puxou seu braço fazendo-a parar.
– O que é isso? – Ele perguntou se referindo aos arquivos.
– A explicação que você queria para meu desaparecimento.
Teresa puxou seu braço de volta e continuou caminhando. Gustavo se perguntou se deveria segui-la, mas ela logo se sentou num balanço da pracinha que havia próxima a Rey Café visivelmente chateada. Gustavo respirou fundo e fez o mesmo caminho, sentando-se no balanço que havia ao lado do dela.
– Explique-se! – Ele disse sério.
Mesmo com o sol se pondo atrás de Gustavo, Teresa pode enxergar a mágoa em seus olhos.
– O que aconteceu foi o seguinte... Eu estive numa cidade vizinha esse tempo todo. Quando sofri o acidente que fui parar no hospital, houve um outro acidente por perto, envolvendo um ônibus. – Gustavo balançou a cabeça incentivando-a a continuar. – E então, tiveram que fazer varias transferências para outros hospitais e, por um erro do hospital, eu fui junto. – Teresa suspirou.
– Mas como? Eu estava lá o tempo todo. Nós enterramos você. – Gustavo disse confuso.
– Você viu o meu corpo?
Teresa perguntou e ele se calou.
– Disseram que você estava tão machucada que não queriam que ficássemos com essa última imagem sua. – Ele balançou a cabeça sem acreditar. – Todo esse tempo você estava viva e não sabíamos de nada? E quem foi a pessoa que enterramos?
– Uma mulher parecida comigo, talvez. – Teresa deu de ombros. – Eu cheguei no hospital sem identificação e quando acordei, dois anos depois, eu não lembrava de nada.
Gustavo sentiu um misto de emoções que não sabia explicar. Raiva, descrença e tristeza por ter perdido todo esse tempo sem saber que sua amada ainda estava viva.
– O que você fez depois?
– Depois que acordei, passei a viver com a enfermeira que cuidou de mim. Ela se tornou uma mãe e me ajudou em tudo. Inclusive, foi com a ajuda dela que consegui descobrir quem eu era. Eu tive muita sorte, Gustavo. Se não fosse por todas as pessoas que me ajudaram, eu não saberia o que fazer, nem pra onde ir. E agora, estou aqui desesperada tentando retomar a minha vida, ver a minha filha e você. Há dias que eu venho nesse mesmo horário a Rey Café, disposta a te contar tudo, mas te vejo sair e perco a coragem quando penso na reação que você teria.
Teresa limpou as lágrimas que brotaram no meio de seu discurso. Lágrimas essas tão familiares a ela por sempre aparecerem quando se tratava dele e de sua filha.
– E como você recuperou a memória?
– Com muito esforço e ajuda de uma psicóloga. Eu tinha sonhos constantes de lembranças nossas e, aos poucos, as memórias foram voltando, até que um dia, depois de descobrir como eu sofri o acidente, tudo voltou. Os médicos disseram que era raro isso acontecer, mas não era impossível.
Ele assentiu. Ainda era confuso ter ela ali tão perto dele depois de anos achando que ela estava morta.
– Eu... Eu não consigo acreditar em tudo isso que aconteceu. – Gustavo disse com pesar e suspirou olhando para o chão.
– Gustavo, você tem que acreditar em mim. Se eu soubesse quem eu era ou como poderia te encontrar, eu juro a você que não teria demorado tanto tempo.
Teresa falou quase num desespero agarrando a mão dele com força.
Ela olhou para ele e o viu lutando por alguma coisa internamente. Seu silêncio permaneceu por um tempo e ela esperou até que ele absorvesse tudo o que ela tinha dito, que pudesse compreender o que ela tinha passado e não a odiasse como ele falou que faria porque ela não tinha culpa do que tinha acontecido. Não era assim que ela pensou que seria seu reencontro com ele, mas ao mesmo tempo, ela sabia que seria muito difícil porque Gustavo era muito cético com a vida. Antes dele dizer algo, seu telefone tocou, quebrando o momento dos dois. Gustavo pegou o aparelho e, ao ver o display, sua expressão mudou e Teresa percebeu. Ele se afastou do balanço para atender, mas não o suficiente antes da primeira frase.
– Oi, meu amor.
Gustavo disse sem perceber que Teresa podia ouvir e ela se surpreendeu com a saudação. Significava que ele já tinha seguido em frente e que ela teria que ter mais forças para lutar por sua família. Teresa se ajeitou e foi embora antes mesmo de Gustavo desligar o telefone, deixando todos os papéis em cima do balanço em que ele estava antes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma vez mais
FanfictionUma outra perspectiva da volta de Teresa, dessa vez justamente quando tudo parecia estar caminhando para um final feliz de Gucilia. A história começa pouco antes do casamento de Gustavo Lários e Cecília Santos. - Espero que gostem! 💖