Cecília já estava na casa de Gustavo quando ele chegou depois de ter deixado Teresa em casa. Ela tinha ido visitar Dulce Maria no intervalo das aulas do internato, uma vez que as amiguinhas da menina ainda estavam preocupadas com a amiga. Gustavo já estava decidido no que ia fazer e ao vê-la ali, sentada no sofá com um semblante sério, também confirmou que ela já sabia o que iria acontecer.
– Cecília! Chegou faz tempo? – Cecília não se levantou para cumprimentá-lo.
– Um pouco. Vim ver a Dulce. Fiquei sabendo que a Teresa dormiu aqui e acho que precisamos conversar. – Ela respondeu séria e Gustavo também se sentou ao seu lado, mas sem tocá-la.
– É, eu acho que precisamos mesmo.
– Quero que você seja sincero comigo, Gustavo.
– Eu sempre fui. – Gustavo rebateu na defensiva.
– Não nas últimas semanas. – Ela tinha razão. – Você ainda a ama?
Cecília perguntou olhando nos olhos dele sem precisar citar nenhum nome. Já sabiam de quem estava falando. Gustavo não hesita na resposta.
– Sim. – Ele respondeu honestamente.
– Você está apaixonado por ela? – Cecília perguntou de novo e Gustavo respirou fundo.
– Sim.
Gustavo respondeu novamente sem desviar o olhar do dela, vendo que seu rosto estava sem nenhuma emoção. Ela sempre foi muito expressiva. Seus olhos sempre falavam volumes e agora não conseguia decifrar o que estava passando na mente dela. Assustou a ele. Cecília se levantou do sofá lentamente.
– Nós não temos chance, não é?
No fundo, ela sabia que desde o dia que Teresa reapareceu, as coisas não iriam terminar bem para eles, mas achou que Gustavo realmente pudesse sentir algo tão forte por ela que fosse capaz de conseguir superar a presença da Teresa.
– Eu sinto muito!
Gustavo se sentia culpado. Cecília tinha guardado suas emoções, o que era difícil para ele. Ele queria que ela gritasse com ele, dissesse alguma coisa, qualquer coisa, para ele pudesse saber o que ela estava sentido. Sabia que alguém iria sair magoado dessa história, sempre soube. Mas ele nunca esperaria que ela se inclinasse para ele e beijasse a sua bochecha, entregando o anel de noivado.
– Eu também, Gustavo. – Ela foi em direção à porta. – Eu vou falar com Estefânia e cancelar tudo do casamento, não se preocupe. Espero que você seja feliz com ela.
Cecília saiu deixando Gustavo no mesmo lugar que estava. O perfume dela ainda rodava a sala e ele segurou a cabeça nas mãos. Ela não merecia que ele fizesse isso com ela. Cecília tinha ajudado muito, dado tudo de si sem esperar nada em troca, mas ele não mandava no coração. O coração dele sempre foi de Teresa desde o primeiro dia que ele tinha posto os olhos nela.
– Você merece um homem que te dê todo o seu coração, Cecília, e eu não pude fazer isso. – Gustavo disse para si mesmo.
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– Cecília! O que você está fazendo aqui? Como descobriu meu endereço?
Surpresa era um eufemismo para Teresa que se deparou com a presença de Cecília na porta de sua casa.
– Isso não é importante pro que eu tenho pra falar com você. Podemos conversar?
Ela estava séria. Teresa não estranhou porque Cecília sempre a tratou com um certo distanciamento, mas a deixou entrar. Elas se sentaram no sofá de frente para a outra. O que poderia ter feito a noiva do seu ex marido vir lhe procurar?
– Quer alguma coisa pra beber? – Teresa perguntou.
– Não, obrigada. A nossa conversa não vai demorar muito.
– Pode falar.
– Gustavo e eu terminamos. – Cecília foi direto ao assunto.
– Cecília, eu... – Teresa tentou falar mas a mulher mais jovem levantou a mão parando-a.
– Não tente se justificar. Era de se esperar. Mais cedo ou mais tarde, Gustavo iria tomar uma decisão.
Cecilia mexeu no dedo que pouco tempo atrás estava um anel que tinha ganhado do homem dos seus sonhos e Teresa percebeu.
– Mas eu não...
– Você o ama? – Cecília a interrompeu. – Eu já sei a resposta dele, mas quero ouvir de sua própria boca.
– Sim. – Teresa respondeu sincera. Pra que mentir?
– Por isso estou aqui. – Cecília sorriu mas não tinha nenhuma emoção nesse ato.
– Aonde você quer chegar?
Teresa não estava entendendo para onde iria o rumo daquela conversa. Cecília levantou do sofá e andou um pouco pela casa, observando os detalhes. Toda a casa estava em perfeita ordem. Teresa a observava atenta.
– Existiam duas coisas dentro do Gustavo que o faziam estar nesse impasse de decidir o que queria. – Cecília voltou a olhar Teresa. – A sua razão e o seu coração. A razão dele dizia para se casar comigo por tudo o que já vivemos. Pela história que começou há pouco mais de um ano até chegarmos aqui. Porque seria o certo. Mas o coração dele... Ele não se importa com o que é certo e o que é errado. O coração apenas escolhe alguém para amar. E ele já escolheu. – Ela deu um sorriso amargo. – Eu não quero viver com a razão do Gustavo. O coração dele pertence a você, Teresa, há muito tempo e não há ninguém nessa vida que possa tomar o seu lugar.
– Não sei o que te dizer, Cecília.
O que ela poderia dizer nesse momento? Nenhuma palavra poderia confortar a mulher a sua frente porque seria uma mentira.
– Não precisa me dizer nada. Eu sou mulher o suficiente para admitir que perdi essa batalha. – Ela pegou sua bolsa e se dirigiu a porta de entrada. – Estou deixando o caminho livre para vocês serem felizes porque vocês merecem, depois de tudo o que passaram. Sei que vocês têm muito o que conversar ainda, mas não perca mais tempo, Teresa. Por vocês e pela Dulce.
Cecília foi embora deixando Teresa atônita. Ela jamais esperaria uma atitude assim da Cecília porque sabia o quanto ela se sacrificou para estar com o Gustavo. Ela era uma noviça e deixou seu hábito para estar com o homem que tinha se apaixonado e agora ela tinha desistido dele. Não são todas as mulheres que seriam capazes de fazer isso sem uma grande luta. Era louvável seu altruísmo.
Teresa permaneceu pensativa durante toda a tarde. Pensando em todas as coisas que viveu desde o dia que acordou de seu coma. E o tempo que perdeu até finalmente saber quem era e voltar pra casa. Ela lembrou de todos os conselhos que ouviu desde o dia que reencontrou Gustavo e, por mais que dissesse que sentia raiva dele por estar com outra pessoa, como ela poderia culpá-lo se ele não sabia que ela estava viva? Se ele soubesse que existia a mínima possibilidade dela ter sobrevivido ao acidente, ele teria ido até o fim do mundo atrás dela. Ela o amava e sabia que ele a amava também, então porque não engolir o orgulho e finalmente ser feliz com sua família? Agora, quem deveria tomar uma decisão era ela. Ela pegou seu telefone e discou para o primeiro contato de sua lista.
– Oi, podemos conversar?
Teresa perguntou incerta sentindo borboletas no estômago assim que escutou o outro lado da linha atender ao telefone.
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Uma vez mais
FanfictionUma outra perspectiva da volta de Teresa, dessa vez justamente quando tudo parecia estar caminhando para um final feliz de Gucilia. A história começa pouco antes do casamento de Gustavo Lários e Cecília Santos. - Espero que gostem! 💖