– Oi.
Teresa se espantou com a presença de Gustavo fora do seu trabalho naquele mesmo dia. Ele estava parado, encostado no seu carro e ela passou o dia pensando no que tinha acontecido depois que pai e filha saíram, mas Gustavo nunca deu notícia e ela iria falar com quando chegasse em casa.
– O que faz aqui? Achei que você ia me ligar. – Ela disse confusa.
– Achei melhor conversamos pessoalmente. Temos algumas coisas a tratar. Quer jantar comigo?
– Sua noiva não vai achar ruim? – Teresa perguntou inclinando a cabeça pro lado.
– Não se preocupe. Eu lido com ela depois.
Gustavo estava sério e Teresa estranhou. Ele se moveu para abrir a porta do passageiro para ela que entrou em silêncio esperando por ele.
– Então, o leão da selva devolveu a presa indefesa ao colégio? – Teresa perguntou tentando quebrar o clima sério do carro e Gustavo riu suavemente.
– Não sei de onde Dulce Maria consegue tirar tanta maluquice. – Ele balançou a cabeça ainda sorrindo. – Aliás, eu sei. De você! – Gustavo olhou para ela e piscou o olho.
– O fruto nunca cai longe da árvore.
Teresa levantou uma sobrancelha para ele divertida. Pouco foi falado dentro do carro até chegarem a um restaurante bom da cidade. Ela queria perguntar muitas coisas sobre a sua filha, mas Gustavo permanecia sério. Vez ou outra ela o pegava olhando pra ela e isso a deixava um pouco tímida, sem saber como responder. Quando chegaram ao restaurante, Gustavo a guiou com uma mão em suas costas e em pouco tempo se acomodaram.
– Então, o que aconteceu depois que você saiu com a Dulce do hospital? – Teresa perguntou assim que o garçom saiu com os pedidos deles.
– Eu fiz como você disse. Conversei com ela, não briguei. Disse a ela que ela não podia ter saído do colégio sem que ninguém soubesse, mesmo que fosse pra ver você. Ela contou o que estava guardado, pelo que aconteceu no dia do parque e eu conversei que íamos dar um jeito dela ver mais você. No final, ela já estava feliz de novo.
– Está vendo? Tudo se resolve com uma boa conversa.
– Mas ela ainda está de castigo. E provavelmente a Madre deve ter dado outro por ela ter saído do colégio sem permissão.
– Pelo menos ela não está presa ao pé da cama como disse que você faria com ela.
Gustavo riu. Era incrível como ele não conseguia ficar sério por muito tempo perto dela porque sua presença o deixava mais leve. Teresa sempre sabia levantar o ânimo do ambiente com alguma coisa que dizia ou fazia. Eles quase nunca brigavam porque ele sempre foi fraco pro que ela queria. E quando aparecia um beicinho, então, era sua ruína. Talvez seja por isso que ele sempre acaba fazendo tudo que Dulce Maria queria, o beicinho dela era idêntico ao da mãe.
– Posso te fazer uma pergunta? – Gustavo perguntou sem jeito.
– Claro, Gustavo.
– Como você conseguiu esse emprego no hospital?
– Ah, por recomendação de um amigo. Na verdade, a enfermeira que cuidou de mim enquanto estava em coma, tem um sobrinho que mora aqui. Ele me ajudou muito e se tornou uma pessoa muito querida e próxima. Se não fosse por ele, eu nem sei o que seria de mim aqui.
Ela sorriu ao falar do amigo e Gustavo se mexeu desconfortável na cadeira, refletindo o desconforto que sentiu no peito ao ouvir a Teresa falar tão docemente de outro homem. Ela não pertencia mais a ele, mas não conseguia parar de sentir um sentimento de ciúmes. Ele perdeu tanto dela que não sabia mais nada de sua vida.
– Mas me diz, esse jantar foi para falar sobre o meu emprego e a Dulce ou tem mais alguma coisa?
– Temos algumas coisas para resolver além da nossa filha.
– Tipo o que?
Teresa perguntou um pouco confusa e antes da ouvir a resposta, os pedidos deles chegaram e eles começaram a jantar. Uma conversa saudável se instalou no meio da refeição, com eles falando apenas amenidades e dando risadas. A conversa séria poderia esperar um pouco. Eles precisavam desse momento. Um momento em que pudessem se reconectar depois de quase três anos de ausência. Quando já estavam quase por satisfeitos, Gustavo retomou o assunto da Dulce.
– Quando voltamos do parque, Dulce Maria pediu para dormir com você algum dia. Naquele momento, eu estava tão chateado com ela que disse que não, mas hoje ela pediu mais uma vez e eu falei que ia conversar com você.
– É claro que eu gostaria que ela pudesse dormir comigo, Gustavo. Isso faria muito bem para nós duas, termos um tempinho só nosso. – Teresa sorriu genuíno, mas que logo desapareceu
– O que foi? – Ele pegou na mão dela preocupado.
– É que onde eu estou morando, não tem espaço para uma criança.
– E onde você está morando?
– Numa pensão. Esse meu amigo que falei conhece a dona e ela me acolheu. Lá é pequeno demais para uma criança. – Teresa suspirou.
– Não tem problema, eu te ajudo a encontrar um outro lugar pra ficar.
– Gustavo, eu acabei de chegar, acabei de conseguir um trabalho, não dá pra eu ir morar numa casa com tanto gasto ainda.
– Teresa, você ainda é da família, eu posso te ajudar...
– De jeito nenhum! – Ela o cortou. – Não quero que você se preocupe comigo.
– Eu sempre vou me preocupar com você. – Gustavo apertou a mão dela que ainda estava segurando em cima da mesa. – Além disso, você acha que isso vai fazer a Dulce mudar de ideia? Nós dois sabemos que toda essa birra dela é por querer estar com você. Não queremos que ela apronte mais uma vez por isso, não é?
Ele sorriu vitorioso quando viu a expressão dela sabendo que a tinha convencido.
– Não vai ter outro modo, ham? Você não vai desistir. – Ele balançou a cabeça negando. – Tudo bem, Gustavo. Se isso vai melhorar o comportamento da nossa filha, eu aceito.
– Fico feliz em ter alguém pra dividir os problemas envolvendo a Dulce. Hoje, eu fui o pai bonzinho e você a mãe que brigou. – Gustavo disse divertido e ela deu um tapinha na mão dele que estava em cima da mesa, rindo.
– Mas quem a colocou de castigo ainda foi você. Além do mais, isso irá acabar de qualquer forma depois do seu casamento. A Cecília fará parte dessa equação.
O clima ficou sério novamente e Gustavo pigarreou. Se sentia desconfortável com aquele pensamento, mas não podia mudar a realidade.
– Precisamos falar sobre isso também. Eu estava conversando... – Ele passou a mão no cabelo espantando sua divagação sob o olhar atento de Teresa. – Bom, a questão é que, como você está viva, significa que ainda somos casados e se somos casados, significa que não posso me casar com a Cecília.
– E...
Teresa o incentiva a continuar sentindo seu coração bater mais rápido com o rumo que aquela conversa estava tomando. Gustavo ficou em silêncio por um momento, fazendo com que Teresa ficasse ainda mais inquieta sem saber o que esperar.
– Eu nunca pensei que pudesse dizer isso, mas… Nós... Nós precisamos nos divorciar.
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Uma vez mais
FanfictionUma outra perspectiva da volta de Teresa, dessa vez justamente quando tudo parecia estar caminhando para um final feliz de Gucilia. A história começa pouco antes do casamento de Gustavo Lários e Cecília Santos. - Espero que gostem! 💖