Capítulo 2

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      Quando Gustavo se virou novamente após a ligação, não encontrou Teresa onde a tinha deixado, só viu seu balanço se mexendo de um lado para o outro pelo vento e a procurou pela praça, encontrando-a já mais distante, quase chegando na esquina. Ele se apressou em pegar os papéis e correu atrás dela.

 – Teresa!

Ele a chamou indo de encontro a ela e ela se virou para ele.

– Eu sei que não posso chegar aqui e esperar que você tenha virado celibatário. Você é lindo por dentro e por fora e qualquer mulher ficaria lisonjeada em estar ao seu lado. Fico feliz que tenha seguido em frente, mas eu quero poder ver a minha filha novamente. Vou deixar você se convencer que tudo o que disse não é mentira e que eu estou aqui. E então, vou esperar a sua ligação. O meu telefone está aí no meio. – Ela apontou para os arquivos. – Eu só te peço de coração que não me deixe mais muito tempo longe da minha carinha de anjo, você não faz ideia do quanto meu coração dói por passar mais um dia sem poder senti-la em meus braços. – Teresa entrou no táxi que tinha parado ali e foi embora.

     Gustavo ficou parado no lugar, chocado e surpreso com o que tinha acabado de acontecer e em tudo o que ela tinha dito. Teresa sentia que ainda tinha sentimentos por Gustavo, apesar de todo esse tempo separados, mas sabia que não tinha direito de exigir que ele voltasse para ela se ele já tivesse superado a sua suposta morte.

      Por incrível que pareça, tinham se passado algumas horas desde que Gustavo tinha saído da Rey Café e era por esse motivo que ele tinha recebido a ligação de Cecília. Ele tinha esquecido completamente o jantar que tinha combinado com ela e agora tinha deixado duas mulheres importantes para ele chateadas por suas atitudes. Gustavo olhou mais uma vez pros papéis e os guardou em sua bolsa de trabalho, finalmente indo para seu carro, querendo desesperadamente ir para casa e pensar no que a volta de Teresa representaria para sua nova fase da vida e todas as suas consequências. De uma coisa ele sabia: a partir daquele momento, muita coisa estaria em jogo e ele era o único a tomar decisões que afetariam a todos, inclusive Dulce Maria.

      Cada um seguiu seu caminho em direções opostas da cidade, Teresa foi para a pensão que estava ficando desde o dia que chegou em Doce Horizonte, recomendada por uma dessas pessoas que tanto a ajudaram desde o início e Gustavo chegou a cobertura sentindo uma exaustão mental que só sentia quando Dulce Maria aprontava no colégio. E fazia muito tempo que ela não entrava em confusão.

– Meu amor, o que aconteceu? Você estava estranho ao telefone.

Cecília perguntou assim que ele passou pela porta do apartamento e Gustavo respirou fundo esgotado.

– Desculpe, eu tive um imprevisto quando saí da empresa. – Ele deu um selinho nela.

– Quer me contar?

     Ela perguntou preocupada e ele a encarou sem saber o que dizer. Queria contar que Teresa estava viva, mas até ele precisava de um tempo para deixar a ficha cair. Mas, mais cedo ou mais tarde Cecília teria que saber.

– Podemos falar amanhã? Eu realmente estou cansado.

Gustavo esfregou as duas mãos no rosto tentando conter o cansaço e ela aceitou relutante.

– Tudo bem, então eu já vou. Achei que você pudesse ainda querer jantar, mas tudo bem, fica para a próxima. Você me leva? Assim aproveitamos um tempinho juntos. – Ela sorriu pegando a bolsa jogada no sofá.

– Você não ficaria com raiva se pudesse pegar um táxi? Eu não seria uma boa companhia agora.

Gustavo pegou o telefone de casa e ligou para um táxi antes mesmo dela abrir a boca.

      Cecília ficou surpresa com a atitude de Gustavo, não era do feitio dele deixá-la esperando, mas mesmo assim não se opôs, pois sabia que ele iria dizer o que estava acontecendo no momento certo. Então, ela foi embora e Gustavo subiu direto para o quarto, retirando de sua bolsa os arquivos que Teresa tinha entregado a ele, analisando cada folha que estava ali comprovando, de fato, a história que ela tinha contado. Ele encontrou o papel com o número de telefone que ela tinha dito deixando-o próximo de seu telefone para que pudesse lembrar de salvar antes de perder o papel.

Quando finalmente terminou de ver tudo, já era madrugada e Gustavo deitou em sua cama demorando a pegar no sono por repassar em sua mente todo o seu encontro com Teresa. Era inevitável não ir às lágrimas, então, ele adormeceu sentindo suas bochechas molhadas pela saudade que ele sempre sentia ao pensar nela e em como seria a vida dele se soubesse desde o início que a Teresa tinha sobrevivido ao acidente que mudou o rumo da sua vida e de sua família.

-

      Gustavo precisou de alguns dias para, de fato, se dar conta de que Teresa estava viva. Ele tinha sentimentos desencontrados no peito, mas a felicidade de saber que estava, mais uma vez, sentindo a presença dela o fazia sorrir pelos cantos. Era algo que ele não podia controlar. Antes, pensar na Teresa trazia um sentimento nostálgico, agora, ele podia sentir seu peito queimar de contentamento. A próxima missão que ele tinha era a de contar para Dulce Maria e para a Cecília que Teresa tinha sobrevivido ao acidente que mudou o rumo da vida deles. Ele pensou que seria melhor as duas saberem ao mesmo tempo.

 – Madre, será que eu posso falar com a Dulce e Cecília por um momento?

     Gustavo pediu a Madre Superiora que se surpreendeu com a forma séria que ele tinha chegado ao colégio. Fazia tempo que a Madre não precisava chamá-lo para conversar sobre Dulce Maria e a presença dele ali, sem aviso prévio, a deixava preocupada.

– Pro senhor vir até aqui com essa cara, o assunto só pode ser sério.

– Sim, Madre. E eu preciso falar com elas sobre isso. – Gustavo se mexeu desconfortável na cadeira.

– A Cecília deve estar dando aula para a turma da Dulce Maria agora. Eu vou chamá-las.

     Ele assentiu e ela se retirou. Gustavo levantou da cadeira e caminhou um pouco pela sala tentando dissipar a tensão de seu corpo. Ele não poderia prever a reação da filha ao saber que a mãe estava viva, mas teria muito o que se explicar para sua noiva depois.

– Papi! Eu nem acreditei quando a Madre disse que você estava aqui!

     Gustavo ouviu a voz de Dulce Maria e se virou a tempo de pegá-la nos braços para lhe dar um abraço apertado. Ele sorriu para a filha e viu Cecília perto da porta.

– Que surpresa te ver aqui.

Ela sorriu para ele e eles deram um selinho. Dulce deu uma risadinha de felicidade ao ver os dois finalmente juntos.

– Eu preciso conversar com as duas. – Gustavo disse sério e o sorriso de ambas desapareceu.

– Pelo visto é sério mesmo. Eu juro, juradinho que dessa vez eu não fiz nada. – Dulce levantou a mão direita olhando para o pai.

– Eu sei que não, minha filha. Na verdade, eu vim aqui falar sobre outro assunto. O que eu tenho para falar, é sobre a sua mãe. Senta aqui.

Gustavo levou Dulce para sentar na cadeira e se abaixou para ficar a sua altura. Dulce olhou para Cecília que estava atrás de Gustavo e voltou a olhar para ele.

– O que tem a minha mamãe? – Ela perguntou baixinho.

     Falar sobre Teresa sempre deixava Dulce Maria um pouco mais triste. Gustavo respirou fundo e olhou para a filha sem saber por onde começar.

– Eu não sei como te falar isso de outra forma, minha filha, mas… A sua mãe... A sua mãe sofreu aquele acidente que a levou pra longe de nós, não foi?

– E agora ela mora agora no céu.

– Você sempre vê sua mãe nos seus sonhos não é, filha? – Dulce assentiu. – E se eu te disser que a sua mamãe não morreu naquele acidente? Que sua mãe está viva?

     Ele disse devagar e esperou a reação de Dulce Maria. A menina ficou em silêncio por momento enquanto Cecília ampliou os olhos de surpresa ao ouvir tal informação.

Uma vez maisOnde histórias criam vida. Descubra agora