Capítulo 13

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– Não, não é. Você precisa ser sincero com você mesmo e com os seus sentimentos. – Estefânia segurou a mão dele que não estava machucada vendo o quanto ele se sentia culpado pelo que estava acontecendo.

– Cecília me ajudou sem nem eu saber. Ela juntou todas as peças que estavam soltas na família. Ela esteve lá para Dulce Maria quando ela mais precisou de alguém para segurar a sua mão. Virou o seu mundo de cabeça para baixo, mudou tudo aquilo que acreditava na sua vida por amor a Dulce, a mim, a essa família. Deixou de ser noviça, Estefânia, superou todos os obstáculos para estar ao nosso lado. Eu a amo, de verdade, mas... – Gustavo parou de falar por um segundo sentindo um nó preso em sua garganta.

– Ela não é a Teresa. Ela não é o amor da sua vida. – Estefânia terminou por ele.

– Não. Ela não é.

– Você está com a Cecília porque Teresa foi dada como morta.

A conversa estava indo por um caminho que Estefânia sabia que ia chegar em algum momento. Estava claro como água que Gustavo estava dividido entre fazer o certo e fazer aquilo que seu coração pedia. Não precisava de muito para entender o dilema que ele vivia.

– Desde o dia que Teresa apareceu, todas as manhãs eu acordo e me pergunto se é real. Eu continuo olhando para ela como um idiota, achando que ela vai sumir de novo. Há um milhão de pequenas coisas que eu costumava saber dela e agora, eu quero me afogar nelas novamente. Atualizar o rolo de memória que eu tenho guardado dela, caso eu a perca novamente. Como a forma bonita que ela fala, por causa do sotaque, o jeito que ela abaixa a cabeça envergonhada quando eu falo algo bonito para ela ou quando seus olhos traem suas emoções, mostrando a paixão que ela sente por algo que ela realmente gosta. Como minha pele chega a queimar quando ela sorri genuíno e eu tenho vontade de tocar seu rosto e beijá-la. É terrível porque eu não tenho direito a isso e parece que cada dia que passa, eu a perco um pouco mais. Ela não é a mesma e tudo mudou, mas ao mesmo tempo, ela ainda é a Teresa, a minha Teresa. Ela aparece e tudo parece se encaixar, todos os meus medos somem. Eu vejo a mãe da Dulce, a minha esposa.

Gustavo desabafou tudo o que estava guardado no peito desde o dia que encontrou Teresa na porta da Rey Café semanas atrás e Estefânia já estava deixando as lágrimas rolarem contagiada pela intensidade da conversa.

– Gustavo... Olha, nós só temos uma vida nesse lugar e ela sempre termina muito mais cedo do que achamos. Além da Dulce, eu não conheço ninguém que o fez mais feliz do que a Teresa, primo. Eu vivi a história de vocês dois desde o início, quando ela ainda era uma moça simples, filha de um dos empregados da fazenda. – Gustavo sorriu lembrando do momento em que conheceu a Teresa. Tantos anos que pareciam uma vida. – O que estou querendo dizer é: não se sinta culpado por amá-la mesmo depois de tantos anos.

– Eu estou machucando a Cecília... – Ele disse num sussurro.

– Você não pode ficar com a Cecília apenas porque não quer machucá-la.

– Eu sei...

– Isso vai te fazer pensar muito agora, mas depois, você vai ver que fez o certo, primo. Tudo o que você precisa fazer é ser sincero com ela. E com a Teresa. Dizer o que sente. – Estefânia segurou a mão de Gustavo mais uma vez.

– Não vai ser fácil. – Ele esfregou a testa, sentindo uma pontada de dor de cabeça. – Eu não posso chegar na Teresa e dizer: “Oi, amor, desculpe por toda essa bagunça de noivado e divórcio, eu estava brincando, vamos voltar a ficar juntos”. De todas as pessoas que magoei nessas semanas, não tenho dúvidas de que Teresa é a campeã.

– Pare de se punir, Gustavo. Você sofreu a dor da perda dela por dois anos e então, você continuou sua vida, assim como você queria que ela fizesse, se fosse o contrário. Eu tenho certeza que ela entende. Até hoje você convivia com a dor da saudade dela e todos nós respeitávamos.

– Ela entende. Mas entender não é igual que perdoar. Se você visse o jeito dela hoje à tarde, Estefânia, eu só queria que tudo isso passasse logo. – A forma magoada como Teresa olhou para ele enquanto eles estavam na empresa era algo que machucava ele. Ela podia ter dito que estava bem, mas seus olhos diziam que não.

– Me diga uma coisa, ela ainda te ama?

– Sim.

Gustavo respondeu sem hesitar pensando no que Teresa tinha dito na escada. Mesmo antes disso, ele tinha visto. Em cada olhar, cada gesto. Todos esses anos, ele ainda a amava e ela o amava tanto quanto.

– Então você já ganhou metade da batalha. E você ainda tem uma carta na manga. – Estefânia disse mais animada balançando as sobrancelhas.

– Carta na manga? – Gustavo perguntou confuso.

– Sim, a Dulce!

– Não seria errado usar a nossa filha nisso? – Ele levantou as sobrancelhas e Estefânia revirou os olhos.

– Na guerra e no amor vale tudo, primo. Converse com a Cecília, diga o que você sente e então, vá atrás da Teresa. Ela é a mulher que você ama. Se ela estiver chateada, dê o espaço que ela precisa, mas faça o que for preciso para você ser feliz.

Estefânia deu um abraço em Gustavo que não percebeu que precisava de um naquele momento. Ela o deixou ali pensando em toda aquela conversa que tiveram. Depois ele subiu para o quarto, exausto do dia. Ele já sabia o que tinha que fazer, faltava apenas o momento certo para isso.

Uma vez maisOnde histórias criam vida. Descubra agora