Capítulo 7

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      Segunda-feira chegou e Dulce Maria já estava no colégio novamente. Ela ainda estava chateada e muito brava com o pai por não ter deixado que ela visse a mãe depois do passeio no parque. Ela queria estar perto de Teresa para compensar todo o tempo perdido e sabia que o final de semana iria demorar a chegar.

– Então, Madre, estou indo para a cidade agora comprar umas coisas que estão faltando e volto mais tarde.

Dulce escutou Inácio falando com a Madre na sala dela e teve uma ideia. A menina u correndo para fora do colégio a procura do carro que Inácio iria para a cidade. Ela conseguiu facilmente entrar e, por ser pequena, se esconder atrás do banco do motorista.

      Inácio saiu do colégio e foi para a cidade sem perceber que Dulce Maria estava o tempo todo atrás do banco. Ele parou numa parte movimentada da cidade e a menina saiu do carro mais uma vez sem ser vista. Ela não fazia a menor ideia de onde estava, mas caminhou pela calçada até chegar numa praça onde crianças estavam brincando por ali. Dulce observou por mais uns minutos até que avistou um casal que estava sentado no banco da praça, observando atentamente as crianças correndo de um lado pro outro, provavelmente vendo seus filhos brincarem.

– Olá, será que vocês podem me ajudar?

Dulce Maria chegou próximo a eles que não perceberam a presença da menina até que ela interagiu com eles.

– Olá, criança, o que podemos fazer por você? – A moça disse simpática a ela.

– Eu preciso ir ao hospital. Vocês podem me dizer para que lado fica? – Dulce perguntou com jeitinho doce e eles observaram além dela.

– Você está aqui sozinha? Onde estão seus pais?

– Minha mãe está no hospital e eu preciso vê-la. Por favor, me levem até lá! – Dulce juntou as mãos pedindo por favor fazendo o melhor biquinho suplicante para eles.

– Você tem certeza disso?

– Sim piririm! Por favor, moça, eu só quero ver a minha mãezinha!

Dulce continuou pedindo e viu que o casal se olhar indeciso. Ela estava com medo de que eles pudessem negar ajuda a ela. Ela queria ir para o hospital mas não sabia para que lado ficava e precisava de ajuda. A única forma de não se perder na cidade era essa, mesmo que seu pai e sua tia Perucas dissessem que não era pra falar com estranhos na rua. Mas ela queria muito ver a sua mãe.

– Eu vou levar você até lá. Você deveria ir para casa, mas se sua mãe está no hospital, deve ter alguém com ela lá. Não é muito longe daqui. Venha!

A moça se levantou e segurou a mão de Dulce. Ela conseguiu fazer com que a mulher mais velha a levasse até o hospital de Doce Horizonte sem que fizesse perguntas que ela não poderia responder. Ela sabia que Teresa estava lá porque ouviu o pai dizer a Cecília que ela trabalhava com as crianças no hospital e esse era o único da cidade.

– Chegamos. Como é o nome da sua mãe? – A moça perguntou indo em direção à recepção com a menina.

– Teresa. – Dulce respondeu caminhando com ela. – Eu sei ir a partir daqui, mas muito obrigada pela ajuda, moça. Papai do céu vai te recompensar. – Dulce abraçou a mulher pelas pernas e ela sorriu para a menina.

– Você não deveria ter saído sozinha, sabia? Poderia ter acontecido alguma coisa com você. Aposto que seus pais estão preocupados, menina. Você promete que não vai fazer mais isso? Essa vai ser a minha recompensa. – A mulher se abaixou pra ficar na altura da criança.

– Prometo que juro. – Dulce cruzou os dedos sobre a boca.

– Aqui tem mais pessoas que podem te ajudar a chegar a sua mãe. Eu espero que ela melhore logo.

A mulher sorriu passando a mão no cabelo de Dulce Maria deixando a menina confusa enquanto ia embora pra voltar pra praça.

– Ué, mas ela não está doente. – Dulce disse pensativa e deu de ombros chegando até a mulher da recepção. – Oi, eu quero ver a Teresa.

– Teresa? Temos algumas pacientes chamadas Teresa aqui, docinho. Qual o sobrenome dela? – A recepcionista perguntou a ela.

– Não! A minha mãe trabalha aqui. Ela trabalha com as crianças. Ela se chama Teresa Rezende Lários.

Dulce respondeu sabendo exatamente o nome completo da mãe que era o mesmo que o seu. Ela jamais esqueceria desse detalhe. Ou de qualquer detalhe que envolvesse a mãe.

– Teresa Rezende? Você é filha da Teresa? – Outra mulher, que estava apoiada no balcão da recepção perguntou subitamente para Dulce María que a olhou com estranheza.

– Sou e você quem é?

– Me chamo Ana e trabalho com a Teresa. Venha, eu vou te levar até ela.

Dulce olhou para a mão estendida de Ana pensando se iria ou não. Ela já estava aqui e já tinha se arriscado com a moça da praça, porque não agora que estava tão perto de ver a mãe? A menina agarrou na mão de Ana que a levou até o elevador.

– Obrigada, Ana. – Dulce disse docemente e Ana sorriu.

– Eu não posso acreditar que a Teresa tem uma filha. – Ana divagou caminhando com Dulce Maria pelo corredor. – Sente-se aqui que eu vou chamá-la, tudo bem? – Ela mostrou um sofá a Dulce que ficava próximo de outra recepção. Ela já estava ficando cansada de tantas paradas. Queria ver sua mãe logo.

– Sim piririm.

Dulce sentou comportada no sofá que era enorme. Seus pezinhos estavam longe de tocar no chão quando ela conseguiu subir nele. Ana se apressou a procura de Teresa que estava conversando com uma das colegas de trabalho delas próximo da máquina de café.

– Teresa!

Teresa se virou assustada ao ouvir seu nome sendo dito de uma forma tão apressada.

– O que aconteceu para você estar tão agitada assim, Ana? – Ela levantou as sobrancelhas surpresa.

– Tem uma menina dizendo que é a sua filha e quer te... ver?

Ana disse se questionando sem saber o que dizer e apontou para trás. Teresa se inclinou para o lado e teve a visão completa de uma Dulce Maria sentada no sofá balançando as pernas.

– Dulce Maria!

Teresa disse espantada pela presença da menina e foi em sua direção, entregando o seu copo de café de qualquer jeito a Ana, deixando-a para trás surpresa que a amiga realmente reconhecia a criança.

– Mamãe!

Dulce pulou do sofá no momento em que ouviu a voz da mãe indo em sua  direção e as duas se abraçaram, com Teresa colocando ela no colo.

– O que você está fazendo aqui, minha carinha de anjo? Não era pra você estar no colégio? Quem te trouxe? – Teresa perguntou sentando no sofá e colocando a menina em pé na sua frente.

-

      Enquanto isso, no colégio, as irmãs e Cecília já tinham se dado conta de que Dulce Maria não estava em lugar nenhum do internato e a Madre ficava cada vez mais preocupada achando que alguém a tinha levado mais uma vez.

– Não é possível isso! Como essa menina pode não estar no colégio? Alguém entrou aqui? – Madre questionou as professoras.

– Não que eu tenha visto, Madre, ninguém veio aqui. – Irmã Fabiana respondeu.

– Dulce pode estar se escondendo em algum lugar. – Cecília disse para a Madre.

– Já reviramos esse colégio inteiro e ela não está! Eu vou ter que comunicar aos seus familiares. – A madre sentou em sua cadeira e começou a discar o número da casa dos Lários. – Essa menina não pode ter saído do colégio sem ninguém ter visto!

Cecília e Fabiana se olharam preocupadas. Cecília sabia que Dulce Maria estava em um momento difícil com Gustavo e quando ele soubesse de mais uma travessura da filha, iria ficar pra lá de furioso.

Uma vez maisOnde histórias criam vida. Descubra agora