Capítulo 3

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– Papi, essa brincadeira não é legal. Da última vez que fizeram isso, eu fui parar no hospital, lembra?

Sua voz saiu mais fina do que a de antes e ela abaixou a cabeça escondendo as lágrimas que brotaram em seus olhos.

– Você acha que seu pai brincaria com um assunto tão delicado dessa maneira com você, minha filha?

– Por quê você está dizendo isso agora? – Dulce voltou a olhá-lo com os olhos vermelhos. – Minha mãezinha está no céu e só aparece nos meus sonhos. – Dulce Maria limpou a bochecha das lágrimas teimosas que escaparam de seus olhos.

– Presta atenção, Dulce, a sua mãe está viva. Está viva e está com saudades de você. Ela quer te ver. Ela não morreu naquele acidente.

     Gustavo tentou mais uma vez e dessa vez, Dulce rompeu em um choro angustiado que fez o coração de Cecília apertar. Era o sonho de sua menina ter a sua mãe de volta.

– Dulce, escuta seu papai, se ele está dizendo que a sua mãe está viva, é porque ele sabe que é verdade.

     Gustavo olhou para Cecília que não o encarava de volta. Ela estava um pouco chateada com ele por não ter dito a ela antes de dizer a Dulce Maria, para que ela pudesse se preparar para esse momento. Ela se perguntava desde quando ele sabia que Teresa estava viva.

– Mas por que agora? Por quê só agora ela voltou, papi? Ela mentiu para nós? Não me queria mais? É isso, papi? A mamãe foi embora porque não me queria mais?

     Dulce fez diversas perguntas ao pai enquanto levantava da cadeira e se afastava dele e de Cecília. Sua cabecinha estava muito confusa. Ela queria tanto sua mãezinha de volta, mas por quê ela tinha ido embora e não tinha levado ela junto?

– Isso nunca, Dulce Maria. A mamãe te ama muito e ela jamais abandonaria você. Ela realmente sofreu aquele acidente, mas algo aconteceu no hospital e levaram ela sem que nos déssemos conta. Disseram que ela tinha morrido, mas na verdade, era outra pessoa no lugar dela. – Gustavo se aproximou da menina novamente.

– E por quê ela não voltou pra gente logo? – Dulce perguntou ainda desconfiada.

– Porque a mamãe ficou muito tempo dormindo e quando acordou, não lembrava como voltar para casa nem quem era. Ela precisou de um tempo para saber o que tinha acontecido e quando soube, não perdeu tempo em voltar.

     Dulce limpou as lágrimas e olhou pro pai séria.

– Eu só vou acreditar que a mamãe está viva quando eu a vir com meus próprios olhos. Não quero ser enganada de novo, papi.

– A gente pode falar com a Madre para liberar você para passar o final de semana com ela. Que tal? – Cecília interveio chegando perto dos dois.

– Não! Eu quero ver a mamãe hoje! Meu coração não vai aguentar esperar até o fim de semana, está muito longe. Por favor, papi, pede para ela vir aqui.

– Minha filha, a mamãe não sabe como chegar até aqui.

– Então vai buscar ela, ué.

     Dulce disse simplesmente e Gustavo olhou para Cecília. Ele sabia que não iria fazer a filha mudar de ideia. Quando Dulce Maria colocava algo na cabeça, ela ia até o fim. Esse era um assunto muito delicado. Era óbvio que Dulce Maria não iria esperar nem um minuto a mais pra ver a mãe com os próprios olhos.

– Eu vou ligar para ela e dizer que estou indo buscá-la para ela vir aqui, está bem?

     Dulce se jogou nos braços do pai e acenou animada. Gustavo a deixou sentada na cadeira e Cecília aproveitou para sair da sala junto com ele fechando a porta.

– Por que você não me disse que a Teresa estava viva e que tinha se encontrado com ela? – Cecília parou em frente a Gustavo e cruzou os braços chateada.

– Nem eu tinha me acostumado com a ideia de que ela estava aqui, Cecília. Ainda é novo para mim.

Ele pegou o telefone para ligar para Teresa.

– Eu poderia ter me preparado para esse momento com a Dulce Maria. Poderíamos ter falado com ela juntos!

Cecília sentiu um incômodo ao ver que ele já tinha o número da Teresa salvo em seu celular e não pode deixar de sentir uma pitada de ciúme.

– Me pergunto quando foi que isso aconteceu. Você já tem até o número dela salvo no celular!

– Você não vai sentir ciúme da Teresa agora, não é? – Gustavo parou o que estava fazendo e olhou para ela.

– Eu deveria? – Ela o encarou séria.

– Ela é a mãe da minha filha, Cecília! Eu não posso ignorar a existência dela!

– Tudo bem, Gustavo, faça o que você quiser. Você sempre faz, não é? Sempre decide as coisas sem me consultar!

     Cecília saiu chateada deixando Gustavo ali sozinho. Ele respirou fundo e voltou a mexer no celular a procura do número de Teresa. Naquele momento, havia algo mais importante para ele resolver do que discutir com a Cecília. A sua prioridade era sua filha, depois ele se resolvia com sua noiva.

      Por causa de sua pequena discussão com Gustavo, Cecília foi até a casa de Diana para desabafar. A notícia de que Teresa estava viva a pegou de surpresa e ela precisava de alguns conselhos para que pudesse enfrentar esse novo acontecimento na vida dos Lários. Ela estava praticamente em um campo minado agora e precisava pensar em como agir com tudo isso.

– Você só pode estar brincando comigo, Cecília. A Teresa viva? Eu não posso acreditar.

     Diana indagou surpresa depois que Cecília contou o que tinha acabado de acontecer na sala da Madre. Ela não teve oportunidade de conhecer a Teresa, mas sabia o sofrimento que a família Lários tinha passado com a sua perda.

– É, Diana. Nem em meus piores sonhos imaginei que isso pudesse acontecer.

– E o que você pretende fazer agora?

– O que eu posso fazer? Isso é um assunto entre os três. Eu não faço parte da família. – Cecília olhou para a xícara de café que estava em suas mãos.

– Ainda, Cecília. Lembre-se que você e o Gustavo estão prestes a se casar.

– É da Teresa que estamos falando, Diana. Sempre é um assunto que quando vem à tona, sinto como se estivesse vendo de fora. Só de ouvir o nome da mãe, Dulce Maria já tinha os olhos cheios de lágrimas.

     Cecília e Diana decidiram caminhar pela fazenda enquanto conversavam. Só assim para que ninguém pudesse ouvir o que era dito. Cecília tinha medo de que qualquer coisa que ela dissesse, chegasse aos ouvidos da Dulce Maria ou pior, do Gustavo.

– Eu entendo. Mas, quando você se casar com o Gustavo, você também fará parte disso. Vocês duas amam a Dulce e tenho certeza que farão qualquer coisa para que ela seja feliz.

     Cecília acenou sabendo que Diana estava certa. Ela faria qualquer coisa pela felicidade de sua pequena, mas ainda assim, não podia parar de sentir um mau pressentimento no peito.

– Eu não sei se o amor que o Gustavo sente por mim é maior que a saudade que ele sente pela Teresa.

Uma vez maisOnde histórias criam vida. Descubra agora