Capítulo 16

902 50 17
                                    

      No outro dia, Estefânia chegou cedo a cobertura a procura de notícias de Dulce Maria. Ela encontrou Gustavo sentado à mesa tomando café e um outro lugar pronto ao seu lado, que ele esperava que fosse da Teresa.

– Bom dia, primo.

Estefânia sentou nesse lugar e Gustavo a olhou estranho por ela ter sentado justamente no lugar que ele tinha guardado para Teresa. – Como a minha bonequinha está? – Ela perguntou se servindo sem prestar atenção no olhar que o primo tinha.

– Melhor depois que Teresa chegou.

– Que bom que ela esteve aqui.

– Ela ainda está.

– Ela dormiu aqui? – Estefânia parou o que estava fazendo olhando pra ele surpresa.

– Sim. Estava tarde para ela ir embora e eu pedi que ela ficasse. Ainda deve estar dormindo, ontem ela teve um pesadelo.

– Pesadelo?

– Do acidente. – Ele disse com cautela, sem mencionar, claro, o beijo que trocaram depois disso porque não era da conta dela.

– Eu não posso imaginar a dimensão das cicatrizes psicológicas que ela deve ter.

– Nem eu. E olha que eu já passei por isso.

– Você já falou com ela? – Gustavo balançou a cabeça negando. – Não protele isso. Vocês merecem ser felizes e a Dulce merece ter a mãe dela de volta. – Estefânia o aconselhou mais uma vez.

– Não é fácil, mas sei que vai valer a pena. – Ele deu um pequeno sorriso a ela com uma pitada de ilusão brilhando em seus olhos. – Eu vou precisar ir na farmácia comprar um remédio para Dulce que o médico receitou e daqui a pouco eu volto.

Gustavo levantou da mesa percebendo que Teresa não iria aparecer, talvez porque não quisesse estar sozinha com ele depois da noite anterior e beijou a bochecha de Estefânia saindo de casa. Pouco tempo depois, Estefânia escutou Teresa descer as escadas.

– Bom dia, Teresa!

Estefânia a saudou calorosamente, mas ainda desacostumada a poder vê-la novamente. Havia algo diferente que gritava nela, mas Estefânia não podia culpa-la. Teresa ainda era a mesma mulher que ela tinha como amiga mais próxima. Uma mulher gentil e bondosa, que amava o seu primo e sua bonequinha linda.

– Bom dia, Estefânia.

– Sente-se. Tome café comigo. Gustavo acabou de sair para ir na farmácia. – Estefânia apontou para o lugar  que Gustavo estava sentado antes.

– Acabei de vir do quarto da Dulce, ela ainda está dormindo, mas já está com uma corzinha melhor. – Teresa se serviu do suco.

– Que noticia ótima! Eu sabia que a minha bonequinha logo iria ficar boa.  

– Eu não vou demorar muito para ir. Assim que Dulce acordar, me despeço dela.

– Não se preocupe com isso, Teresa. Tome café. Você já está aqui de qualquer forma, não precisa correr.

Teresa aceitou e começou a tomar café da manhã. Estava com fome de verdade. Ainda era um pouco estranho a presença dela ali, mas Estefânia começou a conversar sobre assuntos que não a deixassem mais desconfortável do que deveria estar.

– Bom, já terminei, vou ver a Dulce e arrumar minhas coisas. – Teresa disse se levantando da mesa.

– Por que você não fica?

Estefânia perguntou e Teresa levantou as sobrancelhas para ela em duvida se realmente entendeu o sentido da pergunta. O Gustavo tinha feito a mesma pergunta no dia anterior e ela viu o que tinha acontecido por ter aceitado.

– Você está falando sério? – Teresa perguntou inclinando a cabeça pro lado.

– Sim. Estou falando sério. Sua família está aqui.

– Você acha que eu simplesmente posso ficar nesse momento? A minha família agora é a Dulce. Tanto quanto eu sei, Gustavo ainda está noivo. Eu não posso simplesmente fingir que isso não me atinge, Estefânia! – Teresa respondeu com raiva sem conseguir reprimir o que estava sentindo. Ela estava ficando sufocada de ter que fingir que estava tudo bem. Será que ninguém percebia que toda aquela situação a estava matando?

– Teresa. – Estefânia segurou a mão dela para que ela não fugisse. – Eu sei que você está machucada...

– Eu voltei para encontrá-lo prestes a se casar com outra pessoa. Doeu muito, ainda dói, Estefânia. Só de saber que ele ama outra, me deixa completamente... – Teresa respirou fundo sem terminar o que ia falar. – Eu não posso...

– Não pode o que? Perdoá-lo?

– Não. Ainda não. – Teresa respondeu honestamente e Estefânia apertou sua mão em compreensão.

– Eu não estou dizendo para você esquecer disso. Eu estou dizendo que você tem pessoas que te amam aqui. Uma pequena que quer você desesperadamente de volta em sua vida. E quanto ao Gustavo, eu sei que você está magoada com ele, mas não esqueça que ele passou dois anos sofrendo a sua perda e lutando para seguir em frente. E quando você voltou, o que ele fez? Colocou toda sua vida em segundo plano e esteve com você todos os dias das últimas três semanas. Ele te ama, Teresa! Mais do que ele amou qualquer outra mulher.

– Mas ele ainda está com ela. – Ela disse baixinho dolorosamente.

– Você acha que esse noivado vai durar, Teresa? Seja sincera. Você é inteligente. É impossível não ver como o Gustavo te olha. Todo mundo vê, até mesmo a Cecília!

– Eu ainda não sei se estou bem e eu não quero machucar a Dulce Maria. – O pesadelo ainda ecoava na sua mente.

– Se você precisa de tempo, tudo bem. Mas lembre-se do quanto vocês já perderam. Essa família te ama. Você faz parte dela.

Estefânia soltou a mão de Teresa dando a entender que ela tinha acabado. Era a vez da Teresa decidir o que tinha que fazer a partir dali. Momentos depois, as duas mulheres escutaram a voz de Dulce chamando e Teresa levantou da mesa.

– Eu vou vê-la. – Ela foi subindo as escadas, mas parou no meio dela. – Obrigada, Estefânia.

Teresa voltou a subir quando escutou Dulce chamar mais uma vez, deixando Estefânia pensando que Gustavo tinha logo que resolver esse assunto porque definitivamente Teresa precisava da família de volta e a família precisava dela.

Uma vez maisOnde histórias criam vida. Descubra agora