Capítulo 8

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Luna

1 mês depois


"Sim, é difícil" respondo a pergunta que eu fiz a mim mesma um mês atrás. Como achei que poderia simplesmente fingir que nada aconteceu?

Nos primeiros dias foi esquisito. Foi estranho ver ele depois do que fizemos no meu apartamento e ainda sinto um pouco de enjoo quando vejo meu pai sentado naquela poltrona. Quanto a minha mãe, ela nem para mais em casa. Ela vai pro plantão e volta de madrugada, depois sai de novo. Eu nem sei mais o que é receber um abraço dela ou um "boa noite". Meu pai toma café da manhã, me leva pra escola e janta comigo quando pode.

Na segunda semana foi ficando menos esquisito encontrar o Theo no corredor. Ele já tinha parado de dar aqueles leves sorrisos quando me via e nem me dá mais "oi".

Nós nos víamos nas aulas de literatura ou de fotografia, mas raramente sentávamos perto um do outro. Eu nem sabia que ele gostava de fotografia. Fiquei feliz por um momento, mas não durou muito, já que ele saiu das aulas de fotografia na terceira semana do mês.

Na quarta semana fiquei sabendo que ele tinha ficado com uma garota em uma festa. Não faço a mínima ideia se esse "ficar" que me disseram quer dizer algo a mais ou se foram só uns beijos. E não é da minha conta mesmo. Não posso ficar magoada, eu que pedi pra ele se afastar.

E aqui estou eu. Um mês e alguns dias depois. Arrumando a minha mala para a viagem da escola, por causa dos vestibulares e de termos que ter foco total, a viagem vai ser mais cedo esse ano. Esse ano estamos indo para fora do país, vamos para Nova York. Claro que a escola não vai pagar, os pais é que vão. E, obviamente, os pais querem uma folga dos seus filhos, por isso assinam e pagam sem pensar duas vezes. Eu já conheci aquela cidade quando tinha uns onze anos, mas nem me lembro de tudo.

Nós vamos ficar seis dias e vamos vir embora no sétimo, que não contarão como falta no sistema da escola. O hotel que vamos ficar é em Manhattan, mas teremos livre arbítrio pra andar por toda a cidade, contanto que voltemos pro hotel antes das dez da noite, uma regra que foi criada pra ninguém ir pra casas noturnas, baladas, pubs e bares. Mas nem conseguiríamos entrar mesmo, já que a maioria dos bares noturnos de lá você precisa ter mais de vinte e um anos para entrar.

Exagero é pouco quando eu digo que meus pais me deram 900 dólares para usar lá e mais 200 de emergência, ao todo 1100 dólares, que correspondem a 4.265, 25 reais brasileiros. Além disso, minha mãe fez a minha mala (não me pergunte por que, eu sei fazer a minha mala sozinha) pelo menos foi um tempo que passamos juntas. Ela até colocou itens importantes como absorventes, remédios e um canivete (sim, um canivete, acho que pra eu me proteger de alguém que queira me machucar, espero não ter que usá-lo). O problema é que ela colocou muitas roupas e sapatos e estava sempre repetindo que no começo de março fazia muito frio e às vezes até nevava, já que a primavera só começa a chegar no final de março em Nova York. Junto com a mala ela colocou mais dinheiro extra, já que com todo aquele peso eu certamente teria que pegar uma taxa extra no aeroporto por estar carregando aquele troço que minha mãe chama de mala. Eu chamo de levar um elefante ilegalmente pra outro país. Por sorte a mala tem rodinhas, espero que elas não quebrem. A pior parte foi quando ela colocou camisinhas no fundo da mala mesmo eu dizendo que não faço essas coisas. Ela não acreditou muito.

Eu fiz uma mala de mão. Uma mochila pequena com algumas coisas básicas que eu precisaria no aeroporto ou no voo. Também coloquei as passagens e quando fui conferir se estavam lá, adivinhem o que eu encontrei? Sim, dinheiro. Olhei feio pro meu pai e ele disse que era pra eu comprar algo no aeroporto, pelo menos eram cento e cinquenta reais, e não dólares.

Minha mãe e meu pai foram me deixar no aeroporto. Saímos de casa duas da madrugada, já que meu voo é as quatro e meia, e a diretora disse que deveríamos estar lá até três da madrugada pra ninguém se atrasar. O caminho foi meio estressante, eu estava muito ansiosa, sempre fico assim em todas as viagens, apresentações de balé e provas.

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