Capítulo 26

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2 semanas depois...

Luna

Na minha escola temos férias de três meses. Não três meses diretos, obviamente. Não somos americanos. Temos um mês de férias em julho, e dois meses no final do ano, dezembro e janeiro. E hoje, dia 30 de junho, exatamente duas semanas depois do dia em que ajudei a Clara a contar sobre a Lorena para os pais, hoje, estamos entrando de férias (mas a escola chama de recesso de inverno, já que as aulas voltam dia 1 de agosto).

Naquele domingo, a Clara foi pro meu apartamento, e depois de explicar a situação para os meus pais, eles deixaram que ela ficasse lá. Ela "morou" comigo durante uma semana. Na outra semana, os pais dela pediram desculpas, principalmente a mãe dela, e tudo "se resolveu". A mãe dela ainda se mostra ser meio homofóbica, e o pai se permanece neutro nessa história.

Eu tive que comprar um fichário pra colocar todos os exercícios, provas antigas e questões elaboradas por sites, que tem relação com os vestibulares que eu vou fazer no fim do ano. Estive estudando bastante, e não saí pra mais nenhuma festa nesses dois fins de semana, e acho que nem pretendo sair de novo tão cedo.

Eu e o Matheus estamos próximos, como amigos, ele tem me ajudado com matemática e física, e eu o empresto livros de vestibulares que ele não tem. Falando em livros, eu consegui uma carteirinha de desconto na livraria do shopping, aquela que tem a cafeteria dentro. Se eu comprar dois livros, posso escolher um café de qualquer sabor ou tamanho, algo que tem ajudado muito, já que eu tenho ficado acordada até mais tarde estudando para as provas da escola e para as provas das faculdades que eu vou tentar entrar. Fico aliviada que minhas notas na escola não caíram nem um pouco, talvez alguma faculdade avalie isso.

Agora, tenho que atualizar vocês sobre eu e o Theo. Nós estamos bem. Nos vemos na escola, no centro quando eu vou pra aula de balé e ele vai pra academia, e nos falamos por mensagem. Claro que não dá pra ficar até mais tarde conversando, ou eu não conseguiria estudar nada. Mas nos falamos por FaceTime, assim eu posso falar com ele e ver seu rosto, e não só ficar trocando textos. Parece ridículo quando eu digo, é como se fôssemos um casal a distância, como se estivéssemos em países diferentes, mas estamos na mesma cidade e na mesma escola.

Na realidade, eu me sinto como se estivesse em outra dimensão, estou sempre pensando em diversas coisas como "será que terei concorrentes que estudam tanto quanto eu?", "o que meus pais vão falar se eu não passar no vestibular?", e principalmente, "meu Deus, a prova do ENEM vai ser cansativa pra caramba, como eu vou me preparar pra isso?". A minha sorte é que eu vou tentar entrar na USP pela prova da Fuvest, mas ainda preciso da nota do ENEM, pra se eu não entrar na que eu planejo, pelo menos terei a nota dessa prova pra tentar entrar em outras faculdades.

Basicamente, minha mente está focada nisso, e me sinto (em parte) orgulhosa por isso. Mas também sinto como se estivesse perdendo parte da minha vida, algo que soa muito clichê, mas acaba sendo verdade. E não estou me referindo à festas do terceiro ano, viagens, ou até mesmo à festa junina, eu não ligo de perder essas coisas, eu literalmente passei anos da minha vida, desde o jardim de infância até o ano passado, participando de eventos da escola. O que eu estou dizendo, é que sinto como se estivesse perdendo o Theo, perdendo a chance de me relacionar com um garoto que realmente gosta de mim. Estou perdendo uma parte importante da minha adolescência, é assim que me sinto.

Mas parece que vou continuar me sentindo assim, porque eu não pretendo estudar menos ou me distrair. Eu quero entrar na faculdade dos meus sonhos por puro mérito, quero realmente merecer isso. Não quero alguém me dizendo no futuro que eu só consegui entrar nessa faculdade porque estudei a vida inteira em escola particular ou porque tenho pais com uma boa condição financeira.

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