Capítulo 15

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Luna

Eu achei que o conhecia. Achei que sabia pelo menos um pouco de como ele é. Mas nunca pensei que ele fosse capaz de fazer isso com alguém. Me deu nojo imaginar ele estuprando uma garota. Eu senti nojo de mim mesma por ter tocado nele daquele jeito na cama dele. Eu senti medo, no mesmo instante que entendi o que ele estava me contando, eu senti medo de ficar perto dele. Senti medo e nojo de alguém que a minutos atrás eu me sentia em segurança e conforto.

O motorista do uber ficou preocupado quando eu entrei no carro dele chorando daquele jeito. Eu disse que não precisava se preocupar, que eu estava tendo um dia difícil, mas que eu estava bem. Não tinha como eu falar a verdade e dizer "meu namorado não assumido acabou de me contar que estuprou uma garota ano passado".

Ironicamente, começou a chover, deixando a minha cena de chorar olhando pra janela, mais dramática ainda. Seco as lágrimas e reviro a minha bolsa. Pego o dinheiro e a chave do apartamento. 

Saio do carro depois de agradecer e pagar o moço, mas antes que eu entrasse no prédio, ele me chama e eu volto achando que esqueci alguma coisa.

-Eu esqueci algo? -pergunto contendo minhas lágrimas.

-Não, eu só queria dizer que quem é que tenha te feito chorar assim, não merece nenhuma lágrima sua, você parece ser uma moça muito legal e educada. Sem querer ser intrometido.

-Ah, muito obrigada, senhor -eu dou o meu melhor sorriso naquele momento e ele sorri de volta.

Fiquei feliz com as palavras dele, ele parecia realmente estar se importando. Acho que esse foi o conselho mais aleatório que eu já recebi, por ser de alguém que eu não conheço, mas ajudou.

Agradeci ele mais uma vez e entrei no prédio. Forcei um sorriso ao passar pelo porteiro e desmoronei quando cheguei no elevador. Por que eu estou chorando tanto?

Devo ter demorado uns cinco minutos pra conseguir colocar a chave na porta. Meu olho estava embaçado por causa das lágrimas e eu não conseguia encaixar a chave.

Abro a porta e dou de cara com a minha mãe passando pela sala de roupão e com uma caneca na mão.

-Finalmente, né Luna.

-Bom dia, mãe -passo por ela.

-Onde seu pai estava com a cabeça quando ele te deixou dormir na casa de um garoto?

-Também não sei -digo sem olhar pra ela e vou pra escada.

-O que você tem?

-Só um pouco de dor de cabeça -digo já no topo da escada e abro a porta do meu quarto.

Jogo minha bolsa na cama e me jogo também.

Ignorei todas as vezes que ele me ligou mais tarde. Não queria falar com ele, não enquanto eu vou ficar imaginando a cena na minha cabeça enquanto ele diz algo.

Como alguém pode ser tão cruel, ignorante, nojento, idiota, desrespeitoso, filho da puta e babaca a ponto de estuprar alguém? Eu sei que infelizmente é algo com que convivemos, mas não é normal, e é assustador ver de perto.

Como eu vou agir normalmente perto dele se agora quando eu penso nele, só me vem à cabeça que eu estou falando com um estuprador ou que eu posso ser a próxima? Acho que eu preferiria não saber dessa história.

Quando já eram duas da tarde, decido me recompor e sair da cama.Seco minhas lágrimas e vou pro banheiro tomar um banho pra ver se relaxo um pouco ou se me deixa com sono, porque sinceramente, é mais fácil dormir do que ficar acordada e pensando nessas coisas.

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