Sexta-feira - 12:30 hrs
Finalmente o último dia de provas. Ethan jamais imaginaria que apenas uma semana teria o poder de lhe fazer envelhecer o equivalente há dez anos. Nunca tinha estudado tanto para provas como o tinha feito na semana que estava terminando. Sentia-se como um velho de oitenta anos, suas articulações doíam de ficar por quatro horas consecutivas sentado na mesma posição e suas mãos não queriam mexer, por ele ter segurado uma caneta por tanto tempo.
Honestamente, o garoto pensou que toda aquela agitação era apenas uma bobagem de alunos com medo de levar um boletim vermelho para casa, mas o sistema daquele colégio não era um sistema normal, era demoníaco e criado para deteriorar a mente. A pressão psicológica era tanta que mesmo a pessoa mais forte e controlada se sentia desesperada se não conseguisse uma boa nota. Era tão macabro que o medo da bronca dos pais nem mesmo se comparava ao horror de tirar notas vermelhas, não por medo do castigo, mas com medo de... Nem mesmo sabia de quê, mas sabia que era aterrorizante. Ele entendia completamente Willian agora e até simpatizava com o pobre garoto.
Falando em pais, ele estava um tanto abatido nos últimos dias, se sentia irritadiço e frágil. Havia recebido uma ligação de sua mãe na quarta onde ela falou que estaria se mudando de vez para outro país para dar prosseguimento ao seu tratamento e dessa vez sem data para retorno. Ela não parecia feliz em dar a notícia, mas não disse mais do que o necessário.
Aquilo tinha lhe feito perder o foco e ele se arrependida amargamente disso. Preferia que ela não tivesse lhe avisado naquele momento. Só de imaginar ter que lidar com seu pai sem ela para intervir ficava com dor de cabeça. Mais ainda.
A sua última prova tinha sido toda a base do chute e ele sabia que tinha tirado uma nota vermelha ao olhar para suas respostas, suspirou e entregou a folha para o garoto que estava recolhendo os gabaritos e baixou a cabeça. Teria que passar as férias estudando nas aulas suplementares para as recuperações. E aquilo era o mesmo que tortura.Ele estava até assustado consigo mesmo, estava muito preocupado com notas que jamais lhe importara antes, mas algo ainda mais incômodo que um boletim vermelho estava cutucando o fundo de seu cérebro e era o fato de que Willian parecia realmente a ponto de colapsar, ele passava seus dias literalmente na escola. Não no dormitório, mas na escola em si.
Às sete horas ele ia para a sala do conselho, as oito começavam as provas que iam até o meio-dia; e enquanto todos iam almoçar ele ficava para organizar as provas e dá-las aos professores. Fora a preocupação de suas próprias provas, pois como estava em uma turma avançada e era um formando a pressão era um pouco maior, tipo esmagadoramente maior. Eles tinham apenas duas aulas juntos, mas não eram da mesma série, só aconteceu de terem a mesma matéria e de Ethan ter que ficar na turma avançada por não haver mais vagas para as turmas normais, por conta da sua matrícula tardia.
Willian comia rapidamente — quando comia — e depois voltava correndo para a prática do basquete, afinal depois das provas do final do ano começava a temporada de inverno, que para ele que estava no terceiro ano, era a última. Depois ele tomava um banho rápido e voltava para a escola, indo para a biblioteca estudar.
Não que Ethan ficasse lhe bisbilhotando ou seguindo, mas de vez em quando via, apenas de relance, a hora que ele voltava para seu quarto e nunca era antes das onze. Estava com uma aparência bem mau, parecia estar mais magro ainda e seus cabelos estavam mais compridos também e aquilo, de certa forma, lhe assustava, afinal aquela imagem não combinava em nada com o garoto perfeito e cintilante que ele lembrava.
Porém mesmo cansado, Willian ainda insistia em forçar seu sorriso Colgate e dizer que estava tudo bem, mesmo que ao falar aquela frase, Ethan soubesse que não era verdade. Sempre que lhe olhava sentia seu coração encolher, talvez por já conhecê-lo um pouco melhor e saber que por trás daquela máscara ele estava a ponto de desabar. Podia ver em seus olhos, que emanavam aquela aura tão melancólica e fora do ar, como se já estivesse vivendo somente com o poder da mente, porque seu corpo já havia desistido.