38 - O Encanto dos Pequenos Gestos

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Aaah... será que ele estava morto? Se não, queria estar!

Willian sentia seu corpo como se pesasse toneladas, doía tanto que não conseguia dizer ao certo onde doía, suas pálpebras estavam ainda mais pesadas que o resto e se recusavam a abrir, mesmo ouvindo o som da voz de Ethan lhe chamando ao longe. Sentia sua garganta fechar aos poucos e engolir saliva era como tentar engolir pequenas pedrinhas de areia. Como podia ser tão patético?

Estava tão animado na noite passada e agora definhava na cama sem sequer conseguir acordar de seu sono. Não sabia que a exaustão que acumulara durante aquela semana era tão séria, mas parando para pensar, o mês que tinha passado havia sido um mês e tanto e com o acréscimo das provas, as atividades dos clubes, os treinos intensos, preocupação com o vestibular que iria prestar e a noite passada, as coisas tinham acabado ficando feias.

Ah, a noite passada... Ele ainda não acreditava que tinha mesmo ouvido a tão esperada frase sair da boca de Ethan espontaneamente —  queria ter gravado aquilo, seria seu despertador todos os dias. Sentiu as mãos do garoto encostarem em seu rosto, já até conseguia imaginar sua tão familiar cara de tédio se transformando em uma cara de preocupação. Ele era realmente fofo quando ficava preocupado ou com raiva.

Quando finalmente conseguiu obrigar seus olhos a se abrirem encontrou um Ethan muito pálido sentado na ponta da cama segurando o celular nas mãos trêmulas, ele estava de costas e não lhe viu acordar, então aproveitou para apreciar sua silhueta esbelta ali de frente para a janela aberta que vomitava a luz pálida da manhã para dentro do quarto o iluminando. Luz de um sol que lutava por seu espaço em um céu que insistia em ser enfeitado por nuvens negras e ameaçadoramente pesadas. Dezembro tinha finalmente chegado, trazendo consigo um rigoroso inverno.

Ethan parecia como um ser mitológico das pinturas que sua avó possuía. A forma como a luz natural batia nele o fazendo parecer estar brilhando, seus cabelos caindo por suas costas eram tão belos e a luz os dava a impressão de estarem acesos. Sorriu pensando que não queria que ele se afastasse nunca e que faria qualquer coisa para tê-lo ao seu lado. Enquanto o apreciava em silêncio o garoto virou-se para olhá-lo com olhos vermelhos de choro, lhe fazendo se perguntar preocupado o que teria acontecido — e ao vê-lo acordado levantou-se de um salto deixando o celular cair no chão com estrépito, então engoliu em seco; sua expressão de preocupação se transformando em raiva. Ele usava apenas uma calça de pijama que pegara emprestado na outra noite, o que impedia Willian de se concentrar em seu rosto.

— Seu... filho da puta, você... — ele apanhou um travesseiro e o jogou nele com raiva, parecia realmente consternado — Por que diabos você não acordou até agora? Isso era pra ser uma brincadeira? Foi uma piada, é isso? Se isso foi uma brincadeira sua, Willian, não foi nem um pouco engraçado! — ele falava parecendo realmente desesperado, as lágrimas começavam a aflorar novamente em seus olhos os fazendo cintilarem, o que lhe surpreendeu, afinal não estava esperando aquele tipo de reação. Tinha sido assim tão mau ele ter dormido até um pouco mais tarde?

Ethan agora estava com os olhos vermelhos e as bochechas rosadas, respirava pesadamente e tremia. Willian sentou-se com dificuldade na cama franzindo as sobrancelhas com desgosto e dor, estava completamente surpreso, definitivamente não entendia o que estava acontecendo. Pôs as pernas para fora do colchão firmando os pés no chão, mas não conseguiu se por de pé. Suas pernas estavam trêmulas e sem força, suas costas e braços doíam horrivelmente e sua cabeça pulsava. Abriu a boca percebendo que esta estava completamente seca, limpou a garganta sentindo-a arranhar suas cordas vocais e forçou a voz tentando falar, mas parecia fazer anos que não a usava e esta saiu rasgando seu caminho, falhada e áspera aos ouvidos.

— Me desculpe, seja lá o que eu fiz! Eu não estava brincando com você... juro que não foi uma brincadeira, Ethan! — sua voz pareceu estranha até mesmo para si, mas não podia fazer nada sobre aquilo, só sabia que queria muito beber um pouco d'água. O garoto por sua vez, o encarou erguendo as sobrancelhas quase até a linha do coro cabeludo e então aproximou-se sentando ao seu lado, seus olhos pareciam preocupados novamente, e também curiosos.

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