41 - Ecos de Paixão

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Para uma noite que prometia ser tão perfeita, as coisas haviam caminhado terrivelmente mal e agora parecia uma eternidade que não passaria nunca, era como se aquela situação ridícula e assustadora houvesse congelado lhe aprisionando dentro daquele terrível momento. Willian encarava à frete com olhos vidrados sem realmente ver enquanto os ecos sinistros dos passos iam ficando cada vez mais inaudíveis até finalmente desaparecer junto com a única pessoa que podia lhe trazer alguma paz e consolo.

Ele permanecia estático, pois parecia impossível para o seu corpo responder, tamanho era o choque de ouvir tais palavras cruéis daquela maldita mulher, choque que nem mesmo ele havia percebido que havia sido tão impactante. Ele agora olhava com olhos perdidos para o lugar onde a apenas um momento atrás Ethan havia estado. O garoto jamais antes havia ouvido o silêncio e agora que podia ouvi-lo sentia que podia chorar a qualquer momento; as batidas de seu coração ressoavam terrivelmente altas e seu sangue rugia forte em seus ouvidos. Nunca antes tivera a companhia terrivelmente próxima do silêncio, então não havia experimentado ainda o quão aterrador seus sussurros podiam ser, até aquele momento.

Após Ethan sair correndo do carro lhe deixando sozinho, ele, que era a única pessoa que pensou que ficaria ao seu lado, o silêncio que se seguiu foi o mais perturbador que já presenciara. Seu eco ribombava pelas paredes do carro que lhe aprisionava, se desenrolando e lhe envolvendo como fumaça, lhe sufocando, deixando nítido o quão pequeno o espaço em que estava era e o quão grande era o espaço que pensou já não existir entre ele e Ethan. Estava tão estagnado que sequer conseguia pensar ou sentir algo. Agora os vidros escuros bloqueavam qualquer tentativa que as luzes ao redor faziam para entrar. O carro em si parecia muito frio e solitário, até pequeno demais. O sangue insistia em rugir em seus ouvidos como um rio e sua respiração estava descompassada. Sequer percebeu que estava tendo um ataque de ansiedade em seu estado atual.

O garoto fechou os olhos lembrando da expressão de ódio no rosto da mãe ao lhe mandar terminar seu relacionamento com Ethan e também da expressão de medo no rosto do garoto e sentiu o ar faltar nos pulmões. Finalmente entendera o porquê de Matthew parecer tão perturbado, mas não conseguia perdoar o garoto, ele podia simplesmente ter lhe dito sem todos aqueles rodeios idiotas. Se assustou quando sentiu um pingo cair em sua mão, que estava repousada em suas pernas, levou esta até o rosto e tocou a bochecha esquerda percebendo em choque que estava chorando. 

Willian jamais havia se sentido tão pequeno, tão inútil e impotente como se sentia naquele momento. Nunca se considerara uma pessoa sem confiança ou covarde, então o medo propriamente dito nunca havia sido um problema seu e o desconhecimento desse sentimento o tornou ainda mais terrível. O pavor veio em espasmos, lhe tirando o ar e lhe arrancando soluços, de repente se sentia muito sozinho, como se fosse a única pessoa deixada para trás nesse mundo, como se a esperança houvesse se extinguido, como se jamais fosse ser feliz. Willian pela primeira vez em muito tempo se encolheu levando os joelhos até o peito, abraçando a si mesmo e chorando como uma criança pequena, olhou para fora e não havia nada, nem pessoas, nem ruídos, apenas silêncio e este não era conforto, não era calmaria e nem era paz.

Com um respirar fundo, ele engoliu em seco e saiu de seu carro, suas pernas haviam perdido as forças por algum motivo. Aquela sensação de que algo realmente ruim aconteceria não lhe deixava, aquela perturbação, uma ansiedade terrível, como alguém que espera uma catástrofe acontecer, mas sabe que não pode salvar ninguém, nem a si mesmo, aquela era a sensação que lhe consumia. Saiu do estacionamento rapidamente e meio desnorteado; queria desesperadamente ver Ethan, mas não podia pedi-lo para ficar quando sabia que não era justo pedi-lo algo assim. Nem mesmo ele queria ficar, se pudesse fugir, fugiria.

Tropeçou uma vez, mas conseguiu se equilibrar e por milagre — ou sorte, não sabia ao certo —, conseguiu chegar ao dormitório sem que suas pernas desistissem. Olhou ao redor e tudo estava como sempre, apenas mais escuro que o normal. O garoto suspirou vendo sua respiração se condensar e engoliu em seco quando uma segunda nuvem branca se formou por trás de uma das poltronas indicando que mais alguém estava ali. Arrumou a postura e se aproximou, a raiva de repete se fazendo presente, queimando em sua garganta. Não sabia o porquê, mas tinha a certeza dentro de si de que aquela pessoa sentada, solitária em seus pensamentos naquela sala inundada de escuridão, era Matthew e aquilo lhe enchia de uma raiva repleta de ressentimento.

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