04:36 da manhã, Segunda-feira
Os ponteiros do relógio pareciam não sair do lugar, as horas se arrastavam lentamente e o dia parecia mais longo que qualquer outro. A chuva caía fina e gélida embaçando a janela do quarto de Willian, assim como suas emoções e pensamentos embaçavam sua mente. O garoto olhava para além do vidro, para a paisagem escura lá fora, sem realmente ver alguma coisa. Aquele era o dia em que voltaria para o colégio e não via à hora de poder voltar, sua insônia era prova da sua impaciência. Ele tinha permanecido ali a pedido do avô, mas mesmo que Ethan tivesse partido há apenas vinte e quatro horas, não conseguiu tirá-lo da cabeça por um segundo sequer. E agora ainda tinha seu irmão para se preocupar, pois tinha sido ele a levar Ethan embora. Ele se recusou a lhe falar sobre a viagem e tão pouco disse o porquê de estar levando suas coisas para aquelas bandas. Não conseguia acreditar que o garoto estava se transferindo para a faculdade do St. Louis, aquilo já era demais. Por quanto tempo Matthew pretendia lhe perseguir e bagunçar sua vida?
Depois que seu avô lhe disse que ele pretendia ir para a cidade estudar, Willian tentou questioná-lo sobre a faculdade, mas o garoto não lhe disse nada. Apenas lhe ignorou como se ele fosse um irritante mosquito que fazia barulho em seu ouvido. E no final se irritou e o expulsou de seu quarto. Willian por sua vez, não pôde fazer nada, já que o quarto era do garoto e não era dentro da casa de seu avô para usar aquilo como argumento válido.
Certo, Matthew iria frequentar a faculdade e seus horários seriam diferentes, bem mais puxados que os do colégio, mas apesar da faculdade não ser na mesma Ala, os prédios ficavam a menos de cem metros um do outro e os dormitórios eram juntos, por isso os alunos da faculdade tinham total acesso ao colégio, e não podia ignorar o fato de que estava falando de Matthew, que sempre arrumava uma forma de mexer com ele.
Willian virou e desvirou na cama sem conseguir pregar os olhos por um minuto sequer, sentia seu corpo pesar e a cabeça doer, o sentimento de perda lhe consumia a cada segundo que passava, o barulho dos ponteiros do relógio pareciam algum tipo de punição infantil, lhe mostrando que não podia fazer nada a não ser esperar, o que não era exatamente confortável de se fazer no momento. Sua mente continuava voltando aquela noite. Maldita hora em que perdeu a cabeça e agiu como um idiota infantil.
Assustou-se quando seu celular tocou indicando uma nova mensagem, tinha esquecido que havia ligado seus dados celulares mais cedo, mas não estava imaginando que ia realmente funcionar, afinal desde que havia chegado ali continuava sem sinal. Por vezes tentara ligar para Ethan, mandar mensagens ou mesmo ver suas redes sociais para ver se ele havia postado algo sobre seu paradeiro, porém nada havia funcionado. Nem mesmo subir no teto da casa ou ir para o observatório e quase cair no abismo tentando encontrar rede, funcionou. Ao olhar para a tela, porém, Willian revirou os olhos exasperado. Após tantas tentativas e a primeira pessoa que lhe contatava era Érika? O que diabos ela queria uma hora daquela era um mistério.
Érika : Qual o problema? Pq ñ atende minhas ligações nem responde minhas mensagens? Eu sei q ñ somos mais namorados, mas pensei q vc tinha dito q ainda seríamos amigos!! Ah é, o q tá acontecendo? Pq vi o Matthew aqui mais cedo? Acho bom vc me responder e espero q vcs n tenham feito nenhuma merda, entendeu?
Willian realmente não entendia aquela garota, ela tinha feito uma confusão tão grande sobre aquele papo de namoro e agora agia como se já houvesse superado tudo. Não estava reclamando, mas não podia evitar se sentir estranho sobre isso. Abriu o WhatsApp, e, claro, ela estava online, abriu a conversa e encarou a tela por um momento se sentindo estranho. Já fazia quanto tempo que não fazia aquilo?
Will: O q vc quer?
Érika: O q quer dizer? Estou preocupada...